O Instituto Sprinkler Brasil (ISB), organização sem fins lucrativos que tem como missão difundir o uso de sprinklers nos sistemas de prevenção e combate a incêndios em instalações industriais e comerciais no país, realizou um levantamento que apontou que as notícias de incêndios estruturais aumentaram consideravelmente em 2020. Por meio do monitoramento diário de notícias de incêndios no Brasil, o Instituto conseguiu capturar 1.244 ocorrências de incêndios estruturais de janeiro a dezembro do último ano, alta de 43,7% ante 2019, quando foram registradas 866 notícias.
De acordo com a entidade, os números divulgados representam uma alta progressiva em comparação com 2018, quando foram capturadas 531 reportagens, acionando um alerta para a falha nas medidas de prevenção. “Por acompanhar o assunto há décadas, sei que o dado que coletamos pela imprensa é menor do que acontece oficialmente. Se o recorte já nos mostra que muita coisa precisa ser feita para que tragédias sejam evitadas, imagine se tivéssemos acesso às informações oficiais. Esses incêndios tradicionalmente acontecem por problemas de qualidade de equipamento, falta de manutenção, erros de projetos e de instalação, problemas de treinamento da mão de obra e falta de interesse, de modo geral, dos proprietários na proteção contra incêndio, que fazem somente o mínimo necessário para ser aprovado pelos bombeiros”, diz o diretor-geral do ISB, Marcelo Lima.
Os sinistros contabilizados são os chamados incêndios estruturais, ou seja, aqueles que poderiam ter sido contornados com a instalação de sprinklers e ocorreram em depósitos, hospitais, hotéis, escolas, prédios públicos, museus, entre outros. O ISB informa que não inclui nas estatísticas os incêndios residenciais, que apesar de também serem incêndios estruturais, não são objeto de acompanhamento porque a legislação de segurança contra incêndio não se aplica a residências unifamiliares, onde acontece o maior número de ocorrências.
Entre as diferentes categorias de estruturas, os estabelecimentos comerciais (lojas, shopping centers e supermercados) registraram o maior número de notícias na imprensa nos últimos três anos, seguidos pelos depósitos e as indústrias, como revela o gráfico abaixo.
A legislação de prevenção e combate a incêndios é estadual e está atualizada. A de São Paulo é uma das mais avançadas do Ppís e serve de modelo para grande parte do Brasil. “A questão está em aplicá-la corretamente”, explica Lima.
O diretor do ISB conta que o estado exige a instalação de sistemas de incêndio, mas não faz qualquer exigência quanto ao nível de qualidade dos equipamentos. “Não há certificação, exceto para extintores. Com isso, temos sistemas instalados por todo o Brasil que atendem plenamente à legislação, mas que provavelmente não funcionarão e isso só será descoberto no pior momento, durante uma ocorrência de incêndio.”
Dados
Uma recente pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos junto a empresas multinacionais e de capital nacional com mais de 250 funcionários a pedido do ISB, revelou que o grau de adoção de sprinklers nas empresas é baixo. Apenas 36% das 300 companhias entrevistadas pelo Ipsos disseram contar com sistemas deste tipo em suas instalações.
O levantamento mostrou ainda que apenas 14% das entrevistadas disseram contar com sistema deste tipo em todas as suas unidades e 22% declararam contar com o sistema em apenas algumas unidades operacionais.
O estudo detectou que o uso de sprinklers é maior entre as multinacionais. 48% das empresas estrangeiras, com operações no país, ouvidas pelo levantamento, disseram ter sprinklers em suas operações. Entre as empresas nacionais, o índice é de 34%.
O porte também influi na aderência a este tipo de tecnologia. O índice de uso sprinklers em empresas com mais de 500 funcionários é de 45%. Entre empresas menores, com 250 a 499 funcionários, o percentual é de 28%.