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Para Aliança, crise traz oportunidades para a cabotagem

Empresa prevê bom momento para o modal, que tem custos mais competitivos que o rodoviário
Por Redação em 5 de fevereiro de 2015 às 8h17 (atualizado em 06/02/2015 às 14h49)

Apesar de antever um 2015 difícil para a navegação de longo curso, situação que deve perdurar pelos próximos dois anos, o momento é benéfico para impulsionar ainda mais a cabotagem no Brasil. É o que afirma Julian Thomas, diretor-superintendente da Hamburg Süd e da Aliança Navegação e Logística no Brasil, empresas pertencentes ao Grupo Oetker.

Para ele, os clientes estão buscando custos menores e o modal rodoviário, o mais utilizado no país, vem apresentando aumento de custos, com a subida dos combustíveis e a maior formalização do setor. “Tudo isso leva o cliente a pensar em mudar sua logística, e a cabotagem fica mais atrativa. Esperamos para este ano manter o crescimento de dois dígitos que a Aliança vem mantendo nos últimos anos, com exceção de 2009, que foi particularmente ruim”, afima Thomas, informando que não pode adiantar ainda os resultados de 2014, que serão divulgados oficialmente no próximo mês de abril.

Para ele, o mercado já percebe as vantagens do modal, como menores custos, segurança, redução de avarias e de emissões de poluentes. O desafio é fazer os clientes saírem da conveniência do caminhão. “Certamente, o modal rodoviário tem uma logística mais simples. Você contrata o veículo, embarca a carga e expede diretamente para o destino. Já a cabotagem precisa de um maior planejamento, inclusive pelo tempo de trânsito maior e pela organização das pernas rodoviárias. Esta é a maior desvantagem do modal”, acredita, fazendo um contraponto. “Com a redução da atividade econômica, além da necessidade de reduzir custos, as empresas têm mais tempo de planejar sua logística, o que acaba sendo benéfico para nós”.

Por isso, ele afirma que a época da cabotagem chegou. “Acho que o modal não está mais na infância. O mercado básico já foi conquistado, mas mesmo assim ainda há muito potencial. Agora, vamos partir para os médios e pequenos clientes, que também podem ter muitas vantagens com a substituição do caminhão pelo navio”. O executivo aponta que o modal está maduro, com oferta suficiente – só na Aliança, são seis serviços costeiros incluindo Brasil e Mercosul, totalizando nove serviços incluindo a concorrência . “É uma oferta considerável, muito maior, por exemplo, do que para os Estados Unidos”, compara.

A Aliança se preparou para este momento, investindo nos últimos três anos R$ 700 milhões em seis porta-contêineres. Além de renovada, a frota tem maior capacidade de carga, operando os maiores navios em serviço na costa brasileira. “Fizemos um planejamento de modo a ter excesso de oferta, ficando confortáveis para crescer. Claro que vamos continuar investindo, mas acredito que a capacidade atual nos atenda com conforto até 2017”.

Thomas conta que a companhia sempre tentou fabricar navios no Brasil, mas a capacidade dos estaleiros não atendia. “Para se ter uma ideia, o prazo para entrega do primeiro navio, caso fosse feito no Brasil, era 2017. Era inviável”. Ele acredita que a atual crise da Petrobras pode desafogar os estaleiros nacionais, o que facilitaria a construção de navios no país. “Esta não é uma situação para se comemorar mas, indiretamente, nos beneficia”.

Apesar de destacar as vantagens da cabotagem, Thomas afirma que o modal poderia ser ainda mais barato, caso fossem sanados alguns gargalos. Entre eles, ele aponta a burocracia na zona primária, a pressão de custo nas pontas e os custos associados do rodoviário. “A navegação costeira sofre alguns dos problemas do longo curso, que é a carência de infraestrutura nos portos e dificuldades de acesso. Além disso, uma vantagem nossa, que seria a redução do preço internacional do combustível para a cabotagem, é em parte comida pela alta do dólar”, lamenta.

Novas apostas

A empresa vem investindo em novos mercados, como a abertura, em 2013, da Aliança Transporte Multimodal (ATM). A companhia investiu R$ 40 milhões na abertura de um terminal retroportuário de 66 mil metros quadrados próximo ao Porto Itapoá, em Santa Catarina, onde oferece serviços como recebimento, movimentação, armazenagem e reparo de contêineres vazios, além de uma ampla gama de serviços de carga conteinerizada seca e refrigerada. A Aliança também é uma das investidoras do porto catarinense, inaugurado em junho de 2011 e já em fase de expansão.

Em 2014, a empresa iniciou as operaçoes em um novo nicho de mercado, o de cargas de projeto, adquirindo o navio multipropósito “Aliança Energia”, com capacidade para 19 mil toneladas e especialmente desenvolvido para atender ao segmento. Visando inicialmente o mercado de energia eólica, a Thomas conta que a nova atividade ainda está em fase de investimentos. “Vemos bastante potencial neste setor eólico, que tem cargas sensíveis ao transporte pelas grandes dimensões e pelo alto risco de avarias. Para se ter uma ideia da vantagem que oferecemos, o transit-time do navio é de seis dias, contra 60 dias do caminhão”, compara.

Longo curso

Com relação à navegação internacional, que a empresa opera no país por meio da Hamburg Süd, Thomas é bem menos otimista, ao menos no curto prazo. “No geral, não contamos crescer este ano. O panorama no setor é de estagnação do mercado, tanto na importação como na exportação, o que é reflexo do economia interna e da internacional. Um aspecto positivo é o câmbio, que está favorável às commodities brasileiras. Contudo, os mercados consumidores, como Europa e Rússia, estão recessivos. A China deve crescer, mas não de forma tão expressiva a ponto de compensar os demais. O câmbio também pode se refletir positivamente nos manufaturados e semi-manufaturados, mas acho que ainda vai demorar para recuperar o terreno perdido. Está difícil ser otimista com o Brasil em 2015”, resume.

Ele diz, contudo, que no no longo prazo a visão da empresa para o país é otimista. “O Brasil sempre foi uma grande aposta nossa e continua vital. Mas, no momento, a empresa cresce mais nas rotas Ásia-Europa e Ásia-EUA, que são mercados de grandes volumes. A América Latina toda está em baixa, não só o Brasil”.

A Hamburg Süd opera 44 navios porta-contêineres no país, que prestam serviços nas rgiões das Américas, Europa, Ásia, África, Oriente Médio e Oceania, contando com 1.319 colaboradores. Já a Aliança opera uma frota de 11 navios na cabotagem, que atende 15 portos de Buenos Aires a Manaus, com 104 escalas mensais. Líder do mercado nacional de cabotagem, a empresa teve um faturamento de R$ 3,3 bilhões em 2013.

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