No final de abril, o Brasil ganhou uma nova opção para o escoamento de grãos pelo chamado corredor Norte, com a formação de uma nova empresa de navegação fluvial pelas gigantes do agronegócio Bunge e Amaggi, e com a inauguração do Terminal Portuário Fronteira Norte (Terfron) pela Bunge, em Barcarena (PA).
As duas companhias uniram-se para formar a Navegações Unidas Tapajós (Unitapajós), que nasce com o objetivo de realizar o escoamento de grãos utilizando os rios Tapajós e Amazonas, no estado do Pará. A joint venture visa a oferecer uma nova opção de transporte para a crescente produção agrícola brasileira. O trecho dos rios, localizado entre os municípios de Itaituba e Barcarena, consiste em um importante corredor fluvial com potencial para contribuir para a intermodalidade na movimentação de grãos na região.
Com a novidade, a carga que sai das fazendas e armazéns da região médio-norte do Mato Grosso segue por rodovia por cerca de 1.100 quilômetros até o terminal de transbordo de Miritituba, em Itaituba, pertencente à Bunge. De lá, as embarcações da Unitapajós percorrem mais 1.000 km até o recém-inaugurado terminal portuário companhia, localizado em Barcarena, onde os produtos são transferidos para navios de grande calado e enviados para Europa e Ásia, os principais mercados atendidos por esta rota. O percurso entre Itaituba e Barcarena será percorrido em três dias.
A Unitapajós já nasce com uma frota composta por 50 barcaças e dois empurradores. A previsão é transportar até 2 milhões de toneladas de grãos em 2014. A partir do próximo ano, com a incorporação de 40 barcaças e mais um empurrador, a empresa deve atingir capacidade para 4 milhões de t.
“Todas as barcaças são equipadas com uma cobertura rígida exclusiva, de alumínio, projetada pela nossa equipe e desenvolvida por uma fabricante da Bélgica”, explica Jorge Zanatta, diretor da Amaggi Navegação. “É uma tecnologia nova no Brasil, que proporciona maior segurança e qualidade.”
A Amaggi possui larga experiência no transporte fluvial de grãos e operações portuárias, atuando há 17 anos em um dos principais corredores hidroviários do país, o Madeira-Amazonas, por onde escoa, todos os anos, aproximadamente 2,8 milhões de t de grãos. Já a Bunge acumula conhecimento na área de logística ao longo de mais de 100 anos de atuação no Brasil.
“A Unitapajós é responsável pela operação de navegação que une essas duas pontas, com os mesmos conceitos de inovação e preocupação com a sustentabilidade que norteiam as operações nos nossos terminais portuários e unidades produtivas”, destaca Júnior Justino, diretor de Logística e Agronegócio da Bunge Brasil. As companhias possuem a mesma participação de capital na nova empresa, que obteve a concessão da Marinha do Brasil para operar no início deste ano.
Terfron
A Bunge investiu R$ 700 milhões na formação da Unitapajós e na construção do seu novo complexo portuário em Barcarena, próximo ao porto de Vila do Conde, que receberá a carga vinda pela hidrovia do Tapajós.
O novo terminal é totalmente automatizado. A carga que chega nas barcaças pelo rio será desembarcada de forma contínua por meio de um sistema de esteiras de carregamento e sugadores especiais, sendo transferida para silos e armazéns. Já o embarque nos navios para exportação é feito por três torres de carregamento que levam a carga por meio de esteiras 100% controladas por computador, com dispositivos especiais de segurança. Todo o processo de carregamento e descarregamento dos grãos é realizado em área coberta, o que permite a operação mesmo em dias chuvosos.
O complexo formado pela Unitapajós e pelos terminais de Miritituba e Barcarena terá capacidade de escoamento de 2,5 milhões de t de grãos em seu primeiro ano de operação. Até o final de 2015, o Terfron será o segundo maior terminal exportador da Bunge Brasil, com capacidade para 4 milhões de t/ano, atrás somente do TGG – Terminal de Granéis do Guarujá (SP), que exportou cerca de oito milhões de t no ano passado.
“Estamos diversificando a matriz logística do país, ainda muito dependente dos caminhões e trens. E, com o aumento da demanda mundial por alimentos, a Bunge se coloca numa posição privilegiada ao ganhar uma nova rota de escoamento de grãos, ainda mais sustentável”, diz Murilo Braz Sant’Anna, vice-presidente de Agronegócio da Bunge Brasil. “Este é um empreendimento importantíssimo para o Brasil. Com a nova rota, vamos contribuir para o desenvolvimento da região e desafogaremos o sistema logístico do Sudeste, que há muito tempo trabalha acima do limite”, complementa Justino.
A sustentabilidade é um ponto alto dos novos empreendimentos. Um único comboio composto por 20 barcaças transporta 40 mil t de grãos, substituindo mais de mil caminhões ou 4,5 trens por viagem. Além disso, o terminal de Miritituba adota um sistema de sustentação no píer por correntes, que compensa as variações de nível da água, sendo totalmente isento de obras dentro do rio. Além disso, a nova rota encurta em 20% a distância entre o Brasil e a Europa, e com mais de 20% de redução de emissões de CO2 pela adoção de um modal menos poluente.