As novas tarifas chinesas, que variam entre 10% e 15%, foram implementadas em resposta ao aumento das taxas de importação promovido pelo governo de Donald Trump, que elevou a alíquota de 10% para 20%.
O país já opera próximo ao limite logístico, exportando até 15 milhões de toneladas por mês, dividindo a infraestrutura portuária entre os produtos como soja, carnes, açúcar e milho. Atualmente, a previsão para exportação de soja está entre 103 e 104 milhões de toneladas no ciclo 2024/25 e não há viabilidade logística para elevar esse volume para 108 ou 110 milhões de toneladas.
Em janeiro deste ano, a Tecnologística já havia publicado que o Brasil enfrenta um déficit significativo na capacidade de armazenagem para a safra recorde de grãos estimada em 322,4 milhões de toneladas para 2024/25. A capacidade atual, de 222,3 milhões de toneladas, cobre apenas 69% da produção esperada, conforme dados do IBGE.
A infraestrutura de transporte enfrenta gargalos em regiões produtoras como o Mato Grosso, onde caminhões ficam parados nos portos devido a limitações em Miritituba, Santarém e Barcarena. A restrição sobrecarrega portos do Sudeste e do Sul, elevando os custos de frete, que chegaram a R$ 520 por tonelada para Santos. Além disso, há escassez de caminhões e espaço logístico, dificultando um aumento expressivo no transporte da safra.
Nos portos, a capacidade de embarque também apresenta limitações, especialmente com o início das exportações de milho nos próximos meses, que aumenta a demanda pelo transporte de grãos. "Outro fator crítico é a falta de capacidade dos terminais de contêineres, que são essenciais para diversificação das exportações. O terminal de Paranaguá, por exemplo, só conseguiu expandir suas operações após investimentos da CMPort, mostrando que o gargalo logístico brasileiro só poderá ser solucionado com investimentos contínuos e de longo prazo", explica Delara.
A expansão da produção agrícola no Brasil esbarra nessas limitações, e a resolução do problema dependeria de investimentos em infraestrutura portuária e transporte. Com a capacidade de exportação limitada, o impacto da nova guerra comercial entre China e EUA deve ser mais restrito, refletindo-se nas quedas recentes nas cotações da soja, farelo e milho.
Durante a disputa de 2018, o governo dos Estados Unidos impôs uma tarifa de 25% sobre a China, o que levou a uma queda de 21,5% nos preços da soja na Bolsa de Chicago. No Brasil, os preços da commodity ficaram cerca de 10,5% mais baixos do que antes do conflito, enquanto em Chicago o bushel da soja chegou a ser negociado a US$ 8,50.
Os preços voltaram a subir no segundo semestre de 2020, quando a China retomou suas compras, impulsionando as exportações dos EUA e elevando os preços a níveis recordes. No atual cenário, a expectativa é de ajustes nos valores das commodities, mas sem uma volatilidade tão intensa quanto a observada no conflito anterior.