Investimento será de R$ 32 milhões para indústria naval
A Transpetro, o Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras) e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) assinaram um convênio com instituições de pesquisa na terça-feira, 7 de fevereiro, para viabilizar a implementação do Programa de Capacitação Tecnológica para Apoio à Indústria Naval Brasileira. A Transpetro é uma subsidiária integral da Petrobras e atende às atividades de transporte e armazenagem de petróleo e derivados, álcool e gás.
Com investimento de R$ 32 milhões (90% do Sistema Petrobras e 10% da Finep), o programa foi criado com o objetivo de modernizar tecnologicamente a construção naval de grande porte no País e criar condições para os estaleiros obterem escala na fabricação de navios, tornando-se competitivos em nível internacional. Os oito projetos que compõem o programa resultaram de um diagnóstico inicial, que identificou os principais gargalos para o desenvolvimento do setor de construção naval no País. Para cada gargalo, foi estruturado um projeto específico, que visa modernizar a indústria, reduzir a dependência de assistência técnica internacional e estimular os pesquisadores a desenvolver tecnologias de ponta. Os projetos são os seguintes:
1 – Fatores de fabricação na construção naval (Coppe, UFPE e FURG): aperfeiçoamento dos processos de construção estrutural dos navios;
2 – Instalação de plataforma para ensaios de manobras de embarcações (Coppe, UFPE e UFRG): modernização do tanque de provas (20 m x 30 m) da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da UFRJ) para simulação de operações de manobra com modelos de navios em dimensões reduzidas. O projeto permitirá a aferição de modelos matemáticos e parâmetros a partir da simulação de navegabilidade sob influência de variáveis como vento, correnteza, temperatura etc;
3 – Benchmarking internacional para indicadores de desempenho da indústria naval (Coppe, UFRG e UFPE): levantamento e análise de indicadores de preço, prazo e qualidade praticados pelos estaleiros internacionais, visando ao estabelecimento de padrões para a indústria brasileira;
4 - Simulação virtual do sistema de construção naval (Coppe): implantação de laboratório para simular e otimizar o layout de estaleiros, com a verificação de diferentes seqüências de montagem;
5 – Avaliação dos sistemas propulsivos para um navio tanque ecológico -projeto estruturante (USP, IPT, Coppe, UFPA): avaliação de sistemas propulsivos para seleção da opção com melhor custo-benefício para operação na costa brasileira;
6 – Implantação e consolidação de laboratório de gestão de operações e da cadeia de suprimentos da indústria de construção naval (USP e Marinha do Brasil): organização da cadeia de suprimentos envolvida no processo de construção de navios, de forma a obter menor custo e maior produtividade;
7 – Implantação de laboratório para análise e avaliação de riscos - configuração de procedimentos para embarcações da Transpetro (USP, Coppe, Unicamp, IPT): implantação de laboratório para análise e avaliação de riscos em navios e sistemas navais. Esse projeto terá como objetivo identificar as melhores formas de mitigar os problemas mais comuns da construção naval,
8 – Projetos de navios de grande porte - incremento de capacitação laboratorial e implantação de centro multiusuários (IPT, USP, Coppe, UFRG, UFPE, Unicamp e Marinha do Brasil): aperfeiçoamento e modernização dos laboratórios de provas do IPT que medem o desempenho dos navios.
Segundo Sérgio Machado, presidente da Transpetro, o país está cada vez mais dependente do frete marítimo, que consome cerca de US$ 10 milhões/ano do orçamento nacional. “A logística no Brasil custa 16% do PIB, enquanto nos Estados Unidos custa 8,8% do PIB. Hoje, 95% do nosso transporte é feito por caminhão. Precisamos resolver esta lacuna logística e superar o desafio da competitividade. A indústria naval é um mercado de US$ 70 milhões/ano, do qual não podemos abrir mão”, afirma Machado.
Quatro empresas continuam na disputa pelos navios da Transpetro
A Transpetro realizou no dia 10 de fevereiro a segunda sessão pública da licitação referente à primeira fase do Programa de Modernização e Expansão da Frota, na qual serão construídos 26 navios. Continuam na concorrência para a fase seguinte da licitação, de análise das propostas de melhor preço, o consórcio formada pelas empresas Camargo Corrêa/Andrade Gutierrez/Queiroz Galvão/Aker Promar/Samsung; o consórcio Rio Naval (Grupo MPE, Iesa, Sermetal e Hyundai); Mauá Jurong e Maric CSSC, e o estaleiro Itajaí. A assinatura dos contratos está prevista para o início de março.
O consórcio constituído pela Keppel Fels/Brasfel/Daewoo, que concorria aos lotes de navios Suezmax e Aframax, e o estaleiro EISA Montagem, cuja proposta era para os lotes dos navios Panamax e gaseiros, foram eliminados da disputa.
De acordo com as regras do edital, o licitante deveria optar por uma modalidade de financiamento entre as opções de tomada de recursos junto ao Fundo de Marinha Mercante (FMM), operação estruturada com instituição financeira ou uso de recursos próprios. Segundo o relatório da comissão de licitação, a eliminação do consórcio Keppel Fels ocorreu pelo fato do licitante não ter informado a opção de financiamento para a construção dos navios. Já o estaleiro EISA, que optou em sua proposta pelo uso de recursos próprios, foi desclassificado por insuficiência econômico-financeira.
Como o estaleiro Mauá Jurong foi o único licitante habilitado para a construção dos navios de produtos, a comissão de licitação da Transpetro propôs a abertura do envelope de preços referentes a este lote durante a sessão. Os quatro navios foram orçados, segundo a proposta do Mauá Jurong, por US$ 335.353.532 (com o aço) e por US$ 307.593.248 (sem o insumo).
Os preços dos lotes de navios 1 (Suezmax) e 2 (Aframax) não foram abertos porque o representante do consórcio Keppel Fels não concordou com a resolução, anunciando que entrará com recurso administrativo junto à comissão de licitação para questionar a eliminação. Os preços dos lotes de navios 3 (Panamax) e 5 (gaseiros ou GLP) também não puderam ser abertos durante a sessão, porque o estaleiro EISA anunciou que recorrerá da decisão de eliminação. O edital estabelece que, quando há possibilidade de recurso, os envelopes de preços só podem ser abertos após o prazo de recurso. Antes disso, apenas mediante a concordância de todos os licitantes.
Com relação aos preços propostos pelo estaleiro Mauá Jurong para a construção dos quatro navios de produtos, o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, avaliou que estão acima de sua expectativa e acrescentou que não se pode esperar que os primeiros navios construídos no Brasil tenham o mesmo preço dos navios fabricados na Coréia do Sul. “Estamos cientes da necessidade de cumprir a chamada curva do aprendizado para atingirmos competitividade em nível internacional. A Transpetro estudou detalhadamente todos os gargalos do setor de construção naval brasileiro e asiático, e saberá negociar de forma a chegar ao melhor preço”, completa Machado.