A ALL (América Latina Logística), operadora de base ferroviária da América Latina, apresentou este mês o protótipo de uma locomotiva de oito eixos, chamada BB33-M. Criada a partir de uma locomotiva C30-7, fabricada pela GE, a nova máquina consome entre 10% e 20% mais de combustível, mas permite um aumento de cerca de 50% na capacidade de tração em relação à máquina original. Ela consegue tracionar cerca de 50 vagões carregados, enquanto a C30-7 tem uma capacidade para cerca de 35 vagões.
A necessidade da ALL de aumentar a sua capacidade em trechos que não comportariam uma locomotiva tão pesada quanto a C30-7 (27 toneladas por eixo) foi o principal fator para o desenvolvimento da nova locomotiva. Além do aumento da capacidade de transporte, o protótipo permite uma redução para cerca de 22,5 toneladas por eixo. Este valor pode ainda diminuir para 20 toneladas por eixo, nas locomotivas de série.
A máquina irá rodar inicialmente no trecho entre as cidades de Apucarana e Ponta Grossa, no Estado do Paraná, para avaliar se as alterações incorporadas garantem o incremento de capacidade projetado. Este trecho é considerado o mais importante para a ALL. “As locomotivas C30-7 operam neste trecho atualmente. A via permanente foi preparada para locomotivas mais pesadas, o que garante ainda mais a segurança durante os testes”, afirma Luiz Claudio Torelli, gerente de Engenharia de Manutenção da ALL. Apesar de a BB33-M ter um peso menor por eixo, o seu peso total é elevado e pode causar um desgaste mais acentuado em regiões com infra-estrutura inadequada.
A adequação ao gabarito foi outro motivo para a escolha do trecho. O gabarito entre Apucarana e Ponta Grossa foi todo adaptado para a locomotiva C30-7, que circula neste trecho há dois anos. “Como a BB33-M foi montada sobre a plataforma de uma C30-7, não seria possível a sua circulação em trechos cujo gabarito não tivesse sido previamente planejado”, explica Torelli. Foi também levado em consideração o fato de a nova locomotiva operar em conjunto com as C30-7 durante o período de testes, para determinar os limites operacionais do novo modelo.
A nova locomotiva transportará principalmente vagões com soja, farelo de soja, óleos claros, açúcar, combustíveis e fertilizantes. Após a homologação do projeto, a idéia é utilizá-la também em outros trechos da malha, para transporte de cimento, madeira e calcário. O trecho entre Curitiba e Ponta Grossa necessita de estudos adicionais para verificar o tráfego da BB33-M, que já estão sendo feitos este trimestre.
Foram gastos cinco meses de trabalho no projeto e na execução das adaptações na locomotiva. O protótipo teve um custo total de cerca de R$ 2,5 milhões e os principais componentes deste custo são os truques e os motores de tração, projetados e fabricados por parceiros nacionais desenvolvidos pela ALL. O peso total do protótipo é de 180 toneladas, totalmente abastecido, o que resulta em 22,5 toneladas por eixo. As suas dimensões exteriores são de 4,82 m de altura, 22,9 m de comprimento e 3,13 m de largura.
Além da inclusão de mais dois eixos, um microprocessador desenvolvido em parceria com uma empresa de Curitiba, a Zeit, foi instalado na locomotiva. Trata-se de um sistema equivalente aos chamados “sistemas inteligentes de tração”, que permite a detecção de deslizamentos das rodas das locomotivas sobre os trilhos e a correção da aceleração da máquina. “Enquanto os sistemas tradicionais de controle conseguem um fator de aderência de cerca de 20%, o sistema microprocessado desenvolvido por nós alcança cerca de 25%”, afirma Torelli. Outro recurso do microprocessador é o controle de diversos indicadores operacionais, como temperatura de óleo lubrificante e água, pressão de combustível e do turbo compressor, corrente e voltagem do gerador e dos motores de tração, velocidade, ponto de aceleração e atuação de freios, entre outros.
Este mês, a ALL iniciou também o transporte de contêineres para portos, com a inauguração de um ramal ferroviário no Estado do Paraná. A primeira operação foi feita em 25 contêineres, que transportaram bobinas de papel da Cocelpa (Cia. de Celulose e Papel do Paraná) desde o terminal da ALL em Araucária para embarque pelo Porto de Paranaguá. O ramal ferroviário foi construído em parceria com o Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) e com o Tecon do Porto do Rio Grande.