A estiagem no Amazonas tem causado impactos significativos nos desafios logísticos da região, evidenciando a falta de participação do estado na construção do Plano Nacional de Logística (PNL) 2035. Lançado em 2021 pelo governo federal, o plano busca modernizar a infraestrutura de transportes no Brasil e prevê investimentos de até R$ 1 trilhão até 2035. Contudo, a ausência de sugestões e propostas do Amazonas no plano preocupa especialistas, que alertam para o risco de projetos que possam afetar a preservação da floresta.
Durante o período de estiagem, o baixo nível dos rios do Amazonas dificulta o acesso, abastecimento e escoamento de mercadorias, especialmente no Polo Industrial de Manaus (PIM). A situação se agravou entre 2023 e 2024, quando uma estiagem recorde afetou diretamente 862 mil pessoas no estado. A escassez de água também impactou mais de 7,3 mil estudantes em comunidades ribeirinhas, dificultando o acesso às escolas, geralmente feito por embarcações.
A inclusão de propostas específicas para a região no PNL 2035 poderia ajudar a mitigar esses problemas, principalmente de diretrizes que priorizassem o transporte hidroviário e ferroviário, essenciais para o Amazonas. No entanto, o estado ainda não fez nenhuma contribuição para o plano, conforme informações do Ministério dos Transportes.
O PNL 2035 propõe uma reestruturação do modelo de transporte no Brasil, com o objetivo de reduzir os custos e minimizar os impactos ambientais, além de aumentar a participação das hidrovias e ferrovias na matriz de transportes. Um planejamento mais integrado poderia trazer benefícios significativos para a região, que depende fortemente dessas modalidades para o transporte de mercadorias e pessoas.
Além disso, o plano também visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa e melhorar o Produto Interno Bruto (PIB) do país, com um crescimento estimado entre 6% e 11%. Contudo, sem a participação ativa do Amazonas, o plano pode não atender adequadamente às necessidades logísticas e ambientais da região.
Enquanto a falta de investimentos em infraestrutura é apontada como uma das principais causas dos problemas logísticos, a situação nas hidrovias também reflete os desafios impostos pela estiagem. Em 2024, o governo estadual teve que transportar alimentos, medicamentos e outros itens essenciais para evitar o desabastecimento. A rede hidroviária do Amazonas é vital para o escoamento de cargas e o transporte de passageiros, representando mais de 20% da movimentação populacional do estado.
No entanto, a falta de investimentos adequados no setor tem prejudicado a economia local. Em 2022, o Amazonas recebeu apenas R$ 211,5 milhões em investimentos federais em infraestrutura de transporte, um valor bem abaixo de outros estados, como o Pará e o Mato Grosso. Mesmo com um aumento no orçamento para 2023 e 2024, os recursos ainda são insuficientes para resolver os problemas de transporte na região.
Além da dragagem, que tem sido a principal solução para a navegação nos rios, as obras de reconstrução da BR-319, uma rodovia crucial para a conexão entre o Amazonas e Rondônia, ainda estão paralisadas. A falta de manutenção das pontes dessa rodovia, que desabaram em 2022, resultou em mortes e uma significativa perda de infraestrutura na região.
Em relação à privatização das hidrovias, a proposta do governo federal de conceder rios à iniciativa privada gerou desconfiança no setor. O modelo de Parcerias Público-Privadas (PPP) para o transporte fluvial ainda carece de esclarecimentos sobre os benefícios para a região, especialmente no que diz respeito à dragagem e à segurança na navegação.
O governo estadual tem enfrentado dificuldades para se adaptar aos desafios logísticos impostos pela estiagem, e as críticas à falta de planejamento e à ausência de contribuições para o PNL 2035 continuam a crescer. Especialistas apontam que, sem um planejamento adequado, o Amazonas corre o risco de continuar a enfrentar crises logísticas e ambientais que prejudicam seu desenvolvimento e qualidade de vida.
*Com informações da Rede Cidadã InfoAmazonia.