Evento teve a presença de representante do Governo Federal, que defendeu o PAC e o PNLT, criticado por várias entidades
A cidade de São Paulo sediou ontem, dia 04 de setembro, a 2ª Conferência Nacional de Infra-Estrutura Logística, evento que marca a continuidade de um projeto iniciado em agosto de 2006, data da primeira edição da conferência, e reforça a importância de se discutir, junto aos governos, os gargalos da infra-estrutura logística do Brasil, que já atrapalha o crescimento do país e sua competitividade internacional.
Na ocasião – assim como ocorreu na primeira Conferência – foi entregue ao representante do Ministério dos Transportes, Marcelo Perrupato e Silva, secretário de Política Nacional de Transportes, um documento elaborado por dez entidades representativas do setor – com críticas e sugestões para a melhoria dos gargalos logísticos.
Na abertura dos trabalhos, o presidente do Conselho Consultivo da Conferência, Robert Caracik, fez um apanhado das ações após a primeira versão do evento. “Percebemos que o tema passou a fazer parte da pauta de discussões”, elogiou. Ele aproveitou a oportunidade e cobrou dos administradores responsáveis por órgãos diretamente relacionados à atividade as noações para equacionar os problemas.
O presidente também lembrou aos presentes o objetivo das entidades com a iniciativa: “Nossa idéia é difundir as informações junto ao governo, comunidade logística e para o restante da sociedade, principalmente esta última, que deve ter consciência dos problemas e do quanto isso representa em perdas para o país”, resume.
PAC e PNLT
As grandes discussões do dia foram em torno dos programas apresentados pelo Governo para o setor – o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT). A grande dúvida dos presentes era sobre a consistência dos planos e a real vontade política do governo em implementá-los. Outro consenso foi de que, se nada for feito, o país irá sofrer sérias conseqüências, algumas das quais já são sentidas.
Uma das grandes críticas do dia foi em relação à gestão – ou à falta dela – dos sistemas de transporte do país, com indicações políticas para cargos que deveriam ser, na opinião das entidades e seus representantes, exercidos por técnicos competentes e com experiência na área. Eles criticaram ainda a excessiva sobreposições de órgãos, muitas vezes conflitantes entre si, o que atrapalha a gestão, pois pulveriza as decisões.
Na primeira palestra do dia, o diretor adjunto do Departamento de Infra-Estrutura e coordenador do Núcleo de Logística do Deinfra/Ciesp, Luis Augusto Ópice, ressaltou que no Brasil não há gestão logística, e chamou à responsabilidade os profissionais do setor e as empresas no sentido de cobrar de uma forma efetiva os órgãos governamentais.
Apesar das críticas, principalmente ao que foi chamado de “terceirização da gestão”, Ópice ressaltou algumas evoluções, como criação da Secretaria Nacional dos Portos, que a princípio pareceu mais uma indicação política mas que vem surpreendendo positivamente.
Já o assessor técnico da NTC&Logística, Neuto Gonçalves, falou sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e suas conseqüências para os transportadores de carga. Segundo ele, o programa é bom, mas está longe do ideal. Para Gonçalves, o PNLT é o programa que falta para o balizamento dos investimentos futuros, tanto públicos quanto privados. Há, entretanto, uma ressalva. “Falta no PNLT a previsão de construção de mais rodovias”, frisa.
O assessor, porém, não se diz surpreso com este cenário. “Já vi muitos planos para mudar a matriz de transporte e isso nunca aconteceu. Acredito no declínio do rodoviário, mas não numa queda tão grande quanto a esperada pelo governo”, lembra.
Já o vice-presidente da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (Anut), contra-almirante José Ribamar Miranda Dias, afirmou que a entidade acredita no PAC, que ele considerou “um feliz acaso, uma vez que nos trouxe a esperança de que o governo pode fazer algo”, enfatiza.
Na opinião do contra-almirante, a alocação dos recursos foi realizada de maneira correta. Um ponto, contudo, deve ser revisto. “O governo deve assumir a responsabilidade pela erradicação dos estrangulamentos nas ferrovias e não repassá-la aos concessionários”, salienta. O vice-presidente faz outro lembrete. “O PAC não pode ser tomado como alavanca para resolver tudo. Ele tem fôlego apenas para recuperar a malha viária”, diz.
O presidente da Agência de Desenvolvimento Tietê-Paraná, Carlos Schad, em contrapartida, é descrente. “O PAC não vai mudar nada e faz parte de um ajuste sempre realizado pelos governos, que anunciam mas não cumprem”, acredita.
Em sua palestra, Schad enumerou uma série de iniciativas que os players logísticos e os órgãos governamentais devem assumir para que o setor evolua. Disposição política e empresarial, preparo técnico, legal, econômico e ambiental e saber aproveitar as oportunidades que aparecem são alguns dos pilares que sustentam o crescimento. Além disso, o presidente reforça que é preciso o empresariado adotar uma visão global do negócio, ser empreendedor e menos dependente do governo. “Temos que conhecer nossa realidade, saber as necessidades e parar de realizar comparações”, afirma.
Retomada do planejamento
O secretário de Política Nacional de Transporte, Marcelo Perrupato e Silva, fechou o evento falando sobre o PNLT e enfatizou que o plano é multimodal, envolvendo toda a cadeia logística associada aos transportes, com todos os seus custos e não somente os custos diretos do setor. Ele apresentou os objetivos do PLNT, explicando que o primeiro objetivo é a retomada do processo de planejamento no setor dos transportes, dotando-o de uma estrutura permanente de gestão e perenização do processo, com base em um sistema de informações georreferenciadas.
O enquadramento dos projetos estruturantes do desenvolvimento sócio-econômico do país por categorias é outro dos objetivos do plano, segundo Perrupato e Silva, englobando o aumento da eficiência produtiva das áreas consolidadas, a indução ao desenvolvimento de áreas de expansão de fronteiras agrícola e mineral, a integração regional sul-americana e a redução de desigualdades regionais em áreas deprimidas – nessa última categoria, exemplificou o secretário, “o caso típico é a região Nordeste e a implantação da Transnordestina é um exemplo dessa proposta, além da abertura de possibilidades em outros portos com a integração deles às ferrovias, dando um alento ao desenvolvimento da região e evitando a existência de ilhas de prosperidade”.
Entre as propostas de ações governamentais, a implantação do Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte (Conit), a aprovação de nova lei que dispõe sobre o Sistema Nacional de Viação, a formação de mão-de-obra, os incentivos à construção de terminais intermodais e a reestruturação do sistema nacional de custos de transporte, por meio da implantação do Sinctran, foram citadas pelo secretário.
Rebatendo as críticas feitas pelo Professor Paulo Fleury, diretor do Centro de Estudos em Logística (CEL) do Coppead/UFRJ, sobre a inconsistência de alguns números apresentados no PNLT, o secretário defendeu-se dizendo que o Plano não era um documento fechado, mas uma linha a seguir, que iria sendo alimentado com informações e melhorado à medida que estas informações forem sendo criadas e agregadas.
Ao final, um debate concluiu que o Plano segue um bom caminho ao ouvir os principais interessados – os usuários dos sistemas de infra-estrutura logística, através de suas entidades representantes –, mas que faltava maior integração entre as propostas de cada uma delas, que são paralelas enquanto deveriam ser complementares.
Foi ressaltada, porém, a evolução das relações entre os representantes dos vários modais, que antes se viam como concorrentes – como, por exemplo, as rodovias e ferrovias – e agora sabem que são complementares.
Veja cobertura completa da 2ª Conferência Nacional de Infra-Estrutura Logística na edição de outubro da Revista Tecnologística.