O setor de Operadores Logísticos (OLs) no Brasil registrou uma Receita Bruta Operacional (ROB) de R$192 bilhões em 2023, um crescimento de 15% em relação a 2021. A receita bruta do setor equivale a quase 2% do PIB e a 17% dos custos de transporte e armazenagem do País, que somam R$1,1 trilhão. Esta foi uma das descobertas da edição de 2024 do Perfil dos Operadores Logísticos, estudo promovido a cada dois anos desde 2014 pela Associação Brasileira dos Operadores Logísticos (ABOL), e encomendado ao Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS). Os resultados da pesquisa foram apresentados nesta terça-feira (17/09), e abordam temas como desempenho e investimentos das empresas, descarbonização e infraestruturas portuária e aeroportuária.
A pesquisa estimou um universo de 1.300 empresas, de pequeno, médio e grande portes, que atenderam a pré-requisitos determinados, como a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) e serviços oferecidos. Deste, 127 operadores, entre eles, os associados à ABOL, colaboraram diretamente com o material. Juntos, eles representam 40% do faturamento do setor.
De forma geral, o setor gerou cerca de 2,3 milhões de empregos diretos e indiretos em 2023, 2,3% do total de pessoas ocupadas no país. O setor também gastou cerca de R$ 20 bilhões em investimentos CAPEX. Dentre as empresas participantes, 76% relata aumento no faturamento, 76% percebeu aumento no número de clientes e 71% relatou aumento no número de funcionários CLT.
Abrangência
47% dos Operadores Logísticos atuam nas cinco regiões brasileiras ao mesmo tempo, e 40% possuem participação internacional, revelando um incremento ao longo dos últimos anos na atuação regional das empresas. Em 2022, 37% estavam presentes em todas as regiões brasileiras. Desde a edição 2020 da pesquisa, as altas foram de 25% para 51% no Norte, de 43% para 69% no Nordeste, de 37% para 70% no Centro Oeste, de 63% para 76% no Sul e de 92% para 94% no Sudeste.
As empresas de maior porte são as de superior abrangência geográfica: 81% delas estão presentes em todas as regiões. Por outro lado, os OLs de menor porte são aqueles com atuação mais regional, com boa parte se posicionando como especialistas em mercados locais. Em média, cada um opera 19 instalações, como galpões, CDs, Transit Points e cross docking. No entanto, 64% dos participantes da pesquisa garantiram que estão incrementando esse número.
Indústrias atendidas
A quantidade de segmentos atendidos pelas operadoras também aumentou: hoje, os operadores atuam em mais de 20 setores diferentes, posicionando-se em diversos elos da cadeia de suprimentos. Cada operador possui, em média, clientes de nove indústrias distintas.
Uma novidade este ano foi o crescimento dos setores de bebidas e automotivo e autopeças. O setor de bebidas hoje é o mais representativo, atendido por 72% dos respondentes da pesquisa, uma alta de 14% em comparação a 2022. Em seguida, aparece o setor automotivo e autopeças, com 70% e expansão de 13% nos últimos dois anos. Na terceira posição estão os cosméticos, com 66% e elevação de 2%.
Arrecadação, trabalho e investimentos
No período, os OLs arrecadaram R$ 43 bilhões em tributos. Quando comparado ao total de impostos recolhidos no Brasil, os OLs foram responsáveis por 0,5%, 1,1% e 0,7% do máximo arrecadado pelas esferas municipais, estaduais e federais, respectivamente. Além disso, foram responsáveis por cerca de 2,3 milhões de empregos diretos e indiretos, sendo a maioria no regime CLT, no ano passado.
“Os dados apurados reforçam a relevância dos operadores logísticos não apenas para a evolução contínua da modalidade de serviços no Brasil, mas também para o desenvolvimento da economia nacional. Essa representatividade se evidencia diante dos investimentos feitos em 2023, que chegaram a R$20 bilhões”, destaca a diretora executiva da ABOL, Marcella Cunha.
Em 2023, 68% dos OLs avançaram nos investimentos em comparação ao volume injetado em 2022. Em 2021, o percentual foi de 59% em relação ao exercício anterior. O foco dos OLs foi nos softwares (83%).
As obras de infraestrutura receberam capital de 78% dos operadores respondentes e aparecem em segundo lugar no ranking de aportes. Logo depois vem a aquisição de novas máquinas ou equipamentos, por 69%.
Em meio aos novos projetos, os OLs sentiram o impacto do incremento no preço do combustível em 2023, também constatado na edição anterior. Outras despesas com acréscimos relevantes foram: mão de obra, equipamentos e transporte rodoviário, todos com aumento considerado médio ou alto por mais de 60% dos operadores. No geral, 75% não repassaram a elevação dos custos para o valor do serviço.
“Não é de hoje que os OLs driblam a alta do combustível, que sempre representa uma parcela significativa dos seus custos operacionais, e vêm buscando alternativas para evitar grandes prejuízos. Quando se trata de investimentos, a constante evolução tecnológica tem impacto direto, uma vez que os operadores precisam acompanhar as tendências, aumentando a produtividade e mantendo a competitividade”, ressalta Marcella.
Descarbonização
Diante de um cenário no qual 13% das emissões de gases do efeito estufa são feitas pelo setor de transporte, os operadores logísticos estão se movimentando para mitigar os impactos de suas operações no meio ambiente. 94% dos Operadores Logísticos já contam com um departamento responsável por temas relacionados à sustentabilidade, no entanto, apenas 39% têm metas e objetivos claros e um orçamento definido para a área responsável. Outros 23% também já têm um setor com indicadores, mas ainda sem definição orçamentária.
Quando se trata de descarbonização, o objetivo médio para redução de pegada de carbono é de 37% em até oito anos. Para as empresas que buscam diminuir em 100%, o prazo seria entre 20 e 26 anos. As medidas de descarbonização mais adotadas são:
Redução da idade média da frota (55%);
Utilização de energia renovável (53%);
Otimização da malha logística (47%);
Otimização de rotas (47%).
Marcella Cunha observa que as soluções de melhoria de produtividade mais baratas, de rápida adoção e com resultados a curto prazo foram as primeiras a serem implementadas, mas que outras ações de médio a longo prazo têm se desenvolvido mais no último ano e ainda podem crescer nas próximas pesquisas.
A busca de outras fontes de combustível também faz parte dos planos dos OLs dentro da premissa ESG (Environmental, Social and Governance). A eletricidade para veículos, conforme apontado por 39% das empresas consultadas, teve a preferência. Outras fontes em uso são o etanol (33%) e o GNV (26%). Ambos possuem baixos níveis de emissão de carbono e maior quantidade de pontos de abastecimento espalhados pelo país. O biogás, o diesel verde, o gás natural liquefeito e o hidrogênio verde são usados por menos de 10% dos operadores. A maior parte dos OLs (63%) afirmou que absorve totalmente os custos para redução das emissões, sem qualquer tipo de repasse para o preço final de seus serviços.
“A ABOL tem participado ativamente desse processo por meio do grupo ESG, que há quase 3 anos vem desenvolvendo e ações e projetos importantes para contribuir de forma direta na jornada de descarbonização de cada associada, uma vez que percebemos que os OLs estavam em estágios diferentes de maturidade. Conseguimos que todas se nivelassem a partir da construção da sua matriz de materialidade e inventário de emissões. Agora, elas sabem exatamente quais problemas e desafios devem enfrentar quando o assunto é ESG e, em especial, emissões de GEE. Juntos, buscamos as melhores soluções e oferecemos subsídios para que possam decidir qual caminho seguir. Até dezembro, por exemplo, entregaremos às afiliadas o projeto piloto ‘Inventário de Emissões dos Associados à ABOL’. Também acompanhamos de perto a regulamentação do ‘Mercado de Carbono’ brasileiro, em tramitação no Congresso Nacional, assim como o ‘PL dos Combustíveis do Futuro’, que incentiva o desenvolvimento de tecnologias e alternativas menos poluentes”, relata a diretora.
Infraestrutura portuária e aeroportuária
A edição 2024 do Perfil dos Operadores Logísticos traz, pela primeira vez, um posicionamento mais aprofundado das empresas em relação às infraestruturas portuária e aeroportuária do País. No caso dos portos, os operadores entendem que são necessárias melhorias estruturais, e apenas 18% não apontam gargalos logísticos nas operações.
Os OLs também destacaram a existência de potenciais oportunidades de melhoria na infraestrutura aeroportuária para o transporte de cargas. O levantamento revela que 26% observam carência de disponibilidade para carga nos aeroportos brasileiros. Ao analisarem as rotas aéreas domésticas, dos 46% que atuam nesse modal, somente 6% dos entrevistados caracterizam-nas como ótimas.
Nota-se que 47% dos participantes afirmou que não atua ou não sabe responder sobre infraestrutura portuária, e o número chegou a 51% quando se trata de infraestrutura aeroportuária. O modal rodoviário segue predominante, e quando perguntadas sobre as obras de infraestrutura prioritárias, as empresas apontaram infraestrutura rodoviária (91%), infraestutura viária da cidades (50%) e acesso aos centros urbanos (43%).