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Entrevista Walter Zinn

Por Redação em 25 de setembro de 2008 às 12h14 (atualizado em 05/05/2011 às 14h44)

Rumo ao futuro

Entrevista exclusiva de Walter Zinn, professor de Marketing e Logística da Universidade Estadual de Ohio, sobre o futuro do profissional de logística

Tecnologística – Como o senhor vê a profissão de “logístico” hoje e que novas habilidades o profissional da área deve incorporar?
Walter Zinn –
Eu acho que o que um bom gerente de logística e supply chain precisa saber está se expandindo muito. É uma profissão que está na contramão da especialização. Outros profissionais têm que saber cada vez mais sobre cada vez menos, ou seja, possuir um conhecimento estreito, mas profundo. Em logística, ocorre o contrário: o profissional tem que ser ao mesmo tempo profundo e amplo.

Tecnologística – E dá para ser as duas coisas?
Zinn –
Não está sendo possível ter profissionais que saibam fazer de tudo. Acho que talvez o mais importante para um profissional de logística hoje seriam habilidades que permitam a ele trabalhar com outras pessoas. Cada vez mais as decisões de logística e supply chain vão ser tomadas por equipes e não por indivíduos. Então é muito importante não somente ser habilidoso tecnicamente – apesar de isso também ser importante –, mas alguém que seja capaz de interagir com os outros, com pessoas que tenham habilidades diferentes, podendo chegar a uma conclusão comum.

Tecnologística – Esta habilidade geral inclui quais capacidades particulares?
Zinn –
É importante ter um pouco de liderança – alguém vai ter que liderar esse time – e é importante também gerir grupos. Por isso hoje estou vendo um interesse muito grande dos alunos em aprender gerência de processos e de projetos; são todas habilidades que vão além daquelas que se possui como indivíduo. É isso que eu vejo como a grande necessidade de hoje em logística.

Tecnologística – A equipe, então, é mais importante que o indivíduo para compor esse leque de habilidades?
Zinn –
Sim, é preciso compor equipes multitalentos. Um dos problemas da liderança de logística é que terá que se preocupar não só com a habilidade do indivíduo que está sendo contratado, mas também com o que eu chamo de sua inteligência organizacional. É o que meu time sabe fazer e o que esta pessoa pode agregar. E é isso que a empresa deve levar em conta ao contratar alguém.

Tecnologística – Essa habilidade de trabalhar em equipe é inata ou é possível desenvolvê-la na pessoa?
Zinn –
Eu acredito que seja algo que se possa desenvolver. E acho o papel da universidade muito importante, no sentido de obrigar os alunos a trabalhar em equipe, ensiná-los a ouvir – a ouvir mesmo – e a aprender a ter paciência de chegar a um consenso com a equipe.

Tecnologística – E a capacidade de ser liderado? Porque todos falam da liderança, mas às vezes também é preciso aceitar a liderança de outro, não é?
Zinn –
Exatamente. Isso também é importante e também pode ser ensinado, até que esse aluno ou aluna entenda o que se está tentando fazer, por que deve ser desse jeito e por que é importante trabalhar em grupo. É necessário que eles entendam que a nossa profissão está ficando tão complexa que é muito importante orientar decisões e trabalhos com habilidades complementares e não necessariamente como o astro vai resolver todos os problemas. Porque se isso acontecia no passado, hoje em dia ficou muito difícil.

Tecnologística – Nos Estados Unidos isso já é assim? Porque o americano tem muito dessa idéia do herói solitário, que chega e resolve, não é?
Zinn -
Acho que não é mais bem assim, eles já entenderam que é preciso trabalhar em equipe. Você não consegue ganhar um jogo de futebol ou de vôlei sozinho. Outra analogia comum é com uma orquestra. O violinista não toca tambor e vice-versa, mas juntos eles produzem um som que não poderiam produzir sozinhos. Para encurtar a resposta, já existe este entendimento e é algo enfatizado cada vez mais.

Tecnologística – E com relação aos novos conhecimentos que o profissional de logística e supply chain precisa ter, o que o senhor apontaria?
Zinn -
Eu não diria tanto que são novos conhecimentos no sentido de que não existiam antes, mas são novos porque estão sendo agregados à profissão agora. Acho que um profissional de logística hoje tem que ter conhecimento de negociação, tem que conhecer análise financeira, para custear projetos. Também precisa possuir noções de matemática, para poder fazer análises de otimização, de simulação e previsão de vendas – que é muito importante como forma de eliminar redundâncias. Existe ainda todo o aspecto de gerência de projetos, todo o aspecto de lean. Ele deve saber gerenciar processos para a integração do supply chain.

Além disso, não vamos nos esquecer das áreas tradicionais: o profissional tem que saber alguma coisa de transporte, de administração de estoques e de armazenagem. No aspecto globalização, deve entender de documentação de importação e exportação. E, cada vez mais, deve ter capacidade de se entender com pessoas de outras culturas. O Brasil sempre fez negócios tradicionalmente com Europa e Estados Unidos, mas agora está começando a negociar com a Ásia, em que as diferenças culturais são muito grandes. Mas o brasileiro, flexível como é, vai lidando com essas coisas. Aliás, esta é mais uma habilidade para acrescentar na nossa lista: a flexibilidade.

Tecnologística – Isso faz lembrar a China, obviamente. O senhor tem idéia de como isso é lá?
Zinn –
O chinês é naturalmente mais hierárquico que o brasileiro. É menos flexível, mas também está aprendendo; não será assim por muito tempo. Eles também são extremamente agressivos. Mas é uma sociedade extremamente hierárquica, e isso é fácil de ver até nas pequenas coisas. É algo que eles já tinham até mesmo antes do comunismo e foi acentuada. É da cultura deles.

Tecnologística – Os Estados Unidos estão com medo da China?
Zinn –
Acho que é uma relação muito complexa. A China é um parceiro comercial e muito do crescimento da América na década de 1990 aconteceu porque vieram os produtos baratos de lá, que alimentaram o crescimento, alimentaram a demanda. Por outro lado, ela está se tornando um rival econômico, e até que ponto irá se tornar um rival militar não se sabe. Ou seja, é uma relação de altíssima complexidade, eu acho. Pessoas menos esclarecidas tendem a simplificar as coisas. Elas só vêem os produtos baratos que vêm da China e tiram o emprego de um americano. Muita gente não vê que esse produto barato alimentou o consumo, e isso tem um impacto econômico, no comércio, na distribuição desses produtos, no bem estar das pessoas, já que mais gente pode usufruir de mais coisas. É uma relação comercial muito complexa, não se deve simplificar. Tem um pouco de medo, de ambos os lados? É claro que tem. É um misto de respeito, admiração e medo. Em minha opinião, para o benefício do mundo.

Tecnologística – O senhor acredita então que as relações mundiais de agora em diante serão assim, um misto de respeito com desconfiança, mas com vontade de integrar porque não tem outro jeito?
Zinn –
É isso mesmo. E acho que o mundo está melhor assim do que na época em que existiam blocos separados. E se hoje, conhecendo seu parceiro, já existe medo, imagine o que havia antigamente, quando vinha junto a ignorância: você não sabia o que o outro estava fazendo. Quando existe este tipo de ignorância, o medo aumenta. As reações que as pessoas têm com medo são imprevisíveis. Mas acho que isso não tem nada a ver com logística, não é? (risos).

Tecnologística – Com a crise econômica atual, o mercado vai deixar de ser tão desregulamentado?
Zinn –
Sim. O humor do público americano por menos regulamentação já passou. Eles desregulamentaram muito e tendem agora a voltar um pouco atrás. Isso sim pode ter implicações na logística. Regulamentações trabalhistas, de segurança e financeiras devem amarrar um pouco o trabalho do profissional de logística, o que é mais uma coisa para agregar na nossa lista inicial.

Tecnologística – Em sua palestra o senhor falou que existe uma certa tendência de refluxo no processo de globalização. Até que ponto ela vai?
Zinn – Existe um receio de que se o custo do petróleo, e de energia no geral, ficar num patamar muito alto, supply chains de longa distância ficariam com custos muito altos, além de terem riscos maiores. Talvez no curto prazo haja um pouco desse retrocesso. Eu particularmente acho que, se houver, será pouco. Acredito que a globalização é um processo que não vai parar, mesmo que sofra uma pequena desaceleração. A integração do mundo é causada por tecnologia de informação e por diferenças de custos. Estes são os dois pilares básicos da globalização. As coisas são produzidas num lugar A ou B a custos diferentes, e com a TI todo mundo sabe disso e consegue gerenciar. Então essas duas forças ninguém pára mais. O mundo será cada vez mais integrado.

Silvia Marino


Leia a entrevista completa do professor Walter Zinn na edição de outubro da Revista Tecnologística

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