A chamada "taxa das blusinhas", cobrança de 20% de imposto de importação sobre os itens até US$50, pode estar mudando o cenário do e-commerce brasileiro. Dados do prgrama Remessa Conforme levantados pelo Santander e divulgados pelo Estadão mostram que, com a taxação, foram registradas quedas nas vendas online de produtos importados, sobretudo de varejistas chinesas.
Em julho, antes da implementação da taxa, foram registradas cerca de 19 milhões de remessas de até US$ 50, com valor total declarado de R$ 1,812 bilhão. Já em agosto, quando passou a ser cobrado 20% de imposto de importação sobre os itens com este valor, as compras recuaram para 11 milhões, uma queda de aproximadamente 42% (com valor aduaneiro de R$ 902 milhões).
A perda de disposição dos consumidores em comprar produtos estrangeiros se manteve em setembro, com os mesmos 11 milhões de remessas do mês anterior e um incremento de R$ 42 milhões de impostos declarados.
A taxa de importação de 20% sobre itens de até US$50 foi sancionada no final de junho do ano passado e, em agosto, o governo federal lançou o programa Remessa Conforme, um plano de conformidade para empresas estrangeiras que regulariza as transações e requer cadastro na Receita Federal. Varejistas como Shein, Shopee, AliExpress, Mercado Livre e Amazon aderiram voluntariamente à certificação e passaram a informar a Receita sobre as vendas remetidas ao País. A medida foi inserida no projeto que regulamenta o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover) e cria incentivos às montadoras.
Varejo brasileiro ganha impulso
De acordo com o head de varejo do Santander, Ruben Couto, as varejistas nacionais ganharam participação de mercado no decorrer de 2024, o que coincide com o aumento dos impostos aos estrangeiros.
No terceiro trimestre, as vendas nominais da C&A cresceram 19% em relação ao mesmo período de 2023. Já as Lojas Renner tiveram alta de 12%, e a Guararapes (Riachuelo), de 11%. Ambas tiveram desempenho acima do mercado de vestuário, que cresceu 6%, de acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC/IBGE).
Para Couto, os efeitos do programa Remessa Conforme adotados no ano passado demoraram para se refletir nos extratos financeiros, uma vez que as empresas internacionais foram aderindo aos poucos ao programa.
“Já desde o primeiro trimestre do ano ficou muito mais rítmico o ganho de participação das empresas listadas aqui no Brasil, até por que (essa discussão) fez as varejistas acordarem para o mundo do e-commerce, que é uma estratégia já dominada pelo comércio cross-border (transfronteiriço)”, disse.
Segundo o analista de consumo e varejo do BTG Pactual, Luiz Guanais, no começo de 2024 havia uma diferença de preço entre 25% e 30% na relação entre os produtos do varejo local e os estrangeiros. Após a implementação da “taxa das blusinhas”, o banco identificou que a diferença de preço caiu para 10%.
Nos dois casos, os produtos locais continuaram mais caros que os estrangeiros e os cálculos foram feitos com base em uma cesta de produtos das empresas Renner, C&A e Guararapes em relação à Shein.
*Com informações do Estadão