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Mercado de caminhões: setor mostra otimismo, mas aguarda iniciativas do governo federal

As montadoras de caminhões comemoram a retomada das vendas e anunciam as tendências de mercado e de desenvolvimento de produtos. Atuação do novo governo e medidas prioritárias, contudo, devem pautar as ações e os planos de investimentos da indústria
Por Redação em 25 de fevereiro de 2019 às 12h37 (atualizado às 16h36)
Mercado de caminhões: setor mostra otimismo, mas aguarda iniciativas do governo federal

Mercado de caminhões: setor mostra otimismo, mas aguarda iniciativas do governo federal

As notícias são boas para as montadoras e para o setor de caminhões. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as indústrias do setor emplacaram, em 2018, 75.987 unidades – entre caminhões leves, semileves, médios, semipesados e pesados –, crescimento de 46,3% frente a 2017, quando foram licenciados 51.941 veículos.

Depois de um período de retomada tímida (leia mais aqui), as companhias puderam respirar e comemorar o novo cenário. Agora, elas traçam estratégias e divulgam tendências, mas cobram medidas governamentais que possam contribuir com o mercado. A Tecnologística ouviu os executivos do setor e traz um panorama do que está por vir não só quanto às novidades e lançamentos, mas também quanto às reivindicações da indústria.

Mercado aquecido

Schiemer, da Mercedes-Benz
Schiemer, da Mercedes-Benz

Segundo o presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO para a América Latina, Philipp Schiemer, o clima realmente é de otimismo. “Este ano as vendas de caminhões no Brasil deverão ser puxadas pelo aumento da safra de grãos, reação do setor da construção civil, aumento de demanda de logística e maior movimentação do transporte de produtos químicos”. O diretor Comercial da Scania no Brasil, Silvio Munhoz, concorda com Schiemer. “Os desafios logísticos do território brasileiro são enormes e necessitam de investimentos e dosagem correta de criatividade e soluções mais eficientes”, diz.

Cavalcanti, da Volvo
Cavalcanti, da Volvo

Já o diretor Comercial de Caminhões Volvo, Alcides Cavalcanti, é mais cauteloso e espera que a recuperação da economia continue consistente, com impacto positivo no setor de transportes comerciais. Ricardo Barion, diretor de Marketing e Vendas da Iveco para a América Latina, segue a linha de pensamento de Cavalcanti. “Estimamos que o segmento de caminhões continue em crescimento, mas em patamares um pouco menores do que 2018”, revela.

A segmentação parece ser um dos caminhos para continuar retomando o mercado. Na Foton, essa será a estratégia. “O agronegócio vem crescendo, o comércio regular também apresenta sinais positivos de retomada e os negócios gerados pelo e-commerce apresentam um espiral muito promissor de crescimento sustentável que certamente vai se segurar por mais uma década, no mínimo. E é exatamente nesses setores que a Foton vai atuar com mais ênfase no Brasil”, conta o diretor de Desenvolvimento de Produto, Eustáquio Sirolli.

Direcionar o foco também faz parte do escopo de ações da BYD, de acordo com o diretor de Marketing, Sustentabilidade e Novos Negócios, Adalberto Maluf. “Os números de 2018 já foram bem positivos para o setor automotivo brasileiro, em especial para os transportes pesados. Essa tendência deve continuar nesse ano”, completa o executivo.

Novo governo federal

As expectativas do setor, contudo, estão diretamente relacionadas à atuação do novo governo. A Mercedes-Benz, por exemplo, espera que a equipe econômica e as demais áreas do novo governo realizem as promessas de campanha, como o controle de gastos públicos, a redução do déficit fiscal, queda da carga tributária, reforma da previdência e tributária, além da resolução da crise dos estados. Do ponto de vista da indústria, também é extremamente importante pensar em longo prazo, fortalecendo a competitividade global.

Munhoz, da Scania
Munhoz, da Scania

Na Scania, a expectativa é que o governo trabalhe para viabilizar o crescimento econômico contribuindo com o bem estar da população. Medidas feitas com esse objetivo auxiliariam o segmento de caminhões, totalmente ligado ao desempenho da economia.

A Volvo considera a equipe de técnicos do governo altamente qualificada, com grande experiência e com propostas modernizantes para a economia brasileira, enquanto a Iveco também espera que sejam promovidas as reformas devidas a fim de que seja emitido um sinal de previsibilidade para o mercado.

A expectativa da Foton é de que, agora, haja mais previsibilidade com relação às importações, à produção e às tarifas. A empresa considera que a nova equipe econômica vem demonstrando que pretende executar as reformas necessárias para destravar a economia. Já na BYD, a predominância é de otimismo graças à nomeação de profissionais com perfil mais técnico em cargos estratégicos relacionados à indústria, minas e energia e às ciências e novas tecnologias.

Ações prioritárias

Mesmo com todo o pensamento positivo graças à retomada do setor e às primeiras iniciativas do governo federal, a indústria necessita de medidas pontuais. Schiemer, da Mercedes, aponta que é necessário incentivar a renovação de frota, porque isso traz impacto positivo em termos de redução de custos operacionais para os clientes e de diminuição no índice de emissões, representando um bem para a sociedade como um todo. “Na Mercedes-Benz, desenvolvemos nossos veículos visando assegurar a excelência operacional e a rentabilidade para os clientes, como também a compatibilidade ambiental, contribuindo para a melhoria da qualidade do ar”, diz.

As reformas prometidas pelo novo governo, como da previdência e tributária, devem eliminar importantes gargalos. “Esperamos que isso ocorra rápida e efetivamente, o que seria muito bom para o mercado e para o país”. O diretor Comercial da Scania, Munhoz, também lembra da urgência das reformas. “Elas são fundamentais para a economia brasileira, e vão trazer benefícios muito grandes para toda a sociedade.”

Na opinião de Cavalcanti, da Volvo, é difícil estabelecer conjecturas específicas e mais detalhadas, mas ele também acredita que nos benefícios das reformas. “Modernizar a economia garante mais desenvolvimento econômico, mais exportação, mais divisas para o país e melhor qualidade de vida de uma maneira geral para toda a população. E tudo isso gera mais demanda pelo transporte em caminhões”, resume.

Barion, da Iveco
Barion, da Iveco

Previsibilidade é a palavra-chave, afirma Barion, da Iveco. “Um ambiente estável e previsível permite que a economia cresça de forma orgânica e sustentável”, aposta o executivo. Sirolli, da Foton, ressalta que certamente uma política de maior abertura do país aos produtos importados traria grande benefício ao setor. “O Brasil precisa se abrir para o mundo para se tornar mais competitivo e atrair mais investimentos que, por sua vez, trarão mais inovações tecnológicas”, destaca.

Maluf, da BYD
Maluf, da BYD

Para Maluf, da BYD, que aposto nos veículos elétricos, um ponto que merece atenção é o incentivo do estado visando isonomia tributária. “Queremos que o elétrico pague os mesmos impostos de um flex. Outros tipos de incentivos, como isenções de IPVA, pedágios e políticas de estacionamento prioritários nas cidades também podem ajudar, mas o valor financeiro do veículo ainda é o maior gargalo. Os preços dos veículos elétricos poderiam ser bem mais competitivos se fosse aplicada uma política de impostos competitiva.”

Tendências

Perspectivas, demandas, gargalos e ações prioritárias. O setor debate e aguarda iniciativas governamentais. Mas o que vem por aí? O que a indústria está desenvolvendo e pretende fazer nos próximos anos?

Schiemer diz que o setor de veículos comerciais demanda, cada vez mais, produtos e serviços com foco na redução de custos operacionais, assimilando novas tecnologias que também trazem mais conforto e produtividade para os motoristas. “Como líder no desenvolvimento de veículos comerciais no mundo e no Brasil, a Mercedes-Benz está trabalhando com soluções para hoje e para os próximos anos. Quando o mercado estiver maduro e preparado para inovações, estaremos ao lado dos clientes para continuar assegurando qualidade e confiabilidade a cada novidade”, garante.

Além disso, completa o executivo, com investimentos na modernização das fábricas rumo à Indústria 4.0 e a contratação de colaboradores, a Mercedes-Benz do Brasil está aumentando o ritmo de produção de caminhões a fim de atender às demandas do mercado. “Nossa expectativa, nesse sentido, é alcançar um crescimento de dois dígitos nas vendas de veículos comerciais em 2019”, calcula Schiemer.

De acordo com Munhoz, a Scania acompanha com otimismo as expectativas positivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) informadas por diversos especialistas e entidades para os próximos anos. “Internamente continuaremos a fazer nossa lição de casa, ou seja, na busca por reduções de custos e sendo mais eficientes para podermos ser mais competitivos. Acreditamos que em 2019 o mercado de caminhões acima de 16 toneladas – semipesados e pesados – deverá crescer entre 10% e 20% na comparação com 2018.”

Na Volvo, a meta é continuar investindo no desenvolvimento de produtos que apresentem alto grau de tecnologia embarcada e grande conectividade. “Por sermos um grupo industrial internacional com ações na bolsa de valores, não podemos fazer previsões de vendas de nossas marcas. Mas podemos afirmar que no Brasil estamos esperando que o mercado total experimente uma expansão entre 15% e 20% este ano”, anuncia Cavalcanti.

Barion conta que a tendência na Iveco é ofertar produtos e serviços que oferecem alta tecnologia aliada ao baixo custo de operação. “Vamos acompanhar o crescimento do mercado, investir em novos produtos e aprimorar ainda mais os serviços de pós-venda. Ainda há um grande número de veículos que precisam ser renovados. A expectativa é que 2019 seja um ano positivo para o setor e para a o Brasil como um todo”, diz.

Sirolli, da Foton
Sirolli, da Foton

Sirolli, da Foton, aposta que a eletrificação é o caminho, especialmente para os países mais desenvolvidos, onde já há uma excelente infraestrutura rodoviária e existem grandes avanços nesta área. Já para o Brasil, afirma, essa tendência vai levar mais tempo e no curto e médio prazos o que a empresa tem a oferecer por aqui é um veículo ambientalmente correto com um motor de baixa emissão, mas ainda movido a diesel. “Enxergamos mais estabilidade na economia com viés de crescimento sustentável. Sabemos que teremos um ano melhor, mas não temos como fazer uma projeção com um índice de crescimento para a Foton no Brasil porque estamos iniciando neste ano nossa operação com intenso apoio da Foton China.”

A BYD segue a tendência de eletrificação. Mas segundo Maluf, há outros pontos que merecem destaque, como a maior conectividade e a oferta de produtos e serviços autônomos.  “Nossa expectativa para 2019 e 2020 é nos consolidarmos como a líder do mercado, ampliar a oferta de pontos de recarga para nossos clientes e, aos poucos, ir trazendo novos modelos de caminhões elétricos”, pontua o executivo.

Fábio Penteado

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