Assim como diversos outros segmentos econômicos, as mulheres ainda buscam equidade de gênero, não apenas em salários, mas também em oportunidades nos mais diversos âmbitos das organizações. Em 2022, por exemplo, apenas 3,4% dos condutores habilitados para dirigir caminhões, ônibus e carretas eram mulheres, de acordo com a Secretaria Nacional do Trânsito (Senatran).
Em São Paulo, maior cidade brasileira, dos 70.641 motoristas admitidos em 2021, apenas 1,51% eram do gênero feminino, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Apesar do setor de transporte rodoviário de cargas (TRC) ter aumentado em 61% as contrações de mulheres em 2022, de acordo com o Instituto Paulista do Transporte de Cargas (IPTC), órgão de pesquisa parceiro do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (SETCESP), a maioria dessas mulheres ainda se concentra em áreas administrativas.
Nos cargos de liderança o cenário é mais favorável para as mulheres, mas ainda distante da igualdade de oportunidades e também de respeito no ambiente de trabalho. Atualmente, 32% das lideranças de grandes empresas são femininas, de acordo com a pesquisa Women In Business 2022 da Grant Thornton. Além disso, segundo a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), três a cada quatro mulheres já sofreram algum tipo de assédio dentro do ambiente de trabalho e 77% delas também presenciaram situações com outras colegas.
Cenário do transporte de cargas
Quando fazemos um recorte para apenas o setor de transporte de cargas, percebemos que o cenário não é muito diferente. Conforme o levantamento do Instituto Paulista do Transporte de Carga (IPTC), as mulheres representam apenas 24% das funções, em sua grande maioria em atividades administrativas.
“Há inúmeros desafios que as mulheres enfrentam para se candidatar a esses cargos. Há barreiras culturais limitantes que impedem as empresas de enxergarem as mulheres como possíveis candidatas a promoções, como maternidade, tarefas domiciliares, entre outros”, explica Ana Jarrouge, presidente executiva do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (SETCESP).
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Outra pesquisa ainda apresenta dados alarmantes como a realizada pela McKinsey/LeanIn.Org, que revelou que 37% das dirigentes femininas já deram ideias pelas quais outras pessoas receberam os créditos. A pesquisa também destacou um cenário ainda pior para as mulheres negras, que sofreram 1,5 vezes mais do que mulheres de outras etnias, com colegas afirmando ou insinuando que não são qualificadas para seus cargos.
"Acho difícil encontrar alguma mulher que responda que não [sofreu assédio]. Mais do que vivenciar ou presenciar, o importante é como reagir a tal situação. Ignorar, seguir em frente, enfrentar, denunciar, cada um sabe o que deve fazer em momentos como este, indo de acordo com a gravidade da situação. Eu sigo em frente porque acredito que podemos melhorar e superar qualquer tipo de restrição, de preconceito ou de limitação. Nossa resiliência nos tornará mais fortes e nos capacitará todos os dias para alçar voos mais altos, mesmo diante das adversidades", conta Ana Jarrouge.
Disparidade salarial
Se nos casos anteriores, apesar de insuficientes, é possível notar avanços nos últimos anos, quando o assunto é disparidade salarial, não é possível afirmar o mesmo. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a diferença de salários entre gêneros saltou de 20%, em 2017, para 22%, em 2021, um retrocesso de 2 p.p..
Com isso, no último dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o presidente Lula (PT) apresentou um pacote de medidas para garantir a igualdade salarial para pessoas que exercem a mesma função. O anúncio aconteceu no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), com ministros do governo e representantes de bancos públicos.
Vencendo o preconceito
Líderes femininas apresentam resultados melhores do que homens no Grupo Move3. Atualmente, a empresa conta com 50% do corpo gerencial sendo formado por mulheres. “No total, são centenas de colaboradoras, especificamente 871 mulheres e 970 homens no grupo, exceto apenas pela Rodoê. Todos recebem igualmente de acordo com seus cargos”, conta Bruna Campos, gerente de RH.
De acordo com a empresa, a busca por equidade de gênero dentro da corporação tem aumentado os resultados. O SLA (Service Level Agreement) de atendimento ao cliente, por exemplo, subiu de uma média de 70% para 95% sob a gerência delas. “Percebemos que as mulheres, de forma geral, tem um jeito melhor de gerir e de alcançar resultados”, complementa Bruna.
Já a CAP Logística Frigorificada tem 100% da diretoria composta por mulheres. A Cap foi fundada por Luiz Paulino Moreira Leite e hoje suas três filhas, Dannieli Moreira Leite, Viviane Moreira Leite e Glaucia Leite, fazem parte da direção e conselho da empresa.
“Hoje a Cap Logística tem um time feminino composto por 100% de mulheres na diretoria e também na área administrativa e 5% na área operacional nas duas unidades que temos”, afirma Dannieli Moreira Leite, diretora e conselheira Administrativa da Cap Logística Frigorificada.
ESG impulsiona contratações afirmativas
Com apoio a programas que promovam a presença de mulheres no transporte rodoviário de cargas, o cenário do mercado de trabalho tem sido transformado nos últimos anos. Entre essas iniciativas estão os programas Movimento Vez & Voz, idealizado Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região (SETCESP); e o Movimento A Voz Delas, da Mercedes-Benz.
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Além disso, ainda existem os programas internos como o Programa Tração - Escola de Motoristas, uma iniciativa realizada pela Rodonaves desde 2010, para a formação de novos habilitados, que atualmente possui turmas especialmente para mulheres que queiram atuar na função dirigindo profissionalmente um caminhão de qualquer porte.