De cada cem produtos que o consumidor argentino procura quando vai às compras, 17 não são encontrados nas prateleiras dos supermercados. Esse é o índice médio de ruptura ou falta de produtos nas gôndolas registrado no País vizinho, de acordo com o Segundo "Estudio sobre los Faltantes de Mercadería em Góndola (FMG II)", divulgado recentemente pela entidade ECR Argentina. O maior prejudicado com a falta de produtos nas prateleiras é o consumidor, que, além de insatisfeito, paga pelos danos causados por esse ciclo de ineficiência no preço final dos produtos. Reduzir os problemas de gestão de ruptura e de relacionamento entre a indústria e o varejo, portanto, passou a ser uma questão de sobrevivência para os dois setores. Várias empresas já se deram conta da importância da questão e estão buscando formas conjuntas de aumentar a produtividade.
Realizada em oito cadeias de supermercados da capital, Grande Buenos Aires e algumas cidades no interior do país, a medição foi efetuada em 205 lojas, em diferentes dias da semana, e foram pesquisados mais de 732 produtos de alta, média e baixa rotatividade das categorias de alimentos, bebidas, cuidados pessoais e limpeza, dos quais 17,1% não foram encontrados nas prateleiras.
Cruzados os dados com as estatísticas de vendas do instituto de pesquisa ACNielsen, a pesquisa revelou que os supermercados argentinos deixam de faturar 502 milhões de pesos (496 milhões de reais) aproximadamente em razão da falta do produto no momento da compra. De acordo com o estudo da ECR Argentina, os locais de venda foram os principais responsáveis pelo problema, com 41,07% de participação. Em seguida, ficaram os fornecedores (24,73%), centros de distribuição (21,29%) e as áreas de compras dos supermercados (12,91%).
A ruptura de gôndola é um problema que atinge mercados de todas as partes do mundo. É uma das principais causas de insatisfação dos consumidores e um dos fatores responsáveis por perdas de vendas e de lucratividade da indústria e do varejo em geral, inclusive do comércio de medicamentos. Pesquisa realizada com 32 mil leitores da revista norte-americana "Consumer Reports", especializada em varejo farmacêutico, mostrou que as maiores queixas dos consumidores são relacionadas à falta de produtos.
Retrato brasileiro - No Brasil, os raros indicadores disponíveis revelam que a situação é parecida com a verificada em outros países. Um deles, apurado pela Procter & Gamble, revela que, em média, os supermercados brasileiros perdem 52% das vendas e os fabricante, 53%. O levantamento da multinacional analisou o comportamento dos consumidores brasileiros em relação ao problema da falta do produto.
A primeira reação deles foi a de frustração e mostrou que tanto o varejo quanto a indústria perdem nessa situação, pois em seguida o consumidor pode comprar em outra loja, adiar a compra, não efetivar a compra, adquirir outra marca ou comprar produto similar.
No varejo farmacêutico nacional, a falta de um único item listado na receita médica aumenta as chances do consumidor sair da loja sem comprar nada. A conclusão faz parte do estudo realizado por acadêmicos da Fundação Getúlio Vargas, vencedor do 3º Prêmio ECR de Pesquisa, o qual avaliou o grau de aplicação das técnicas de reposição eficiente, uma das principais ferramentas de ECR, utilizada para diminuir os pontos de ruptura nas gôndolas e, assim, reduzir estoques e custos logísticos.
"Esse é um problema crucial para as farmácias com grande concentração de vendas de produtos com receita médica", explica Orlando Cattini Junior, um dos autores do estudo e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (Eaesp/FGV). "A falta de um produto pode gerar um impacto mais profundo no faturamento do estabelecimento farmacêutico do que no varejo supermercadista. Caso falte um deles, as chances de o consumidor deixar o estabelecimento sem comprar nada são muito mais altas".
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