Dezesseis dos principais prestadores de serviços logísticos que operam no mercado brasileiro fundaram, no último dia 17 de julho, em São Paulo, a Associação Brasileira de Operadores Logísticos – ABOL, que tem por objetivos principais promover a atividade logística e sua compreensão junto às autoridades, além de defender os interesses do segmento que, de acordo com seus fundadores, não são completamente endereçados pelas associações já existentes, apesar de sua importância para a economia.
No ato da constituição da ABOL, as empresas estavam representadas por seus presidentes ou executivos sêniores, o que mostra que a entidade já nasce com peso. As sócias-fundadoras da associação e seus respectivos representantes foram: AGV Logística, representada pelo seu presidente, Vasco Carvalho Oliveira Neto; Brado Logística (José Luís Demeterco, CEO); DHL do Brasil (Eduardo Nogueira, diretor Jurídico); Elog (representada pelo presidente do Tecondi, Luís Augusto Ópice); Gafor (Sérgio Maggi Jr., presidente); Golden Cargo (Oswaldo Dias de Castro Jr., diretor-geral); Grupo TPC (Luís Eduardo Chamadoiro, vice-presidente); Libra Logística (Sebastião Furquim, diretor-geral); Penske Logistics (Paulo Augusto Sarti, diretor-presidente no Brasil); Rapidão Cometa (Américo Pereira Filho, presidente); TA Logística (Celso Delle Donne Lucchiari, presidente); Tegma Gestão Logística (Gennaro Odonne, diretor-presidente); Transportes Luft (Mário Mendonça, vice-presidente); Wilson, Sons, Logística (Thomas Rittscher III, diretor executivo); e Veloce Logística (Paulo Guedes, presidente).
Pelo estatuto, poderão associar-se à ABOL empresas caracterizadas como operadores logísticos, que tenham em seu escopo o gerenciamento do todo ou de partes da cadeia logística, tendo competência para prestar, simultaneamente, serviços em ao menos três atividades básicas: controle de estoques, armazenagem e transportes. Para fazer parte da ABOL, a empresa deverá ter, ainda, faturamento acima dos R$ 100 milhões, considerando as atividades de uma única empresa ou do grupo, e possuir certificações ISO (International Organization for Standardization) ou SASSMAQ (Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde e Meio Ambiente).
O “mentor intelectual” da ABOL é Luís Augusto Ópice, que no ano passado deu início ao movimento de reunir os demais operadores em torno da nova associação. “A ideia surgiu tempos atrás, quando fui convidado para concorrer à presidência da Aslog – Associação Brasileira de Logística. Quando me envolvi um pouco mais naquela entidade, percebi que ela representava os profissionais de logística, e não os operadores logísticos. Desisti de concorrer e fiquei com o assunto latente, de criar uma entidade que efetivamente representasse o setor. No ano passado, quando retornei às atividades num grande operador logístico, comecei a organizar a nova associação que agora surge”, conta Ópice.
Segundo o executivo, a entidade já nasce com uma grande representatividade, pela importância das empresas fundadoras e pelo nível dos membros participantes. “O ato de fundação foi firmado pelas principais empresas nacionais e multinacionais que fazem operação logística no Brasil. Decidimos começar com um grupo menor para dar mais foco, mas outras empresas que não participaram deste primeiro momento serão muito bem-vindas. A ideia é, através de uma pauta de assuntos prioritários, começar a agir firmemente em defesa de nossos interesses”, conta Ópice.
A pauta foi definida através de uma lista de temas elaborada pelas empresas fundadoras, da qual foram tirados alguns temas considerados por todos como mais prementes. Foi consensual a necessidade de focar, inicialmente, em poucos temas. Questões como relações sindicais, legislação trabalhista e tributária, regulamentação da atividade, além da infraestrutura logística, serão priorizadas.
“A agenda é grande e rica, pois temos muitas questões pendentes, mas não vai dar para endereçar tudo de cara. Por isso decidimos priorizar estes temas que afetam mais diretamente nossa lucratividade e até mesmo o exercício de nossa atividade”, coloca o diretor-presidente da Wilson Sons, Logística, Thomas Rittscher. “Com uma atuação conjunta, podemos influir para evitar desvios e interferências que atrapalham muito nossos negócios”, continua. “Por exemplo, tem havido movimentos fortes de sindicatos e do poder público no entendimento de que algumas atividades das empresas são fins e, portanto, não podem ser terceirizadas. Isto é absurdo, é uma ingerência muito grande no negócio. Já chegamos a perder atividades que fazíamos para clientes por conta disso.”
Outro sócio-fundador, Oswaldo Castro Jr., ressalta a homogeneidade do grupo, todo focado unicamente na operação logística. “Eu participo de outras associações e, de fato, embora algumas atividades e problemas sejam comuns, elas não cobriam integralmente as necessidades dos operadores logísticos. A ABOL já nasce agrupando empresas que têm como core a logística, formando uma entidade com interesses convergentes. Isto é muito bom, pois não há conflitos e o que for endereçado será do interesse de todos. E são todas empresas grandes, com faturamento acima dos R$ 100 milhões, o que dá mais representatividade”, acredita o diretor-geral da Golden Cargo.
Legislação ultrapassada
Uma das principais preocupações do setor é em relação à legislação, tanto a vigente, que, segundo os representantes, está ultrapassada e não atende às novas necessidades do setor, quanto as novas medidas que vêm sendo colocadas, que oneram a atividade e para as quais o segmento sequer foi ouvido. Um exemplo é a MP 563, aprovada ano dia 16 de julho passado, que desonera a folha de pagamento de diversos setores, mas deixa de lado o transporte de cargas. “Nós somos o setor que mais emprega mão de obra neste país e os custos sobem a cada ano. Temos cada vez mais restrições que provocam perda de produtividade; as exigências sobre nós só aumentam. Vide a nova legislação referente aos motoristas profissionais. E, quando há uma desoneração, nosso setor fica de fora. Por isso precisamos de uma entidade forte, que nos represente nestas questões e mostre ao Governo Federal e às entidades estaduais nossa importância para a economia do País”, afirma o presidente da AGV Logística, Vasco Carvalho Oliveira Neto.
Segundo ele, as questões que emperram o setor vão desde as trabalhistas até as tributárias. “As autoridades, muitas vezes, não entendem nossa atividade. A legislação contempla o transporte, a armazenagem, mas não os integradores de todos esses serviços. Não somos sequer reconhecidos do ponto de vista legal”, complementa.
No ato da fundação, foram formados os Conselhos Administrativo e Fiscal, tendo o primeiro o diretor-presidente da Penske Logistics, Paulo Sarti, como presidente, e Vasco Oliveira como diretor-executivo. “Mas são cargos provisórios, indicados para cumprir determinações legais. A ideia é termos à frente da ABOL um diretor-executivo de mercado, dedicado exclusivamente à função. Não dá para tocar uma empresa e uma associação simultaneamente”, diz Oliveira. Para encontrar este executivo, está sendo contratada uma consultoria especializada em head hunting.
A nova associação poderá ter membros associados efetivos, que são aqueles que exercem diretamente as atividades-objeto da entidade, divididos em fundadores, que subscreveram a ata de constituição da ABOL, e regulares, associados após a fundação. Além destes, existe a figura dos associados indiretos, que não exercem diretamente a atividade, mas estão ligados a ela, que podem ser corporativos (empresas), colaboradores (pessoas físicas), universitários (professores e estudantes) e honorários, estes aprovados pelo Conselho Deliberativo.