Programa de testes definirá o tamanho máximo de um comboio para escoamento do minério de ferro até a Argentina
Um contrato de parceria de cooperação técnica entre a Rio Tinto e a Marinha Brasileira foi assinado ontem, 19 de março, com o objetivo de aprimorar o processo de avaliação das dimensões máximas de comboios fluviais que operam no trecho brasileiro do Rio Paraguai. O convênio visa tornar mais eficaz a navegabilidade do rio, por onde escoa a produção de minério de ferro da empresa desde o Porto Gregório Curvo, na cidade de Corumbá (MS), até o Porto de San Nicolas (Argentina).
A Rio Tinto investiu US$ 100 mil em um simulador de posicionamento dinâmico (DP), desenvolvido pela empresa brasileira Symmetry e instalado no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (Ciaga), de propriedade da Marinha e localizado na cidade do Rio de Janeiro.
Em integração com o simulador naval da Marinha, a solução dará suporte para a criação de técnicas e procedimentos de avaliação operacional de hidrovias, portos e terminais, e a realização de testes de novas tecnologias para o setor de logística fluvial e marítima, além de permitir a capacitação de profissionais do segmento náutico. Será possível simular, por exemplo, a atracação de navios em encostas de difícil acesso e também verificar o ganho de velocidade e poder de manobra que um novo propulsor permitiria à determinada embarcação.
O contra-almirante Luís Antônio Malafaia explica que esta é a primeira parceria da Marinha com uma empresa do segmento fluvial. A aliança entre uma empresa privada e um órgão governamental trará ao Ciaga, segundo ele, o conhecimento e a expertise necessários para a continuidade de projetos com outras empresas do setor de navegação, mas considerando-se caso a caso. “Para outros interessados em realizar pesquisas, serão necessários parâmetros diferentes, como os tipos de embarcações e áreas de atuação. Dificilmente uma outra empresa tiraria proveito dos resultados dessa parceria com a Rio Tinto, pelo tipo de embarcação e de carga”. Ele atribui o fato de a Marinha participar pela primeira vez de um projeto neste segmento ao desconhecimento das empresas na capacidade do Ciaga em realizar estudos nesta área.
Economia e viabilidade
Com a aplicação de novas tecnologias na área do transporte fluvial, a Rio Tinto estudará a ampliação dos comboios, atualmente compostos por um rebocador e 20 barcaças, utilizados no transporte do minério extraído pela Mineração Corumbaense (MCR), empresa do Grupo Rio Tinto. Este aumento permitiria um uso mais eficiente do rio Paraguai, assim como o aumento da produção da mina – estima-se que o comboio poderá chegar a 25 barcaças, impulsionadas por dois rebocadores.
Para José Luiz Carvalho, vice-presidente de Logística Fluvial da Rio Tinto, a questão de avaliação das dimensões máximas de comboios fluviais não é somente econômica, mas também envolve a viabilidade do projeto: “Quando é aumentado o volume do comboio, utiliza-se a mesma tripulação daqueles menores e praticamente o mesmo volume de combustível”, afirma ele, completando que o combustível representa 50% do custo da navegação. “À medida que se trabalha com comboios maiores, é possível investir menos capital e gastar menos combustível, viabilizando um projeto de mineração cuja distância até a costa, para a exportação, é de 2.500 km em uma viagem de 28 dias”.
A iniciativa do convênio é parte dos esforços da Rio Tinto para expandir e melhorar a logística fluvial no país e também favorecer o desenvolvimento econômico e social do Mato Grosso do Sul, mais precisamente do município de Corumbá. A Rio Tinto Brasil é a subsidiária do grupo anglo-australiano Rio Tinto, o segundo maior de mineração do mundo, com operações em mais de 20 países na produção de minério de ferro, cobre, alumínio, carvão, dióxido de titânio, boro, talco, urânio e diamantes.
Tecnologia
A parceria entre a Rio Tinto e a Symmetry, empresa voltada ao desenvolvimento de tecnologia para a indústria offshore, teve início em 2004 quando se verificou a possibilidade da utilização do simulador para a melhoria das operações com comboios. Foram então desenvolvidas novas ferramentas para a navegação marítima, já que a solução anterior estava totalmente voltada para manobras próximas à plataforma e lançamento de linhas ópticas e flexíveis.
“A intenção era fazer este sistema funcionar em um rio, onde não há muito espaço de manobra e as correntes mudam constantemente, para aumentar a eficiência desta navegação”, explica Anselmo Pontes, diretor-presidente da Symmetry. Este foi o primeiro contrato estabelecido entre as duas empresas para o fornecimento da solução e, agora, a Symmetry volta a fornecer à Rio Tinto o simulador instalado no Ciaga, idêntico aos equipamentos já instalados nas embarcações.
Expansão das atividades
A MCR produz atualmente 1,5 milhão de toneladas de minério de ferro por ano e planeja expandir esta capacidade de produção para dar suporte ao pólo siderúrgico que será instalado a 45 km de Corumbá. A previsão de entrada em funcionamento é em 2008, após licenciamento ambiental, detalhamento da engenharia e negociação com investidores siderúrgicos.
O projeto prevê também o aumento da capacidade dos portos Gregório Curvo e San Nicolas, com novos sistemas de carregamento das placas de aço. Na Argentina, as placas serão descarregadas, estocadas e embarcadas em navio com capacidade de 75 mil toneladas, seguindo para os mercados consumidores. “O porto em Corumbá só está adequado para a movimentação a granel e, para os produtos siderúrgicos, serão necessárias modificações para a movimentação destas placas”, afirma Carvalho.