Evento realizado nesta quarta-feira pela manhã em São Paulo, organizado pela Associação Brasileira de Logística – Aslog, reuniu empresas do setor de logística e a IFC – International Finance Corporation, braço do Banco Mundial ligado ao setor privado – a fim de discutir condições de financiamento e fomento aos projetos de logística e infra-estrutura no País. A IFC é a principal instituição de desenvolvimento para o setor privado da América Latina e do Caribe e apóia a participação do setor privado brasileiro nos projetos de infra-estrutura, como navegação, estradas, portos, ferrovias, áreas de armazenagem e outros elementos da cadeia logística. Os projetos de infra-estrutura, aí incluídos outros setores além da logística, representam cerca de ¼ da carteira total da IFC no Brasil, que é de US$ 292 milhões. No final de dezembro de 2004, esta carteira era a maior da América Latina e a segunda maior do mundo, com US$ 1,2 bilhão em financiamentos por sua própria conta. De acordo com Saran Kebet-Koulibaly, diretora-associada da IFC, o desenvolvimento da infra-estrutura é um dos grandes desafios para o crescimento econômico do Brasil, daí a iniciativa de procurar a Aslog a fim de fazer a ponte entre a IFC e as empresas e entidades que representam o setor no País. "A logística é muito importante e a infra-estrutura é uma prioridade no mundo, principalmente no Brasil. Sempre ouvimos de nossos clientes que a logística agrega muito custo e, com a reorganização global das cadeias de suprimento, o País está em desvantagem pela precariedade de sua estrutura", afirmou. Para dar uma idéia dessa desvantagem, ela citou números do próprio Banco Mundial, mostrando que os custos logísticos representam 20% do PIB brasileiro; que a demora nas liberações das mercadorias nos portos brasileiros é de, em média, 14 dias na importação e oito dias na exportação, enquanto que na China, por exemplo, esses prazos são de sete dias e meio e cinco dias e meio, respectivamente. Já o custo de manter estoques é três vezes maior no Brasil do que nos EUA. "Por isso a infra-estrutura é um tópico tão importante", reforçou. Para o presidente da Aslog, Altamiro Borges Jr. (Foto), a participação da entidade neste processo de aproximação é importante e vem ao encontro de ações que a entidade já vinha promovendo, de discussões acerca da infra-estrutura e corredores logísticos no País. "Entendemos que esta é uma grande oportunidade de as empresas brasileiras terem condições de financiar os projetos que são hoje imprescindíveis para o seu próprio crescimento e do País. E é papel da Aslog auxiliar neste processo, por isso aderimos à idéia com tanto entusiasmo quando fomos procurados pela IFC e pretendemos atuar ativamente no processo", disse Borges. Modalidades A IFC trabalha com várias modalidades de investimentos, visando sempre o desenvolvimento sustentado, promovendo empréstimos e capital de risco para projetos do setor privado (a empresa não trabalha com projetos governamentais nem aceita garantia de governos); pode mobilizar recursos próprios ou de outros investidores, oferecer serviços de consultoria e também investir em participação acionária nas empresas. Neste último caso, a participação é sempre como acionista minoritário e nunca como gestora dos projetos. Ela pode participar em até o máximo de 25% do custo total de projetos superiores a US$ 50 milhões e 35% naqueles até US$ 50 milhões. Ela pode participar como catalisadora de outros investidores, de empréstimos e garantias, com participação acionária (equity) ou instrumentos híbridos, garantia e gerenciamento de risco. Os financiadores usam ativos dos projetos das empresas captadoras para garantir o pagamento e o retorno do investimento. Para Gabriel Goldschmidt, principal investment officer da IFC, é importante frisar que as empresas de logística que não possuem ativos fixos – o que é uma tendência crescente – podem usar como garantia seu fluxo de caixa e contrato com os clientes. Os empréstimos podem ser obtidos em moedas diversas, com taxas fixas ou flutuantes. Como trabalha com taxas diferentes das praticadas no mercado nacional, pode oferecer juros anuais mais baixos e a prazos mais longos, já que são sempre projetos de longo prazo. Mas Goldschmidt fez questão de frisar que "não pretendemos competir com as instituições financeiras locais, pelo contrário, queremos até trabalhar com elas; mas tornamos possível o acesso a financiamentos a empresas que, normalmente, teriam dificuldades de obter recursos pelas vias normais no Brasil", afirmou. Saran Kebet-Koulibaly reforçou que a função da entidade é de um facilitador para o estudo de projetos e obtenção de financiamentos, e que o processo de aproximação com as empresas locais deve ser o mais informal possível. "A empresa não precisa vir até nós com um business plan desenvolvido. Ela pode chegar até com uma idéia e nós orientaremos sobre a viabilidade e a melhor maneira de financiá-la", afirmou a diretora. As prioridades da entidade são para projetos voltados para os setores financeiro, de infra-estrutura, logística e de exportação. Mas também atua em outras áreas como energia e telecomunicações, entre outras. A IFC está presente em vários projetos no Brasil nas áreas de infra-estrutura e transporte. Em 2004, aprovou um empréstimo de US$ 90 milhões – dos quais US$ 45 milhões junto aos bancos participantes – para a Comgas, maior empresa de gás encanado do Brasil, para ampliação da rede; também aprovou empréstimo de US$ 16,2 milhões na expansão do Tecon Rio Grande (RS), dos quais US$ 8,1 milhões junto aos bancos participantes, para a expansão da capacidade do terminal. Participou ainda de projetos com as empresas América Latina Logística (ALL) e Cia. Vale do Rio Doce (CVRD). A IFC analisa a viabilidade dos projetos sob vários aspectos. Para ser elegível, por exemplo, um projeto tem de ser no setor privado (podendo, agora, ser parte de uma PPP), ter solidez técnica, boas perspectivas de rentabilidade e ser responsável em termos sociais e ambientais. A prioridade é para projetos que visem o desenvolvimento sustentável, ou seja, que promovam não apenas as empresas dele participantes diretamente, bem como todos os que são influenciados social e ambientalmente, promovendo o desenvolvimento sustentado de pólos de influência e regiões. Exemplo disso é o projeto do Tecon Rio Grande, cujo sucesso deu um impulso econômico significativo à cidade de Rio Grande via geração de empregos, melhores salários, treinamento e capacitação de serviços públicos. E a previsão é de que continue a elevar a eficiência da infra-estrutura de transporte na região, reduzindo o custo para exportadores e gerando divisas. "É a isso que chamamos sustentabilidade", ressaltou a diretora da IFC.
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