Em palestra inaugural do evento, o consultor americano Ph.D em Supply Chain abordou os principais desafios do setor em tempo de crise
Termina hoje o X Congresso da ABML, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, realizado durante a Fispal Tecnologia, feira voltada para o mercado de tecnologia em processamento e embalagens para alimentos e bebidas, que atrai cerca de 60 mil pessoas. O evento teve início ontem com a palestra inaugural do americano Christopher Norek, Ph.D em Supply Chain, dono da Chain Connectors, uma consultoria no assunto, e professor de diversas universidades dos Estados Unidos. Durante cerca de duas horas, ele discorreu sobre a importância de uma cadeia de suprimentos estratégica, planejada holística e continuamente, e sobre os principais erros dos executivos do setor, abordando temas como tecnologia, sustentabilidade, riscos, globalização e crise.
“Por dois anos precisei de uma espécie de tradutor para me entender com o responsável de TI na minha própria empresa, porque apesar de ambos falarmos inglês, nos comunicávamos em línguas completamente diferentes”. Assim Norek resumiu a dificuldade que tantas companhias têm com relação às novas tecnologias. A dúvida geralmente começa na hora de optar entre desenvolver um software próprio para determinada aplicação ou comprar um pronto e ter de lidar com a integração entre outros sistemas e treinamento de pessoal, além dos custos de licença.
O consultor salientou que, neste campo, a pergunta primordial a se fazer é: “quais são as funcionalidades de que minha companhia realmente precisa?”; ou seja, ter profundo conhecimento sobre quais são os indicadores que, se dominados, podem impulsionar diretamente a produtividade da sua supply chain. Quando a implantação de uma tecnologia não obedece essa premissa, frequentemente ela é abandonada. “Há quatro anos todas as empresas americanas decidiram que tinham que ter RFID, porque representava o futuro. Hoje, apenas 31% das corporações que aderiram ao sistema continuam usando-no”, exemplifica.
Sustentabilidade
Apesar de destacar que é fundamental pensar no meio ambiente, Norek afirma a sustentabilidade só é viável se o for também economicamente, e a maneira de se alcançar isso é seguir a fórmula de aumentar a produtividade da cadeia de suprimentos, usando cada vez menos recursos. “Por enquanto, as oportunidades que as empresas têm de adotar soluções ecologicamente corretas se resumem em pequenos passos, como procurar alternativas para economizar combustível e pintar os telhados de branco para diminuir o uso de ar condicionado”, acredita.
Ele alerta também para empresas que, na ânsia de mostrarem para o público que estão tomando iniciativas “verdes”, agem de forma desastrosa, inclusive do ponto de vista ecológico. O consultor cita a Natura como um bom exemplo nesse sentido: com o uso de embalagens em boa parte recicláveis, a fabricante de cosméticos criou para si uma boa imagem junto ao consumidor e alavancou o valor de suas ações na bolsa de valores.
Globalização e Crise
“A necessidade de se pensar a supply chain de forma estratégica cresce na mesma medida em que o mundo fica cada vez menor”, pondera Norek, completando que, “com cadeias mais longas, envolvendo diversos países, é fundamental pensar em cada elo, em tudo o que pode dar errado, e então criar um plano ‘B’ para minimizar possíveis danos. Principalmente em tempos de crise”. Segundo ele, este é o momento ideal para se investir em infraestrutura, por exemplo, e que o único país investindo pesadamente nesse sentido é a China – até por razões políticas. “Em países democráticos como o Brasil e os Estados Unidos, são necessárias licenças e autorizações para a construção de grandes portos e abertura de novas estradas. Na China, o governo simplesmente faz”, compara.
Mas o consultor está otimista em relação ao cenário econômico mundial. Para ele não há risco de a crise desencadear uma guerra global do comércio, com cada país impondo barreiras e defendendo ferrenhamente seus interesses. Pelo contrário, Norek aconselha que as empresas busquem parcerias com países vizinhos como alternativa ao congestionamento de portos, por exemplo, como os Estados Unidos fazem com relação ao México e ao Canadá. Ele aposta ainda que o mundo se reabilite mais rápido do que acreditam os analistas: “Em uma recessão, a recuperação costuma ser tão abrupta quanto a queda”.