Superintendentes apresentaram os gargalos das hidrovias nas regiões
O seminário “Hidrovias da Amazônia, Centro-Oeste e Nordeste” discutiu ontem, no auditório da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), em Brasília, os principais gargalos do transporte fluvial brasileiro e os desafios da intermodalidade. Participaram do encontro os superintendentes das Administrações das Hidrovias da Amazônia Ocidental (Ahimoc), Elpídio Gomes, da Amazônia Oriental (Ahimor), Michel Dib Tachy e do São Francisco (Ahsfra), Sebastião José Marques de Oliveira, cujas apresentações tiveram como foco desde a necessidade de dragagem até a interrupção de obras em sistemas de eclusas.
As hidrovias da Amazônia Ocidental, compostas pelos rios Solimões, Negro e Madeira, enfrentam dificuldades principalmente no segundo semestre, quando o nível dos rios chega a baixar até 14 metros, segundo Gomes. Nessa época do ano, a estiagem restringe o canal navegável a uma faixa mais estreita e os paliteiros (troncos de árvore carregados pela correnteza) se fincam no fundo, colocando em risco a segurança das embarcações.
Os equipamentos de dragagem, que poderiam retirar os resíduos depositados no fundo do rio para aumentar o calado, estão desgastados e são insuficientes.
“Se resolvidos esses problemas, temos potencial suficiente para ligar Manaus a Buenos Aires exclusivamente por meio de um eixo hidroviário Norte-Sul, o que estimularia o comércio exterior e o turismo, em um grande reforço à integração econômica dos países sul-americanos”, afirma Gomes.
Tachy, responsável pela administração das hidrovias Tapajós-Teles Pires e Tocantins-Araguaia (até o Bico do Papagaio), defendeu a necessidade de estabelecer padrões de calado e de embarcações para as hidrovias da região. Ele também chamou a atenção para as más condições de tráfego em trechos situados entre as cidades de Santa Terezinha (MT) e Marabá (PA), onde é preciso realizar dragagem.
“O investimento na região representaria uma revolução na logística de transportes. Para ficar em um só exemplo, as hidrovias da Amazônia Oriental são fundamentais para escoar a produção de soja que, segundo previsões, chegará a 45 milhões de toneladas em 2010. Para atingir este objetivo, precisamos investir cerca de US$ 200 milhões em obras”, disse Tachy.
O superintendente da Ahsfra, Sebastião Marques, repassou os problemas característicos da navegação no São Francisco, como a mobilidade do leito fluvial no fundo e nas margens, as pedras e os ventos fortes no Lago de Sobradinho (BA). “O São Francisco enfrenta ciclos históricos de cheia e seca e há problemas de assoreamento típicos de um rio de planície, mas afirmar que ele está secando é um exagero da mídia”, afirma ele.
Para o superintendente, o São Francisco tem um enorme potencial subutilizado, que poderia diminuir os custos de transporte das empresas instaladas nas regiões por onde passa. “A vocação natural do rio é o escoamento de grãos, mas há potencial para o transporte de combustíveis e de veículos. A Fiat em Minas e a Ford na Bahia poderiam, por exemplo, transportar boa parte da sua produção pelo São Francisco. Seria mais barato e seguro do que transportar os veículos em caminhões-cegonha”, sugere Marques.
Rio Parnaíba perde carga para caminhões
Em seguida, o superintendente da Administração da Hidrovia do Nordeste, José Oscar Frazão Frota, abordou a necessidade de o Governo Federal concluir o sistema de eclusas na Barragem de Boa Esperança, na Hidrovia do Parnaíba. “Com a construção da barragem, criou-se um desnível no rio, prejudicando a navegabilidade. A conclusão do sistema de eclusas permitirá a passagem das embarcações e o transporte de produtos”, explica ele.
De acordo com o superintendente, a construção da barragem impediu a livre navegação por 830 km de hidrovia. “Com isso, o transporte de um milhão de toneladas de soja por ano está sendo feito em carretas e não pela hidrovia”, acrescenta ele. “Esperamos que a Antaq interceda junto ao DNIT e ao Governo Federal para conseguir recursos no orçamento com o objetivo de concluir o empreendimento”.