O estudo "Impacts of Climate Change on Logistics and Supply Chains", publicado em 2024 no Journal of Disaster and Risk, aponta que as mudanças climáticas estão afetando diretamente a infraestrutura de transporte e as cadeias de suprimento. Segundo a pesquisa, o aumento das temperaturas e a frequência de eventos climáticos extremos estão deformando estradas, o que tem elevado os custos de manutenção e impactado as operações de transporte.
A interdependência global entre cadeias de suprimento também foi destacada no estudo, que alerta para os efeitos em cascata causados por interrupções locais. Entre as medidas sugeridas para enfrentar esses desafios, estão o fortalecimento de infraestruturas de transporte e armazenagem e a adoção de estratégias de resiliência.
Debates globais e compromissos brasileiros
Durante a COP29, a delegação do Ministério dos Transportes do Brasil abordou a adaptação da infraestrutura de transporte às mudanças climáticas. O ministro Renan Filho ressaltou a importância de melhorar rodovias e fomentar o uso de biocombustíveis como estratégias para reduzir emissões de gases de efeito estufa.
“O Brasil se comprometeu a diminuir suas emissões em até 67% até 2035”, afirmou o ministro, destacando ainda a responsabilidade dos países desenvolvidos na mitigação dos efeitos climáticos. O país apresentou iniciativas como os corredores azuis para caminhões a gás natural, que emitem menos carbono em comparação ao diesel.
Eventos climáticos e impactos regionais e globais
Furacões, tempestades e inundações têm gerado interrupções significativas em cadeias logísticas. No Brasil, eventos como as chuvas intensas no Rio Grande do Sul em 2023 e 2024 resultaram em alagamentos que comprometeram o transporte de produtos agrícolas essenciais, como soja e milho.
Em escala internacional, o furacão Harvey, que atingiu o Texas em 2017, exemplificou os danos severos à infraestrutura de transporte, com bloqueios em rodovias e fechamento de portos. Outro caso recente foi o dos incêndios florestais na Califórnia em 2024, que obrigaram ao fechamento de estradas e à criação de planos de contingência pelas empresas, gerando custos adicionais.
Infraestruturas vulneráveis e custos crescentes
O aumento da intensidade de eventos climáticos tem gerado custos elevados de manutenção em rodovias, pontes e ferrovias. De acordo com dados recentes, o governo brasileiro investiu R$ 26 bilhões entre 2023 e 2024 em ações de manutenção e conservação de 60 mil quilômetros de rodovias.
Além disso, mudanças climáticas demandam alterações nas rotas tradicionais, com motoristas evitando regiões vulneráveis a desastres naturais. Esses desvios aumentam os custos com combustível e tempo de entrega, além de comprometerem a previsibilidade das operações.
Interrupções em cadeias de suprimento e impactos econômicos
Estudos internacionais também alertam para as perdas econômicas associadas a interrupções nas cadeias de suprimento. Pesquisa publicada na Nature indica que, no cenário de altas emissões, as perdas totais no PIB global podem atingir 3,9% até 2060, com 1,5% decorrente de interrupções no fluxo comercial global.
Países como Brasil, China e Noruega registram perdas significativas devido à interdependência de suas cadeias de suprimento. Setores como agricultura, mineração e manufatura leve estão entre os mais afetados.
Riscos e necessidade de adaptação
Infraestruturas de transporte enfrentam riscos como erosão causada por chuvas intensas e deformações provocadas por altas temperaturas. “A segurança das vias e dos veículos está sendo comprometida. Investimentos em sistemas de drenagem e materiais mais resistentes ao calor são indispensáveis”, alerta o estudo.
O aumento das temperaturas também traz desafios para a conservação de cargas perecíveis, como alimentos e medicamentos, e aumenta a frequência de manutenção de veículos.
O estudo conclui que adaptações urgentes são necessárias, incluindo o fortalecimento da infraestrutura, a adoção de tecnologias avançadas e a diversificação de rotas. Sem essas ações, as perdas econômicas e sociais tendem a crescer, afetando a competitividade e a eficiência do setor logístico em um cenário global interconectado.