A operação dos provedores logísticos que atuam no segmento de frigorificados sempre demandou controles precisos. São prazos de validade que devem ser observados, temperaturas que necessariamente devem seguir padrões, equipamentos com a obrigatoriedade de funcionar de maneira plena e processos de movimentação que agilizam a equação picking versus embarque a fim de manter as propriedades dos itens.
No cenário macroeconômico atual, ter a operação sob controle nunca foi tão importante. Com as margens cada vez mais reduzidas e as tarifas, como da água e da energia elétrica, cada vez mais altas e pesando diretamente no faturamento, as companhias se veem desafiadas a adotar processos, sistemas e ferramentas que contribuam para a maximização das operações e, consequentemente, para a redução dos custos. E é exatamente isso que está sendo feito.
Na Cefri, o diretor-superintendente, Luís Martinez, revela que hoje um dos custos mais onerosos para a companhia é o de energia elétrica. Para minimizar os impactos nas contas da empresa, algumas medidas já foram adotadas. “Em processos operacionais, adotamos tecnologias de separação de pedidos por voz para melhorar a produtividade e a acuracidade. No circuito frigorífico, investimos em automação para melhorar a segurança e a eficiência energética”, conta.
O executivo diz que a casa de máquinas mereceu atenção. No local, foram instalados, por exemplo, novos softwares, painéis elétricos, eletrônicos e sensores. Ao todo, Martinez calcula que entre melhorias operacionais e maximização do circuito frigorífico foram aplicados US$ 700 mil. E os resultados já apareceram. “Melhoramos nossa produtividade operacional entre 25% e 30% na acuracidade. Na automação, reduzimos nosso consumo de energia em 18%”, comemora.
Análise institucional
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Armazenagem Frigorificada (Abiaf), Luiz Aires, é enfático. Para ele, a indústria de armazenagem frigorificada nunca correu tanto para a redução de seus insumos da cadeia produtiva. “Estamos tentando economizar na energia elétrica e na parte administrativa, minimizando os erros”. O presidente completa dizendo que, além da movimentação dos produtos, os operadores logísticos terão que ficar cada vez mais atentos aos periféricos.
Aires garante que isso está acontecendo. De acordo com o executivo, operacionalmente hoje empresas de todos os portes – pequenas, médias e grandes – têm acesso ao que há de mais moderno em termos de sistemas. Segundo o presidente, a novidade fica por conta de uma etiqueta magnética, ainda em fase de testes, complementar ao Warehouse Management System (WMS). “Essa tecnologia vai revolucionar o mercado. Além de todas as funcionalidades do WMS, ela grava em sistema toda movimentação realizada dentro do armazém. Ela registra, por exemplo, o simples deslocamento de um item para a retirada de outro”, conta.
Mas novos processos e ferramentas mais simples que contribuem para a maximização da operação já fazem parte do dia a dia da indústria de armazenagem frigorificada. O executivo cita as cortinas de ar aplicadas nas portas. Confeccionadas com silicone, elas evitam a entrada de ar quente nas câmaras frias, otimizando o funcionamento dos compressores de ar.
Outras soluções igualmente simples, contudo, ainda não são adotadas pelos operadores. “Há algumas outras tecnologias ainda pouco usadas no setor, mas que são fundamentais, como o inversor de frequência, que controla a potência do motor no compressor”, lembra. O presidente da Abiaf explica sua funcionalidade. “Quando o ambiente atinge uma temperatura de -20 °C, o inversor reduz a potência do motor, consequentemente economizando energia elétrica”. Há, ainda, um sistema supervisório que automatiza várias etapas do dia a dia da sala de máquinas, como degelo e aumento de pressão do compressor. Estes, também, pouco aplicados, segundo Aires.
A água, outro insumo bastante utilizado nas operações frigorificadas, e a atual crise hídrica, chamada pelo executivo de racionamento branco, são outros aspectos que merecem atenção, pois refletem na atividade. Neste quesito, também há soluções. “Já existe no mercado um condensador evaporativo dry cooler, que não utiliza água para resfriar a amônia – utilizada no processo de refrigeração. Um equipamento deste tipo economiza 2 mil litros de água por hora a cada 1 milhão de quilocalorias”, revela. De acordo com o executivo, trata-se de uma economia considerável, uma vez que um armazém de pequeno porte, por exemplo, gera 7 milhões de quilocalorias.
Apesar de todas as soluções disponíveis e propostas, o presidente da Abiaf diz que ainda não há como mensurar o quanto a aplicação destes recursos diminuirá os custos operacionais. “Estamos montando um comitê na associação para avaliar todos os impactos”, anuncia.
Na Promon, empresa que auxilia outras companhias na adoção de novas estratégias e tecnologias, o diretor, Hugo Brodskyn, avalia que há diversas oportunidades para os operadores frigorificados, principalmente quanto à redução de consumo de energia elétrica. Ele cita que as companhias podem adotar algumas estratégias, como a geração própria (biomassa, eólica, solar ou gás natural), investir na eficiência energética, com o investimento em planos de manutenção e revisão do sistema elétrico, e apostar em modelos diferenciados de contratação de energia – enquadramento tarifário e revisão do dimensionamento da demanda.
O diretor, contudo, apesar de enfatizar que se trata de um bom momento para os operadores pensarem em eficiência energética e adoção de novas metodologias, faz um lembrete. “É importante avaliar caso a caso. Não há uma solução única”.
Controle na prática
No dia a dia das empresas os controles e a adoção de ferramentas já são mais do que conhecidos e constantemente melhorias são colocadas em prática. O diretor executivo de Operações e Serviços da JSL, Adriano Thiele, afirma que atualmente um dos objetivos da empresa é ganhar eficiência energética. Para isso, revela, a ação consiste em cada vez mais mecanizar os armazéns. “Hoje, quando pegamos o custo do armazém de frio, a grande parcela está relacionada à energia que se gasta, por isso temos um trabalho para tentar de alguma forma ser mais eficientes”, resume.
Segundo ele, a companhia vem adotando uma série de processos, já que a energia apresenta custos diferentes. “Operamos com mais compressores em horário de pico e menos compressores em horários que não consideramos de pico”, diz. A iniciativa já traz resultados positivos. O indicador de energia elétrica da JSL (Consumo Ativo de Ponta) registrou redução de 6,35% na utilização, mantendo a temperatura das câmaras frias (reversíveis) entre -21 °C e -25,5 °C.
O gerente de Armazenagem e Distribuição da JSL, Luiz Fernando Carminatti, destaca outras iniciativas adotadas, desta vez para controlar o ambiente dos armazéns. Vale lembrar que a JSL possui unidades frigorificadas nos municípios do Rio de Janeiro, Cabo de Santo Agostinho (PE), Contagem (MG) e Simões Filho (BA). Ao todo, os armazéns contam com 45 mil m², estocam 33 mil toneladas e expedem 28.900 t por mês de produtos da indústria alimentícia.
O gerente frisa que o trabalho está direcionado para o controle da temperatura, congelada a -28 °C e refrigerada entre 10 °C e 12 °C; da umidade, entre 60% e 70%; e da amônia, em 11 bar (unidade de medida de pressão). “Temos sensores e um supervisor em cada filial para gerenciar estes itens e garantir a segurança dos funcionários e o estado dos produtos. Todos esses controles são automatizados, há a emissão de um alerta automático para os clientes a fim de que eles saibam on-line como está o ambiente onde seus produtos estão estocados”, informa. Para o executivo, essas ferramentas transmitem confiabilidade e garantem o bom desempenho. “Hoje, nossa acuracidade de estoque está em 99,6%”, calcula.
No serviço de transporte, a JSL também inovou e colocou em prática a ação denominada pré-cooler. De acordo com Carminatti, quatro horas antes de embarcar as cargas o sistema de resfriamento dos implementos é acionado, até -28 °C, a fim de evitar o choque térmico. Com isso, garante, não há variação de temperatura na movimentação entre o estoque e o caminhão. “Isso fez com que reduzíssemos a logística reversa. Antes, nossa taxa de retorno era de 8,32% e, atualmente, é de 2,69%”, destaca.
Processos
Na Trino Frio, empresa localizada em Cabo de Santo Agostinho, o diretor Administrativo e Financeiro, Claudio Fernandes, divulga que para manter as operações de maneira justa, 3% da receita anual são aplicados em sistemas de controle. A empresa opera um armazém de 10 mil m², com 10 mil posições-palete, dispostas em oito câmaras reversíveis – congeladas ou resfriadas. A companhia atende a Região Nordeste do estado de Alagoas até o Ceará, movimentando por mês 6 mil t de pescados e carnes (bovina, suína e de aves). A Trino Frio armazena, ainda, alimentos destinados a redes de fast food.
Segundo Fernandes, a estrutura é gerenciada por um software que controla a temperatura e a operação dos compressores. “Com essa ferramenta fazemos um controle e verificamos, em conformidade com o tipo de produto armazenado, a temperatura e o ciclo de operação dos equipamentos. Realizamos análises diárias de funcionamento para otimizar estes ciclos para melhor consumo”, diz. Paralelo a isso, completa, há na Trino Frio um controle robusto de manutenção. “Não adianta possuirmos um software de gestão adequado se o equipamento não funciona de maneira plena. Ele deve estar com a melhor condição para trocar frio com o meio ambiente e ter um plano de manutenção periódico”, salienta.
O diretor revela que o índice de avaria na Trino Frio é de 0,02%, mas ressalta que esse número não tem relação com a perda de condições de consumo dos produtos por problemas nos sistemas de congelamento e resfriamento. As avarias, garante, estão relacionadas à movimentação, como rasgo nas caixas e perda de etiquetas.
O executivo sentencia que o índice zero de avarias por perda de temperatura é obtido por meio da adoção de uma série de outras ações operacionais. “Na expedição, os itens são separados no próprio ambiente onde estão estocados e, após isso, alocados em área de reserva (congelada ou resfriada) até a chegada do fornecedor de transporte, terceirizado. Antes de liberar o veículo, é aberto um relatório de conformidade. Nosso colaborador faz a leitura da temperatura do produto e do implemento do veículo e verifica sua higienização. Em alguns casos realizamos um registro fotográfico”, diz.
Já no recebimento das cargas, os colaboradores da Trino Frio verificam numa antecâmara, no máximo em duas horas, se os produtos entregues obedecem aos padrões estabelecidos, como temperatura e prazo de validade. “Caso não estejam de acordo, o recebimento é negado”, enfatiza.
Outra iniciativa destacada por Fernandes fica por conta das rotas de frio, fluxos internos que levam em consideração o tipo de produto, a operação do dia e qual equipamento será aplicado nas movimentações. “Temos rotas de acesso de empilhadeiras, com portas de 2,5 m de largura por 5,60 m de altura. Já operadores atuando com transpaleteiras e paleteiras manuais têm um acesso diferenciado, em portas menores e estreitas, 2 m de largura por 2,10 m de altura”. Além disso, explica o executivo, durante o degelo as empilhadeiras não saem totalmente da câmara resfriada para a congelada. As câmaras congeladas sempre estão interligadas e as portas de acesso às câmaras resfriadas e antecâmaras só são abertas para a passagem de empilhadeiras. “Todas estas iniciativas reduziram nosso custo operacional em 10%”, destaca.
Ferramentas
Para os operadores logísticos frigorificados, fazer o dever de casa, ou seja, desenvolver internamente soluções que minimizem os custos, é fundamental. Mas contar com o suporte dos fornecedores de equipamentos e empresas especializadas na cadeia do frio é primordial para o andamento eficaz das atividades. A Valida Laboratório de Ensaios Térmicos, empresa do Grupo Polar Técnica, é uma das que enxergam a potencialidade do segmento.
A gerente Técnica da Valida, Liana Montemor, explica que a companhia realiza uma série de estudos que garantem o pleno funcionamento das câmaras frias. Segundo a executiva, o trabalho consiste em realizar uma sequência de testes, que inclui a qualificação da instalação, da operação e do desempenho para verificar se os equipamentos instalados ou o ambiente operam de acordo com as especificações. “Nós recomendamos que as câmaras frias dos operadores sejam qualificadas anualmente”, diz.
Ela exemplifica. “Se há uma câmara que opera entre 2 °C e 8 °C, é necessário avaliar sua homogeneidade. Quando verificamos isso temos como resultado o ponto mais quente e o ponto mais frio, e esses pontos devem sempre ser monitorados para que continuem dentro da temperatura”. Para Liana, os benefícios das análises e da qualificação são garantir a qualidade, a robustez e a eficácia dos processos, assegurar que os equipamentos e sistemas trabalhem de acordo com a função a que se propõem e possibilitar ao operador ter conhecimento e domínio do funcionamento das ferramentas de controle. Além disso, há a otimização dos processos e a redução de perdas.
A gerente garante que há no mercado cada vez mais procura pela adequação das operações dos armazéns, mas existem exceções. “Algumas empresas de menor porte ainda não se atentaram para a importância da qualificação”, lamenta. Em sua opinião, essa necessidade existe, é real e as empresas que ainda não têm precisam se adequar, principalmente pela exigência dos clientes. A executiva aproveita e faz outro lembrete. “Não adianta ter uma câmara qualificada se o operador não possuir equipamentos que a monitorem da forma correta. Quanto melhor for o gerenciamento, mais robusto será o sistema”, define.
Além de realizar análises das câmaras frias utilizando a Valida Laboratório, o grupo, por meio da Polar Técnica, oferece uma gama de produtos destinados ao setor. Para o transporte, há uma solução denominada Super Cold. Trata-se de um gelo que possui um componente que lhe confere uma temperatura mais baixa. Liana explica que o produto é destinado ao transporte de itens congelados.
A empresa também disponibiliza o Ice Foam, espuma aplicada dentro de embalagens para transporte. “Por este produto ter uma manutenção térmica superior ao gelo em gel, pode-se reduzir em mais de 50% o valor gasto com a aquisição de embalagens”, garante a gerente. Isso porque, completa, ao utilizá-lo é possível diminuir a quantidade de gelo por embalagem, aumentando o espaço disponível para acondicionar os produtos.
Análise de utilização
Na Thermo King, companhia que fornece equipamentos de refrigeração aplicados desde em vans até semirreboques e contêineres, o diretor de Marketing e Produtos para a América Latina, Paulo Lane, ressalta que o ponto fundamental é o dimensionamento correto do equipamento. “Se aplicamos um produto pequeno num baú muito grande, haverá um custo maior de consumo de combustível” resume. Para atender às necessidades dos clientes e minimizar os erros, o executivo explica que, antes da aplicação de cada aparelho, é realizada uma simulação. Com ela, verifica-se o tipo de operação que o veículo irá realizar – distribuição ou transferência – para que seja definida a correta especificação do equipamento a ser utilizado.
Lane diz que é importante lembrar que o aparelho de refrigeração não resfria o produto, mas conserva a temperatura no baú frigorífico. “Se ele não for especificado corretamente irá funcionar mais tempo. O ideal num sistema de refrigeração é que o equipamento opere entre 60 e 70% do tempo de uma operação”, explica.
O diretor considera que os operadores frigorificados estão abertos às novidades e aplicando equipamentos por necessidade. Isso porque, segundo ele, os pontos de venda estão ficando cada vez mais exigentes no recebimento do produto na condição correta. Outro fator importante é que, de acordo com informações de Lane, cerca de 40% dos alimentos são perdidos desde a produção até o ponto de venda. “Minimizando esse índice é possível reduzir os custos”, pontua.
Ele faz mais um alerta. “É importante que haja um treinamento dos colaboradores dos operadores logísticos. É comum o funcionário tirar a carga da câmara que está a -20 °C e colocar na plataforma à espera do carregamento. Se esse serviço demorar, o produto esquenta e, ao ser embarcado, haverá a necessidade de mais energia para manter a temperatura”, conta. Segundo ele, a Thermo King desenvolve um treinamento sobre as melhores práticas de carregamento e descarregamento e de que forma trabalhar para que o equipamento opere nas condições corretas. “É um trabalho de conscientização para maximizar a operação”, afirma.
Operação compartilhada
Um dos segmentos que mais acompanha com interesse o desenvolvimento das operações dos operadores logísticos frigorificados é o de fármacos. As razões são óbvias, devido ao tipo de item que esta indústria comercializa. Para este setor, é mais do que imprescindível manter as condições de consumo dos produtos em todos os elos, da saída da fábrica, passando pela armazenagem, até a entrega no ponto de venda.
O gerente de Boas Práticas e Auditorias Farmacêuticas do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Jair Calixto, diz que a entidade acompanha o setor logístico por meio da publicação de normas que têm uma interface entre a indústria farmacêutica e o operador que venha beneficiar os medicamentos de modo geral, contribuindo para a manutenção da qualidade, segurança e eficácia dos produtos. Além disso, o sindicato organiza eventos para discutir os pontos mais críticos referentes à logística farmacêutica.
Para o executivo, os prestadores logísticos associados ao Sindusfarma seguem toda a legislação sanitária vigente para o transporte de medicamentos e investem em melhorias de processos e tecnologias para modernizar a operação. “As empresas têm investido nesse processo, já que é uma exigência da indústria farmacêutica e do órgão regulador. Contudo, existem necessidades de melhoria que não dependem do prestador logístico”, salienta. Ele enumera algumas, como as longas distâncias percorridas, que podem trazer alguma dificuldade em relação à manutenção da temperatura dos produtos, e a especificidade da cadeia de abastecimento, que é extremamente regulada. Além disso, ele cita a falta de segurança e estrutura nas estradas e a inexistência da multimodalidade, que faz com que o modal rodoviário seja o mais presente.
Apesar das dificuldades alheias à decisão dos prestadores logísticos, na opinião de Calixto os operadores que atuam junto ao segmento farmacêutico devem continuar próximos às indústrias e entender as peculiaridades dos produtos de cada uma delas para auxiliá-las na manutenção da qualidade dos itens.
Fábio Penteado