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Programa Formare leva a qualificação profissional para dentro das empresas

A iniciativa da Fundação Iochpe está completando três décadas de existência com aproximadamente 25 mil jovens de baixa renda formados e um índice de 80% de aproveitamento no mercado de trabalho. Parceiras do programa, as operadoras logísticas Sequoia e FM contam mais detalhes e falam sobre a importância de colocar em prática sua responsabilidade social
Por Redacción el 11 de abril de 2019 a las 16h11 (atualizado em 16/04/2019 às 12h29)
Programa Formare leva a qualificação profissional para dentro das empresas

Programa Formare leva a qualificação profissional para dentro das empresas

A baixa qualificação profissional é um problema crônico no Brasil, e um dos principais motivos que levam a ele é facilmente detectado quando observamos a precariedade do ensino público de todo o país. No exercício diário do jornalismo voltado à logística, não são raras as vezes em que ouvimos dos executivos das empresas do segmento queixas a respeito das dificuldades enfrentadas no momento de buscar bons colaboradores no mercado, que estejam realmente preparados para a rotina prática do trabalho. E é desnecessário dizer que essa é uma questão que aflige empresas de diversos outros setores.

Se esperar de braços cruzados que o poder público invista em um ensino de melhor qualidade não é uma opção, muitas empresas resolvem colocar a mão na massa e, usando todo seu know-how, formar elas mesmas seus próprios futuros colaboradores. Foi pensando nisso que, em 1989, a Fundação Iochpe, pertencente à companhia Iochpe-Maxion, multinacional brasileira fabricante de vagões de carga ferroviários e de rodas e chassis para veículos comerciais, criou o Programa Formare.

Dos Anjos, da Fundação Iochpe
Dos Anjos, da Fundação Iochpe

Claudio dos Anjos, diretor executivo da fundação, conta que ela foi instituída nesse mesmo ano justamente com o objetivo de a companhia exercer sua cidadania empresarial nas áreas social e cultural e que, nesse contexto, o Formare é um dos programas desenvolvidos pela organização sem fins lucrativos. “Para a Iochpe-Maxion, a fundação representa um setor tão estratégico quanto qualquer outro da companhia”, diz.

O Programa Formare teve início dentro das unidades de Canoas (RS) e São Bernardo do Campo (SP) da própria Iochpe-Maxion, oferecendo cursos de qualificação profissional para jovens de famílias de baixa renda regularmente matriculados no ensino médio da rede pública. “Em 1995 o programa começou uma trajetória de expansão, graças a um convênio estratégico firmado entre a Fundação Iochpe e o Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet-PR), que veio a se tornar a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em 2005. Juntas, as duas instituições passaram a construir propostas pedagógicas inovadoras para os cursos e a emitir certificações para os alunos pela própria UTFPR, com a chancela do Ministério da Educação e da Cultura (MEC)”, explica dos Anjos.

Assim, a partir de 1999 outras empresas além da Iochpe-Maxion passaram a adotar o Programa Formare, que em 2001 passou a ser formatado no modelo de franquia social. Dos Anjos lembra que isso estimulou a Fundação Iochpe a reestruturar suas áreas Pedagógica e de Projetos. “Foram elaborados cursos e manuais orientadores que apoiam empresas interessadas na reaplicação da tecnologia social do Formare. O currículo de ensino de cada empresa passou a ser elaborado conforme seus modelos e áreas de negócio, a demanda profissional local e as características do território onde a empresa está inserida. Os novos cursos e manuais foram estruturados e sistematizados em uma metodologia com grande potencial de reaplicação e ganho de escala.”

Hoje, o Formare é aplicado em 13 estados brasileiros e em duas cidades do México. O ano de 2019 se iniciou com 45 empresas parceiras e um total de 1.320 alunos em formação, participando de cursos profissionalizantes ministrados por cerca de 5 mil voluntários capacitados pela equipe pedagógica da Fundação Iochpe, já que as aulas são ministradas pelos próprios funcionários nas instalações de cada empresa. Ao longo dos 30 anos de existência do programa, foram aproximadamente 25 mil jovens formados, e um engajamento de mais de 50 mil funcionários de empresas parceiras que atuaram como educadores voluntários.

Profissionalização logística

Dentre as empresas parceiras do Formare estão nomes de peso como 3M, Bosch, Peugeot Citroën, Cummins, Duratex, L’Oréal, Saint Gobain, Siemens e Suzano, algumas delas com um relacionamento de mais de dez anos com a Fundação Iochpe. “Normalmente as empresas têm porte médio ou grande. Elas precisam ter um mínimo de 200 funcionários para que a distribuição de atividades como educador voluntário não sobrecarregue o profissional no dia a dia”, esclarece dos Anjos. No segmento logístico, a brasileira Sequoia e a multinacional francesa FM Logistic são bons exemplos da aplicação do programa na qualificação de seus futuros colaboradores.

Dina, da Sequoia
Dina, da Sequoia

A diretora de Gente e Gestão da Sequoia, Dina Ribeiro de Carvalho, conta que a empresa já está com sua segunda turma do Programa Formare em andamento. “No ano de 2018 formamos 25 jovens no curso de Auxiliar de Operações Logísticas e tivemos um aproveitamento de 88% da turma, ou seja, 22 deles foram contratados e hoje trabalham conosco em regime de CLT”, destaca.

A turma atual é formada por 30 jovens que ao longo do curso terão a oportunidade de conhecer diferentes áreas da empresa e descobrir novas aptidões, em setores como logística, transporte, administração e tecnologia da informação. “Para apoiá-los nesse processo, contamos com uma equipe voluntária de 67 pessoas, entre educadores, gestores e coordenação”, completa Dina.

Todos os profissionais da Sequoia que atuam como educadores são capacitados na metodologia de ensino desenvolvida pela Fundação Iochpe. Dina explica que, para desenvolver o conteúdo do curso, os voluntários recebem um plano de ensino, mas com base em seus respectivos conhecimentos técnicos e também na independência adquirida com os treinamentos e capacitações, eles podem personalizar as aulas com o objetivo de torná-las mais dinâmicas e ainda mais proveitosas.

Formatura da primeira turma do projeto na Sequoia, em dezembro de 2018
Formatura da primeira turma do projeto na Sequoia, em dezembro de 2018. Crédito: Maraia Juliana-Sequoia

“Visamos proporcionar aos jovens em situação de vulnerabilidade social da comunidade no entorno da empresa uma oportunidade profissional mais completa, com formação teórica e prática, além de capacitar futuros colaboradores. Encontramos na Fundação Iochpe a estrutura desejada para nos apoiar com a implantação desse projeto, que é de extrema relevância pra a área de Gente e Gestão”, afirma a executiva. Dina ressalta ainda a importância de projetos dessa natureza não só para a própria Sequoia, mas para o país de uma forma geral. “Além de concedermos a primeira oportunidade profissional para os jovens, estamos colaborando com a construção de uma mão de obra mais qualificada e preparada pra os desafios da carreira, impactando positivamente no mercado de logística e transporte.”

Elaine, da FM Logistic
Elaine, da FM Logistic

Na FM Logistic, o Formare está inserido na chamada Escola de Logística, projeto que faz parte da Fundação FM, uma inciativa que a companhia mantém nos diversos países em que atua. A escola foi criada em 2017, quando o operador logístico completou 50 anos de história e quatro anos de atuação no Brasil. “O Formare é a metodologia que nós escolhemos para implantar a Escola de Logística”, diz Elaine Regina Ferreira, diretora de Recursos Humanos da FM Logistic. “Eles já possuem a parceria com a UTFPR, contam com reconhecimento junto ao MEC, modelo de capacitação do educador, material de apoio etc. Tudo isso é necessário para se montar uma escola.”

A companhia também já formou sua primeira turma, composta por 11 alunos. Desses, nove estão trabalhando na FM, sendo sete diretamente na operação e dois na área administrativa. “O índice de absorção é bastante alto, e isso reforça o sucesso da nossa missão”, indica Elaine. Ela também exalta a importância do aprendizado prático para a formação dos jovens. “As aulas são ministradas nas dependências da própria FM, e estando dentro da empresa, os alunos podem de fato vivenciar a operação. Algumas matérias são práticas, inclusive, e existe uma carga horária obrigatória na operação.”

Segundo a diretora, o momento atual é de planejamento para a montagem da segunda turma, cujas aulas devem ter início no segundo semestre deste ano. Elaine, que é uma das voluntárias no projeto e ministra aulas de língua portuguesa, conta que o trabalho de formação das turmas também é bastante minucioso. “O curso é divulgado nas escolas públicas, os candidatos preenchem uma ficha, fazem uma prova de português e matemática e passam por uma entrevista. Quando já temos os finalistas, nós realizamos visitas na casa de cada um deles para verificar os critérios obrigatórios, como a renda, até mesmo porque é oferecida uma bolsa para que eles estudem.”

Formatura da primeira turma do projeto na FM Logistic, em novembro de 2018
Formatura da primeira turma do projeto na FM Logistic, em novembro de 2018. Crédito: Divulgação

A executiva diz que, devido ao sucesso da primeira turma, a procura pela segunda é maior do que a que ocorreu no primeiro ano. “Muitos jovens ligam para a empresa perguntando sobre o projeto. Como já houve um grupo formado, uma pessoa conta para a outra na escola, e esse boca a boca acaba gerando mais procura.”

“Nosso objetivo é fazer a diferença na vida de pessoas que estão iniciando suas carreiras, desenvolver esses jovens para podermos absorvê-los na nossa empresa. Assim, eles poderão crescer junto com a FM Logistic e, dessa forma, contribuir par a sociedade como um todo. Levando em conta esses pilares, podemos dizer que o programa é um sucesso”, observa Elaine. “Nós acreditamos que é atuando na base do ensino que vamos conseguir melhorar a empregabilidade e contribuir diretamente com as pessoas que estão numa condição social menos privilegiada. A proposta do programa é totalmente inclusiva”, resume.

Responsabilidade social

Claudio dos Anjos frisa que a expectativa da Fundação Iochpe é consolidar cada vez mais o Programa Formare nas empresas parceiras, multiplicando o conceito de Retorno sobre Investimento Social (ROI). “Em 2018 desenvolvemos junto à Fundação Getulio Vargas (FGV) a metodologia do ROI do Programa Formare. Com ela é possível verificar que o retorno financeiro supera os custos. Considerando os custos de implantação e manutenção do Formare e subtraindo deles a economia que o programa pode gerar para a empresa com treinamentos de funcionários, contratação de jovens e projetos integradores implementados pelos jovens, por exemplo, a conta pode ser muito positiva.”

De acordo com o executivo, o programa está sempre buscando aperfeiçoar e fortalecer os cursos, aprofundando a metodologia e atualizando os conteúdos de acordo com as demandas empresariais, como acontece atualmente com a transformação digital e os conceitos de indústria e logística 4.0. “Na Fundação Iochpe, sediada em São Paulo, cerca de 15 profissionais trabalham diretamente para a manutenção e expansão do programa em áreas de gestão de projetos, pedagógica, administrativa e executiva. Esses profissionais participam regularmente de atividades da Rede Formare: desenham os cursos em acordo com a realidade das empresas, constroem materiais de apoio pedagógico, propõem o processo de seleção dos jovens nas comunidades do entorno das empresas que oferecerão os cursos, realizam cursos de formação de funcionários que se tornam coordenadores e educadores voluntários do programa nas empresas, fazem visitas técnicas de avaliação e monitoramento, desenvolvem ferramentas de gestão do programa, propõem a elaboração de cursos à distância para a formação de educadores e marcam presença em eventos como aulas inaugurais, formaturas e atividades extracurriculares, que têm participação de familiares e moradores locais”, salienta.

Ele comemora os dados apurados por pesquisas internas, que mostram que 80% dos jovens que participam do programa conseguem emprego até um ano depois da conclusão do Formare, a maioria nas próprias empresas onde o curso foi realizado, mas em alguns casos também em outras empresas. Além disso, as pesquisas apontam que a participação no Formare consiste em um fator decisivo para que o jovem continue estudando, tanto em nível técnico quanto superior.

“Ao longo dessas três décadas, temos certeza de que o programa fez diferença não só na vida dos jovens como de suas famílias, pois com a formação obtida eles tiveram mais oportunidades de ascensão socioeconômica, e também na vida dos profissionais envolvidos com o Formare, que puderam investir mais em sua qualificação profissional e crescer enquanto cidadãos. Para as empresas, o Formare significa um sólido investimento social e comprometimento com as comunidades onde elas estão instaladas, além de ser uma contribuição para minimizar problemas relacionados à juventude, como educação, desemprego e criminalidade”, finaliza dos Anjos.

Fernando Fischer

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