A utilização de veículos elétricos por transportadoras e operadores logísticos, principalmente para as operações de last mile, já são realidade. Além da questão ambiental, hoje amplamente abordada no setor, estes ativos geram, ainda, uma significativa redução de custos. Em tempo de preços elevados dos combustíveis, qualquer substituição da fonte de energia é bem-vinda.
Mas outras ações começam a surgir e reforçar estes dois aspectos, meio ambiente e custos. Nota-se, agora, a aplicação de outros tipos de equipamentos, como bicicletas para a realização de entregas, por exemplo. O mercado logístico, sempre na vanguarda, já vislumbra as vantagens, mas embarcadores começam a se movimentar também neste sentido.
Iniciativas
Este é o caso da Via, dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio. O diretor de Logística, Daniel Ribeiro, conta que os primeiros veículos elétricos na frota da companhia foram inseridos em 2021, seguindo a estratégia de ESG. Os automóveis, equipados com baterias de até 300 km de autonomia, já percorreram mais de 280 mil km – o que significa, calcula a empresa, uma redução na emissão de CO2 na atmosfera de aproximadamente 135 toneladas.
O executivo diz que em seu plano de ESG a Via assumiu o compromisso de reduzir a emissão de carbono em sua operação logística até 2025. “A partir disso, começamos a adotar diversas medidas para chegar a essa meta. Já em 2019, a Via vendeu toda sua frota de caminhões e, desde então, conta com transportadores terceirizados”, conta Ribeiro.
Segundo o diretor, com a compensação ambiental pensada em toda atividade, independente do fornecedor, a empresa passou a inserir os veículos elétricos na frota que são utilizados para as chamadas entregas de última milha, quando a mercadoria sai para entrega ao cliente.
“Sabemos que, pela natureza do negócio, é natural que nossa frota seja responsável por grande parte da emissão de carbono. Então, vimos na implantação de veículos elétricos e no uso de combustíveis renováveis uma maneira de diminuir o impacto ambiental. Nossas metas ambientais ainda passam pelo uso de energia limpa nas lojas, escritórios e centros de distribuição, além de ações com foco em economia circular, como a logística reversa de eletroeletrônicos e materiais recicláveis coletados em pedidos entregues”, explica.
As novidades não param por aí. “Em maio deste ano, inserimos Tuk Tuks elétricos em nossa frota para entrega de mercadorias leves que saem direto das lojas para o endereço do cliente. Esses veículos têm capacidade para carregar até 600 kg de produtos, tornando toda a logística ainda mais eficiente em prazo de entrega e custo de frete”, ressalta Ribeiro.
Além disso, reforça o diretor de Logística da Via, nos últimos três anos, a empresa transformou o processo de transporte de mercadorias, descentralizando as entregas dos CDs para as lojas, que hoje funcionam como mini-hubs logísticos. Por meio da ASAPLog – o braço logístico da companhia – Ribeiro salienta que as entregas de última milha foram otimizadas e agora são feitas por veículos mais leves, como carros, motos e bicicletas, exigindo menor circulação de caminhões.
Os operadores logísticos também fazema a lição de casa. A diretora de Planejamento e Engenharia da FedEx Express no Brasil, Camila Lima, divulga que a FedEx possui veículos elétricos em sua frota há vários anos, assim como tem apoiado o desenvolvimento desta tecnologia. Ela conta que o objetivo da empresa é que, até 2040, toda sua frota de coleta e entrega (PUD) seja de veículos elétricos de emissão zero.
“No Brasil, temos carros elétricos em operação em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife desde 2013, o que fez da FedEx a primeira empresa de cargas a ter carro elétrico no país. Além disso, este ano estamos realizando um projeto-piloto para uso de motos elétricas nas operações logísticas no Brasil. O projeto-piloto está sendo realizado em Recife e Brasília com a colaboração de duas startups, a Voltz e a Origem, ambas fabricantes de motos elétricas”, revela Camila.
A diretora de Planejamento e Engenharia da FedEx Express no Brasil acredita que com essa iniciativa a empresa dá mais um passo em direção ao futuro sustentável que deseja e, a partir de um resultado positivo, planeja estudar a inclusão de motos elétricas na frota em um futuro próximo.
Com relação aos testes das motos elétricas, Camila diz que a companhia está levando em consideração uma série de fatores, como os perfis da rota e do condutor, o peso da carga, a distância a ser percorrida, entre outros. “Vale dizer que incluir veículos elétricos em qualquer cadeia logística, especialmente em uma companhia com o porte global da FedEx, não é uma tarefa simples. Embora a tecnologia tenha avançado para veículos elétricos, as barreiras para eletrificar uma frota comercial grande e complexa como a nossa permanecem significativas. Além disso, temos que garantir que a infraestrutura e a tecnologia de carregamento de veículos necessárias estejam instaladas em nossas instalações.”
Números e planejamentos
Ribeiro, diretor de logística da Via, diz que a empresa não abre o investimento para a adoção do projeto de veículos alternativos, mas que um dos maiores desafios para aumentar a frota de veículos elétricos ainda é seu custo. Por outro lado, pontua, o valor investido no abastecimento e na manutenção são menores que aqueles exigidos pelos veículos tradicionais.
O executivo revela que apenas ano passado, com a frota elétrica de veículos elétricos, a Via deixou de emitir mais de 90 t de CO2 equivalentes na atmosfera. “A empresa seguirá perseguindo sua meta de redução de emissão de carbono em toda sua atividade, o que inclui a adoção de modais de transporte menos poluentes como os veículos elétricos, medidas de compensação, além de observar iniciativas que se aplicam a nossa atividade”, garante Ribeiro.
Camila, da FedEx Express, também não revela, por política da empresa, o valor dos investimentos por projetos no Brasil. “Mas posso dizer que a FedEx está destinando globalmente mais de US$ 2 bilhões de investimento inicial em três áreas – energia sustentável, sequestro de carbono e eletrificação de veículos, esta última relacionada ao projeto piloto que estamos iniciando no mercado doméstico.”
A executiva lembra que a eletrificação dos veículos na FedEx Express está sendo realizada em fases, sendo que o objetivo global é fazer com que 50% das compras de veículos de coleta até 2025 sejam de modelos elétricos, aumentando para 100% de todas as compras até 2030. ”Nossos investimentos em veículos elétricos estão acontecendo globalmente e são parte das nossas iniciativas para atingir a meta de operações neutras em carbono até 2040”, diz Camila.
A diretora de Planejamento e Engenharia da no Brasil divulga ainda que a frota global atual inclui mais de 4.100 veículos movidos a combustíveis alternativos, incluindo híbridos, elétricos, gás natural liquefeito ou comprimido, gás liquefeito de petróleo e veículos a célula de combustível de hidrogênio e a companhia pretendes continuar a aumentar a frota de combustíveis alternativos nos próximos anos.
Empresa Pública
Os Correios também investem em veículos alternativos e colocaram em operação, na Baixada Santista , 33 bicicletas elétricas com aceleração assistida. A iniciativa faz parte do projeto corporativo de substituição de frota à combustão por energia limpa. Com esses veículos, o centro operacional dos Correios em Praia Grande (SP) torna-se, de acordo com a empresa, unidade referência em sustentabilidade no quesito eletromobilidade.
Ao adotar veículos elétricos, a estatal afirma que busca contribuir com o esforço global de mitigar a emissão de poluentes e a neutralização de carbono. Isso é especialmente importante em atividades centradas em transportes, como as desempenhadas pela empresa, que possui uma frota para a execução dos serviços de entrega e também no tráfego de cargas entre unidades operacionais. O uso das bicicletas elétricas visa melhorar o atendimento nessas localidades e a produtividade do carteiro, com responsabilidade ambiental.
Outra ação de eletromobilidade em andamento em São Paulo são os testes com veículos elétricos de baixas cilindradas. Em 2021, foram testados dois modelos, o Formigão e a Abelhinha, nos CDs de Alphaville e São Caetano do Sul. Em 2022, iniciou-se nova fase de testes com outros modelos mais potentes nos centros em Poá, Estádio e Vila Ré, todos no estado de São Paulo. O projeto tem como objetivo proporcionar produtividade e agilidade às operações, favorecendo a prestação dos serviços de forma sustentável.
A empresa prevê ainda a aquisição de bicicletas elétricas em todo âmbito nacional. Além de contribuir com o meio ambiente, o uso dessas novas ferramentas representa mais um passo em direção à transformação sustentável dos Correios, pontua a companhia.