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Infraestrutura logística e os fluxos da vida

No último mês de março completei dois anos morando entre o Brasil e Alemanha e nessa coluna compartilho com vocês, queridos leitores, um pouco do que essa vivência me ensinou
Por Mariana Avelar el 17 de abril de 2025 a las 9h23
Mariana Avelar

Os estudiosos das ciências sociais costumam dizer que quando tudo vai bem, uma infraestrutura tende a se tornar invisível: se incorpora de tal maneira em nossas vidas que mal notamos sua existência.

De forma semelhante, a submissão constante a um déficit infraestrutural pode fazer com que nos acostumemos com a falta, de um lado, e que reconheçamos facilmente as benesses de sua instalação, de outro.

Eu me lembro muito bem de como a modernização do aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, humanizou meu ritmo de trabalho. Mesmo em voos com horários sofridos (daqueles que a gente compra e se arrepende no minuto seguinte), um mínimo de conforto seria garantido: restaurante com café da manhã mesmo as seis da manhã, bares agradáveis para o happy hour de recepção dos clientes, além de mesas, tomadas, banheiros confortáveis.

Hoje em dia já não uso Confins com a frequência de outrora, mas não deixei de observar as maravilhas e desafios que a oferta de infraestrutura enseja. 

Completei dois anos morando na Alemanha no último março e esse aniversário me fez refletir também sobre esse tema. Pensei em tudo que falta na infraestrutura logística brasileira e que aqui, por vezes, são dados por garantido. Pensei em alguns equívocos aqui cometidos (equívocos que nós brasileiros sabemos muito bem onde pode dar). 

Pensei que o Brasil já melhorou muito em alguns aspectos e que em outros aspectos, essas melhores são ainda sonho: os trens de passageiro habitam minhas fantasias e, por vezes, alimentam a inveja que sinto da grama do vizinho.

Falando aqui da minha inveja logística: confesso que sempre tive certa fixação com o euro túnel. Beira o hiper foco: durante boa parte da minha adolescência, sonhava atravessá-lo a bordo do Eurostar. 

Essa linha, que conecta Paris à Londres, costuma funcionar muito bem. Mas como toda regra tem sua exceção, no último mês de março todo o fluxo de trens da Gare du Nord em Paris (a estação de trem mais movimentada da França) foi interrompido por uma situação insólita: no curso de obras de renovação, trabalhadores encontraram uma bomba não detonada da Segunda Guerra Mundial. Um dia de caos para provar que os exemplos de caso fortuito nos livros de direito, leis e contratos tem sua razão de ser. E no dia seguinte, a vida seguiu. Linha retomada normalmente.

Nesses momentos, é fácil que a gente se renda à síndrome de vira-lata. Mas em tempos de Oscar para o filme Ainda Estou Aqui e de Globo de Ouro para a gloriosa Fernanda Torres, tenho resistido ao cinismo e focado minha energia em buscar diálogos que conduzem à boas proposições para os problemas brasileiros.

Talvez eu esteja influenciada pelo fenômeno que Michel Alcoforado denominou de vira-lata caramelo exportação ,mas considero que temos muito o que exportar: nossa cultura, capacidade de adaptação, resiliência. E, também, que estamos muito abertos para aprender.

Olho aqui para a Alemanha com especial carinho: mais de 33 mil km de trilhos são administrados pela DeustcheBahn (DB, para os íntimos) e é possível ir de metrópoles até pequenas vilas (os dorfs) de trem.

Mas nem tudo são flores: os índices de atraso têm aumentado ao longo dos anos e a falta de investimento em trilhos, pontes e sinais é visível. 

Esses casos, que ocorrem dos dois lados do Atlântico, evidenciam que além da disponibilização de uma infraestrutura eficiente é sempre importante pensar como tal infraestrutura se torna resiliente e mais apta a gerar bem-estar social.

A livre circulação de bens e pessoas é um vetor indispensável para o desenvolvimento humano. Muito além de frias cifras sobre volumes transportados, falamos de sonhos, histórias, talentos e possibilidades que chegam aonde deveriam chegar.  A melhoria da infraestrutura logística incrementa assim a fruição de direitos e liberdades fundamentais para todos os seres humanos.

Os países em desenvolvimento têm uma tarefa muito árdua de concretizar as infraestruturas básicas que países já desenvolvidos há muito já instalaram.

Mas os países desenvolvidos também não podem descurar da necessidade constante de realizar investimentos nessas áreas, de modo a continuar atendendo as demandas sociais e econômicas de sua população. Não à toa a Alemanha tem se mobilizado para realizar uma série de reformas de ordem fiscal e orçamentária, com objetivo de viabilizar novos tetos de investimentos em áreas essenciais, o que inclui infraestrutura.

Outro ponto que revela a necessidade comum de países desenvolvidos e em desenvolvimento no que tange a sua infraestrutura logística é a necessidade de aprimorar os processos de planejamento. Nesse aspecto, temos muito a aprender com algumas experiências estrangeiras.  

Essas reflexões também foram o mote da nossa coluna no YouTube do Portal Tecnologística. Nesse mês entrevistamos Alan Lear. Alan é um executivo especializado em desenvolvimento e gestão de projetos logísticos intermodais e estratégias comerciais no segmento de serviços globais e competitivos de logística e transporte de alta qualidade (armazenagem, transportes e terminais marítimos) com carreira desenvolvida em empresas nacionais e multinacionais de grande porte, tais como: LIBRA, Lachmann, Contrail e Brasil Terminal Portuário.

O Alan, como eu, também saiu do seu país de origem buscando novas estradas e oportunidades. Um aprendizado que levarei da nossa conversa é o de que os gigantes internacionais da infraestrutura logística não se estabeleceram nesses patamares por acaso. Por trás do sucesso, há muito preparo. Um ótimo exemplo que ele citou é o processo de planejamento de longo prazo do Porto de Rotterdan. Rotterdan, pensando no futuro, já tem investido em processos inovadores para se tornar o maior hub de hidrogênio verde da Europa.

Convido todos vocês a assistirem nosso bate-papo no YouTube para seguir essa reflexão sobre tudo que acontece quando saímos de um ponto de origem em busca de um novo destino.

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