Este artigo analisa um caso real de busca por formas de redução de custos logísticos com foco em caixas de embarque. O modelo de negócio envolvido é chamado de remuneração por resultado, ou seja, a empresa prestadora do serviço de consultoria precisa chegar a uma solução que represente um menor custo para então ficar com a parcela de economia gerada. Neste caso em específico, a empresa ficaria com 50% da redução de custos com as embalagens por um período de 24 meses.
Vale destacar que o ponto mais importante a se observar é que soluções com redução de qualidade e custo não precisam de muito planejamento, mas soluções com melhor qualidade e menor custo realmente representam um desafio.
Aspectos dificultosos com o modelo de contrato
O maior inconveniente decorrente do modelo de contrato adotado pode ser a falta de compromisso do cliente com o trabalho que será desenvolvido, relativo a aspectos como:
- Prazos: como o tempo pelo trabalho não está sendo pago, não existe agilidade no fornecimento de dados pelo cliente;
- Vaidade: os responsáveis pela solução corrente temem ser taxados como incompetente por não terem apresentado uma solução melhor anteriormente. Muitas vezes por serem soluções óbvias;
- Crença: a empresa tem dúvidas de que alguém de fora da estrutura posa apresentar melhores soluções que as estudadas por eles;
- Valor: a empresa acredita que está pagando muito pela solução que poderia ter sido desenvolvida internamente;
- Mudança: a empresa tem receio de mudar a prática consagrada pela cadeia de suprimento, pois eles estão acostumados com a solução. Já possuem um arranjo do produto no palete, o departamento Comercial já pratica a venda com aquela quantidade de apresentação, e daí por diante;
- Fornecedores de embalagem: os fornecedores a princípio são contra. Isto não se dá de forma declarada, mas sim da pior forma: boicote. A embalagem possui 50% do material utilizado, mas a redução de custo é somente de 30%. O material de embalagem reduz a gramatura em 20% mas não impacta no custo da mesma. Ou seja, as dificuldades sempre acompanham o novo modelo;
- Falta de conhecimento técnico do cliente sobre a matéria: por não conhecerem a matéria, resistem. Exemplo: reduzindo a altura da embalagem de forma que a primária contribua com a resistência ao empilhamento, é possível substituir uma onda BC por uma onda C. Simplesmente o cliente não acredita, mesmo demonstrando o desempenho por meio de teste operacionais.
Motivo das embalagens estarem inadequadas
Os erros das embalagens geralmente trazem uma história. Um exemplo é a embalagem de verduras, conhecida como caixa K, utilizada amplamente nas décadas de 80 e 90, mas que ainda existe no mercado. As dimensões da caixa não eram nada compatíveis com as dimensões padronizadas dos paletes de 1 m x 1,20 m. Suas dimensões foram determinadas em função de latas de querosene, mas depois as caixas passaram a ser reaproveitadas para acondicionar outros produtos, como óleos comestíveis, sabão e produtos químicos e agrícolas, que tiveram que se adaptar às suas dimensões. Alterar tais medidas foi um grande desafio para o canal de suprimento e distribuição.
As empresas também funcionam desta forma. Primeiro buscam uma padronização em função de uma embalagem já existente. Porém, o produto que a gerou a dimensão de embalagem saiu de linha há muitos anos e na busca por não criar novos padrões os antigos ficam consagrados. Quando se faz o levantamento das perdas, depara-se com números assustadores. Utiliza-se o dobro do material para a solução necessária.
Estudo das embalagens
Os estudos das embalagens passam por considerações técnicas e matemáticas. As técnicas são relativas ao conhecimento de comportamento e resistência. Muita coisa para ser vista e analisada: tipo de papelão, tipo de papel, tipo de esforços, pontos de apoio do produto, embalagem primária etc. A especificação técnica de uma embalagem exige muito conhecimento de materiais e fabricação. O estudo tem que justificar, por exemplo, quando usar um papel reciclado, ou qual o melhor modelo de caixa.
O que mais pesa no projeto, porém, são as relações matemáticas. A princípio ter uma embalagem para cada produto é dispendioso e gera uma gestão de estoque de caixa vazia bastante complicada. Por outro lado, ter uma caixa única para todos os produtos também promove muito desperdício de material. O importante é encontrar uma família de caixas que atenda bem a todas as necessidades da empresa. Para isto não existe nenhum software. Existem programas que estudam o melhor arranjo dos produtos em uma caixa, porém não que determine qual é a família de caixas que melhor atende às necessidades. Neste caso, fatores relativos a marketing e vendas devem ser considerados.
A empresa solicitante do estudo é do segmento de alimentos. Devido às particularidades técnicas da embalagem primária, o projeto ficou restrito à caixa de embarque, sendo que o cliente não aceitava alterações na quantidade carregada por caixa. Neste caso foi verificado que muitos arranjos de vidrarias eram de 3 x 4 por 1 de altura. A configuração foi então alterada para 2 x 3 x 2 de altura. A empresa de consultoria definiu a família de embalagem, as alturas eliminando vazios e a especificação do papelão, gerando uma economia de 35%.
As caixas Fefco (Federación Europea de Fabricantes de Cartón Ondulado) modelo 0201 apresentam a melhor relação de aproveitamento quando à altura e o comprimento. A dimensão da largura é metade do comprimento. Sem dúvida a estabilidade de pilha da solução apresentada não é a mesma que a anterior, mas nada que comprometa a qualidade da movimentação e da armazenagem dos produtos. O cliente ficou satisfeito com a solução encontrada e a empresa contratada recebeu seus honorários gerados da redução de custos logísticos.
Dicas associadas à redução de custos de embalagem
- Perda de espaço: alguns arranjos podem ter muitos espaços vazios entre as suas unidades. Além da perda de espaço, o peso é distribuído desigualmente, possibilitando o desmoronamento das pilhas;
- Resistência: as embalagens devem ser suficientemente fortes para aguentar o empilhamento, suportando o peso da sobreposição da carga paletizada. Excessivamente resistente é desperdício de dinheiro, portanto é importante acertar no tipo de papelão;
- Cubagem: caixas muito grandes ou muito pequenas aumentam o custo do manuseio. A cubagem ideal para a carga ser paletizada é de 28 l, aproximadamente;
- Altura: para melhor estabilidade, a altura da embalagem não deve ultrapassar as medidas de comprimento. Note que altura da caixa mais elevada que a pilha do produto promove deformações;
- Embalagem em forma de cubo: dificulta a arrumação da unidade de carga, diminuindo a estabilidade da pilha;
- Evitar embalagens muito pesadas que sejam movimentadas ou ser deslocados manualmente;
- Evitar a superlotação da embalagem, pois suas superfícies laterais ficarão abauladas, dificultando o empilhamento;
- Evitar volumes com formas não usuais, como os cônicos, cilíndricos, hexagonais etc., pois são difíceis de ser paletizados e desperdiçam espaço.
Fernando Henrique de Almeida Sobral Diretor da Interlogis interlogis@interlogis.com.br www.interlogis.com.br (11) 3862-5670