Um dos telefones celulares mais desejados do mundo - com grandes chances de ser esse que você guarda no bolso - é um dos maiores símbolos da logística atual. Montado na Índia, o iPhone, da Apple, tem peças fabricadas nos EUA, Coreia do Sul, Japão, Europa, Taiwan e China. E encontra, no Brasil, um dos seus mais ávidos mercados consumidores. Tudo está conectado de tal modo que uma crise em um desses locais compromete a produção inteira, gerando um efeito borboleta logístico – o que acontece em um canto do planeta pode se refletir imediatamente em inúmeras cidades mundo afora.
Em meio à crise energética na China, escassez de contêineres nos portos, vai e vem da pandemia e mudanças climáticas, a logística nunca esteve tão em cheque quanto nesse exato momento. Após décadas falando sobre globalização, talvez tenhamos descoberto que ainda seja necessário aprender algumas lições, para lidar melhor com o impacto de um país na realidade do outro.
E é por isso que 2022 tem tudo para ser o ano da logística internacional. O ano em que precisaremos conversar mais sobre como produtores e indústrias vão fazer para circular matérias-primas, commodities ou itens de alto valor agregado em direção às fábricas. E das fábricas para o mundo, com maior eficiência e menor exposição a eventuais desabastecimentos. Por quê?
Por uma simples razão: já estamos colecionando situações reais de desabastecimento de produtos em diferentes países. A falta de bens de alto valor agregado, como automóveis e eletroeletrônicos, são exemplos do que poderá fazer a próxima Black Friday ser bem menos agressiva que nos anos anteriores.
Você ficar sem o celular de última geração devido à alta repentina na demanda mundial e a consequente escassez de semicondutores é uma coisa. No caso da carne, porém, questões como o câmbio e as condições favoráveis às exportações têm reduzido sua disponibilidade no mercado interno e tornado o preço do produto tão exorbitante que faz as famílias buscarem alternativas nos açougues, restando aos mais pobres os ossos do boi em substituição a um bom bife.
Tudo parece, assim, conspirar para criar o caos. Influenciado pelo diesel e pela evolução da oferta/demanda no modal rodoviário, o próprio preço médio do frete (em reais por quilômetro rodado) aumentou 16% no acumulado janeiro a outubro de 2021, na comparação com igual período de 2020 – refletindo no valor total do que as empresas pagam para colocar seus produtos no mercado. Em alguns setores, como a siderurgia, subiu cerca de 30%.
Se não há, contudo, como uma organização controlar as crises internacionais e seus efeitos borboleta, o ponto no qual temos chance de fazer a diferença é na eficiência do frete B2B, buscando elevar a qualidade dos processos logísticos que levem à redução de despesas. E como fazer isso?
As corporações precisam parar de enxergar a logística como custo, motivadas pela crença de que basta encontrar um transporte a preço baixo para economizar. No longo prazo, essa maneira de pensar é corrosiva. Seus efeitos passam por espremer as margens da cadeia produtiva, gerar caminhoneiros insatisfeitos, dificultar a renovação da frota e, no fim das contas, reduzir a qualidade do frete.
A única forma de diminuir custos reais é criar uma estrutura escalável e um modo de fazer as coisas capaz de aumentar a produtividade nos pátios e galpões. Em resumo, a performance se conquista com eficiência de processos.
Já parou para pensar em quais etapas da logística você está perdendo tempo? Se tem um caminhão que leva dez horas parado para carregar, como fazer isso em cinco? Caminhão rodando vazio é prejuízo. Como ele pode andar sempre cheio e reduzir os custos de deslocamento, ou as emissões de CO2? De que maneira baixar os gastos com diesel, entregando mais produtos em menos tempo? Como eliminar despesas para as companhias que embarcam suas cargas, e garantir mais ganhos aos caminhoneiros por viagem realizada?
As respostas a essas perguntas passam pela reunião de dados relacionados às viagens e às rodovias, bem como pelo bom uso da informação para planejar seu frete. E é isso que muitas startups especializadas em logística, as logtechs, têm feito. As melhores logtechs têm entregado o controle e a inteligência da logística às organizações, de modo simplificado. A missão do Google é organizar todas as informações do mundo. Se uma empresa que atua com logística rodoviária conseguir organizar pelo menos os seus dados na estrada para obter melhores resultados, já pode se dar por satisfeita. Quer um exemplo?
Um caminhão que atende à indústria siderúrgica tem condições de transportar cargas para o setor agro. Há algum tempo, no entanto, conheci um grupo multinacional com empresas nesses dois segmentos, que não tinha condições técnicas de coordenar sua frota para que um mesmo caminhão fosse a um destino carregando aço e retornasse transportando grãos. Muitos veículos iam cheios e voltavam sem cargas. As empresas não conversavam e, pior ainda, sem integração não trocavam informações relevantes para garantir eficiência logística. Atualmente, essa conversa é possível.
Os dados apoiam, inclusive, o relacionamento com os caminhoneiros. Hoje, a inteligência de dados permite às organizações conhecerem os motoristas de tal forma que ficou muito mais fácil oferecer cada carga aos perfis mais aptos a transportá-las. Um movimento de duas mãos, que também permite ao caminhoneiro escolher viagens e montar sua própria agenda na estrada, trazendo maior eficiência e satisfação a quem trabalha com frete. A empresa que se relaciona melhor com os motoristas tem acesso à mão de obra de melhor nível e garante qualidade superior no serviço de transporte.
No mundo todo, as borboletas vão continuar a bater suas asas, produzindo efeitos de maior ou menor amplitude nos pontos mais distantes. Como diria o poeta, o que nos cabe é cuidar do nosso jardim. Certamente, ao otimizar rotas, tornar processos logísticos menos custosos e mais eficientes, estaremos muito mais preparados para recebê-las.