A logística reversa tem sido referida constantemente no Brasil e no mundo, seja pela preocupação crescente com a sustentabilidade ambiental ou pela oportunidade de competitividade empresarial, relacionada às suas operações e equacionamento do retorno de produtos do mercado.
O equacionamento logístico do retorno dos produtos consumidos, ou usados, é o objeto da logística reversa de pós-consumo, que operacionaliza a ideia da economia circular, enquanto o de produtos ainda não consumidos, que retornam pela cadeia de suprimentos, é o objeto da logística reversa de pós-venda.
Resumimos essas ideias da logística reversa no esquema:
Embora com procedimentos operacionais semelhantes, envolvendo macroprocessos similares, essas duas áreas distinguem-se pela natureza dos produtos de retorno e pelas características totalmente diferentes dos agentes ou players das cadeias reversas por onde fluem os produtos ou materiais que retornam, o que justifica ter sido estudada e tratada em meus livros desde a primeira edição, em 2003. Embora ainda pouco explorada na prática, a logística reversa oferece potencial de ganhos sob as perspectivas econômica, de fidelização de clientes, de reforço de imagem empresarial, entre outras.
Este artigo sintetiza alguns aspectos atuais dessas áreas.
Logística reversa de pós-consumo
O interesse crescente desta área nos últimos anos no Brasil decorre da promulgação da Lei nº 12.305 de agosto de 2010, denominada Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Define resíduo sólido como um produto usado descartado pela sociedade, que ainda pode ser reaproveitado de alguma forma. Contrapondo-se ao conceito de rejeito, definido na lei como um produto ou material que não tem condições de reaproveitamento.
A PNRS determina que as empresas da cadeia de suprimentos se responsabilizem, de forma compartilhada, pelo equacionamento da logística reversa de resíduos sólidos. Essas operações envolvem indústria, comércio e uma pluralidade de produtos que tornam a logística reversa de pós-consumo complexa e de alto custo.
Essa legislação impacta a visão empresarial sobre os seus produtos de pós-consumo, aproximando-a da realidade inevitável deste equacionamento, pelos efeitos nefastos desses produtos e de seus materiais constituintes ao meio ambiente.
A regulamentação da lei exige um Acordo Setorial, documento oficial celebrado entre o governo federal e um setor empresarial, ou um Termo de Compromisso, no caso de governos estaduais, contendo basicamente planos de ação para a implantação da logística reversa. O estado de São Paulo tem exigido que empresas participem, individual ou coletivamente, de um Termo de Compromisso como condição para a obtenção da licença ambiental.
Para o êxito da PNRS será necessário enfrentar desafios nos transportes, nas indústrias de reaproveitamento dos resíduos, no mercado para absorver os produtos reaproveitados, entre outros. No entanto, talvez o mais importante seja a necessidade de ações governamentais que estimulem essas atividades, por meio de incentivos fiscais, tornando-as mais atrativas, gerando empresas com escala adequada, com certificações de qualidade, maior número de empregos, entre outros aspectos.
Percebe-se, portanto, a irreversibilidade para o cumprimento da PNRS e a premente necessidade de empresas se dedicarem com mais interesse e recursos a essa área extremamente fértil e com enorme potencial para empresas de serviços e de reaproveitamento desses resíduos.
No entanto, com raras exceções, a implantação da PNRS é lenta, mesmo em setores com acordos setoriais já firmados, e na maioria das empresas brasileiras a sua implantação sequer é cogitada, conforme pesquisa recente do Conselho de Logística Reversa do Brasil (CLRB), o que é lastimável.
Algumas oportunidades de ganhos com a implantação de uma eficiente logística reversa de pós-consumo:
Logística reversa de pós-venda
A implantação da logística reversa de pós-venda oferece ganhos financeiros e de diferenciação mercadológica para fidelização de clientes. O retorno de mercadorias é expressivo em diversos segmentos, especialmente no varejo físico e virtual.
O crescimento do comércio eletrônico no Brasil se deve à entrada de grandes conglomerados varejistas, inicialmente como um canal substituto e atualmente como canais complementares e interconectados, o chamado omnichannel. Para se ter uma ideia da importância desse canal, entre os anos de 2013 e 2018 as vendas no Brasil cresceram 50% (considerando que a partir de 2015 tivemos recessão), nos Estados Unidos 100% e na China 500%.
Os motivos de retorno de mercadorias são vários.
O retorno ocorre por algum tipo de falha operacional que redunda em custos elevados quando comparados aos da logística tradicional. A logística reversa é uma das melhores formas de recuperação de falhas operacionais, mitigando os seus efeitos de insatisfação do cliente, reforçando a imagem da empresa, de suas marcas e a garantindo a fidelização do cliente.
Alguns aspectos peculiares da logística reversa de pós-venda permitem evidenciar sua relevância econômica em custos das operações empresariais.
Além desses fatores, outros aspectos próprios de empresa pela falta de atenção a essa área poderão agravar ainda mais os custos.
- Falta de coordenação das operações: redunda em diversos típicos custos:
- Falta de critérios e procedimentos definidos nas operações do retorno: relativo ao não conhecimento dos processos envolvidos e falta de mapeamento adequado dos mesmos. Neste caso, os custos ocorrem sem o conhecimento da empresa, sendo considerados como despesas gerais. Não os conhecendo perdem a oportunidade de economias de custos preciosos.
Algumas oportunidades de ganhos com a implantação de uma eficiente logística reversa de pós-venda:
A vivência profissional e pesquisas especializadas nas duas áreas da logística reversa têm demostrado que são poucas as empresas perspicazes no Brasil que perceberam as vantagens de aprofundar conhecimentos e práticas em seus processos industriais e comerciais, de forma organizada e eficiente, auferindo importantes resultados.
É difícil ter que admitir, para quem atua nesta área há muito tempo, que embora muito referida atualmente, a logística reversa ainda é pouco praticada ou implantada como atividade organizada nas empresas brasileiras, justificando a ideia de retórica e prática do título deste artigo.
Referências
Leite, Paulo Roberto – “Logística Reversa – Meio Ambiente e Competitividade”, São Paulo, editora Pearson Education, 2003 e 2009.
Leite, Paulo Roberto – “Logística Reversa – Sustentabilidade e Competitividade”, São Paulo, editora Saraiva, 2017.