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As novas responsabilidades dos operadores logísticos neste início de década

Por Paulo Roberto Guedes el 7 de enero de 2020 a las 11h57
Paulo Roberto Guedes

Dentre dezenas de frases interessantes, pincei duas frases do e-book das 50 corporações que falharam por não inovarem: Phil McKinney, CEO da CableLabs: “Sem uma estratégia de inovação robusta e resiliente, nenhuma empresa pode sobreviver”; Maxwell Wessel, gerente geral da SAP.iO: “A falha da Xerox em conquistar o mercado de computação pessoal – isso apesar de desenvolver tecnologia revolucionária – demonstra a importância de alinhar todos os segmentos da sua organização na busca da inovação”.

Não há dúvida, portanto: estratégia e alinhamento organizacional são fundamentais para que as empresas, ao se adaptem aos ‘novos tempos’, promovam um ambiente no qual sejam privilegiadas a inovação e o desenvolvimento tecnológico. Mudança, inovação e evolução tecnológica são fenômenos inexoráveis e fazem parte do dia-a-dia de todos nós, notadamente neste século.

Embora esses temas estejam sendo bastante discutidos na atualidade, o Brasil ainda deixa muito a desejar quando se avalia sua capacidade de inovar. Ainda com base no ano de 2018, a Universidade Cornell, dos Estados Unidos, o Instituto Europeu de Administração de Empresas (Insead) e a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, ao elaborarem o ranking do Índice Global de Inovação, que analisou 126 países, classificou o Brasil apenas na 64ª colocação. O estudo demonstrou, também, que um dos principais problemas está ligado à baixa eficácia dos programas desenvolvidos no país. A relação esforços realizados/resultados obtidos não é das melhores. O próprio BNDES, em estudo específico (1), relata que “não temos uma posição de destaque nas dimensões que podem ser entendidas como resultado do esforço de pesquisa”. Em Produtos de Conhecimento e Tecnologia ficamos na 64ª posição e em Produtos Criativos estamos em 78º.

Aqui mesmo no site Tecnologística, em 10 de julho do ano passado, escrevi um texto (“Inovação e adoção de melhores práticas são alguns dos desafios da logística brasileira”) para ressaltar a importância da inovação e da adoção de melhores práticas também na logística. Na verdade, uma necessidade fundamental. E citava, inclusiva, o programa conhecido como ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), elaborado pela ONU, que estabeleceu metas de investimento em infraestrutura geral e, em particular, de infraestrutura logística. Sempre com exigências claras de proteção ao meio ambiente, os investimentos deveriam ser para a expansão, a modernização e o desenvolvimento tecnológico. Coincidentemente, nos ODS da ONU, também constam objetivos específicos para estímulos à inovação. Para esse mister, até as políticas públicas que regulem melhor os novos negócios são citadas, posto que nem sempre as inovações estão “relacionadas a um grande salto tecnológico”, mas sim podendo estar no modo como os negócios se relacionam com os diversos “stakeholders” existentes e “em práticas de gestão mais inclusivas”. “Há muito espaço para essa mudança em todos os setores da economia”. É óbvio que “criatividade e inovação também são essenciais para tornar processos, produtos e serviços mais eficientes, menos poluentes e mais acessíveis”, conclui o Relatório de Atividades dos ODS elaborado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

Infelizmente, mesmo tendo um razoável aumento na quantidade de empresas que receberam apoio do governo federal nos últimos anos, com essa finalidade, isso “não se traduziu em elevação substancial da taxa de inovação (medida pelo percentual de firmas industriais que inovaram em processos ou produtos) que cresceu 33,4% para 36,4%” no período compreendido entre 2005 e 2014, concluiu o estudo do BNDES aqui já citado.

Portanto, parece inevitável, diante de algumas das principais tendências mundiais desta década (2), que os operadores logísticos, através de investimentos em inovação e adoção das melhores práticas, deem às atividades logísticas brasileiras, competitividade bem maior do que a atual. Ao governo, cabe melhorar e expandir a infraestrutura específica, assunto já fartamente discutido aqui neste espaço.

No 31º Fórum Nacional do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), também realizado pelo BNDES, ainda no ano passado, corroborando com o que até agora foi aqui escrito, ficou explícito que um dos principais obstáculos para que o Brasil tenha melhores resultados no campo da Inovação, além da falta de políticas públicas de longo prazo (inclua-se aí recurso financeiro), é a falta de mão-de-obra qualificada. Em resumo, falta “gente” para que as mudanças aconteçam!

E se isso é óbvio, ou seja, que mudanças ocorrem através das pessoas, posto que as organizações são um conjunto de pessoas trabalhando na busca dos mesmos objetivos, também é verdade que não existem mudanças que sejam somente “técnicas”. Ela são, sem dúvida, comportamentais (e até de costumes), exigindo que se busquem soluções nesse sentido.

Também não há qualquer dúvida que a busca de melhorias contínuas no desenvolvimento de processos automáticos e autônomos, proporcionados pela internet das coisas, computação cognitiva e inteligência artificial, exijam aperfeiçoamento, aprendizado e capacitação constantes de todos os profissionais, transformando-os em ativo empresarial e diferencial competitivo.

Como ressaltou o empresário e professor da USP Sérgio Rodrigues Bio, em seu livro “Do Empreendedorismo ao Empresadorismo” (Alta Books Editora – 2019), “o desenvolvimento de habilidades e competências profissionais constitui-se num ativo inalienável das pessoas. As empresas, em larga medida, são o campo em que se pode transformar o conhecimento adquirido nos bancos escolares em competências profissionais remuneradas. Empresas são o ‘palco’ dos processos, questões e desafios que exigem a aplicação do conhecimento e do comportamento requeridos para equacioná-los. Muitas empresas tratam de criar seus próprio programas de desenvolvimento e treinamento de operários, funcionários administrativos, especialistas e executivos”.

E continua o professor Sergio: “para além da satisfação e melhoria profissional que pode advir do aprimoramento de competências, as pessoas buscam um sentido de contribuição, um significado no trabalho. As empresas podem (o que nem sempre ocorre) prover condições de um trabalho significativo que preserve o sentido de contribuição e a autoestima das pessoas”.

Ao publicar um artigo para o Estadão (14.10.19 – “Propósito corporativo não é slogan nem filantropia, é o novo normal do capitalismo”), para explicar porque “propósito corporativo vem se tornando tão relevante na gestão empresarial moderna”, Yacoff Sarkovas, fundador da Sarkovas Consultoria e ex-sócio da Edelman Brasil, escreveu: “Se há divergência quanto ao que é propósito, há convergência sobre seus predicados: gera mais significado para o trabalho das pessoas, orienta planos de longo prazo, motiva a empresa para grandes esforços, inspira e direciona a inovação, identifica a marca para seus públicos. Esse conjunto de benefícios só é obtido quando o propósito é genuíno e real, materializado nos produtos e nas atitudes da empresa”.

Roberto Teixeira Costa, economista e Conselheiro Emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais do Conselho Empresarial da América Latina, em seu livro “Mercado de Capitais – Uma Trajetória de 50 Anos”, publicado em 2006, escreveu: “No entanto, maior responsabilidade social dos empresários é fato novo. É um movimento que teve seu início há não mais de 20 anos”. Agora, em artigo publicado pelo jornal o Estado de São Paulo (31.10.19), complementou: “Quando comecei a trabalhar, essa preocupação (responsabilidade social dos empresários) não fazia parte do receituário das empresas. De qualquer forma, é bom que se frise que se trata de um conceito muito amplo, quando se trata de um empresário. Você vive em uma comunidade constituída por clientes, fornecedores, empregados, meio ambiente, Estado e seus acionistas. O que interessa é como você se relaciona – de maneira íntegra, honesta e decente – com essas pessoas e instituições, respeitando os seus direitos e tendo obrigações claramente definidas em relação a esse público.

Resumindo, é fundamental que os executivos e profissionais de logística comecem a pensar e agir “fora da caixinha’ e, além da competência, da crença na Democracia e no mercado competitivo (sem recorrer de forma automática ao governo sempre que estiver em dificuldade), é preciso compreender a logística em sua essência, isto é, em sua importância estratégica, tanto para o desenvolvimento de empresas como de nações. Criar condições para manter seus funcionários e fornecedores em contínuo processo de capacitação, estabelecer propósitos que deem “significado” a todos eles e compreender a responsabilidade social de suas empresas são objetivos a serem alcançados.

No sumário executivo da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol), publicado em 20 de março de 2015, a frase do economista John Maynard Keynes (1883-1946), escrita para introduzir a Associação no mercado brasileiro, pode ser considerada como nosso ‘Propósito Corporativo’: “A verdadeira dificuldade não está em aceitar novas ideias, mas em escapar das ideias antigas”.

(1)   “Inovar é preciso: situação atual, desafios e perspectivas da inovação no Brasil”, estudo elaborado por Antonio Marcos Ambrósio, Filipe Lage de Souza, Luciano Machado e Sergio Guimarães Ferreira, publicado no site do BNDES em 28/05/2019;

(2)   Aumentos nas demandas por energia, alimentos e infraestruturas social e de transportes, impactos causados pelo avanço da tecnologia nos processos produtivos, na vida e no comportamento do cidadão, processos produtivos mais avançados (Indústria 4.0, por exemplo), maior urbanização (mais ‘gente’ e maiores dificuldades de mobilidade), necessidade de se buscar maior equilíbrio ambiental e maiores exigências por segurança.

As novas responsabilidades dos operadores logísticos neste início de década
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