Como as empresas lidam com a RFID
Mais conhecida no Brasil como etiqueta inteligente, a Identificação por Radiofreqüência (RFID, da sigla em inglês) já tem espaço efetivo no orçamento das grandes companhias do segmento de varejo, distribuição e logística. Essa é a conclusão a que chegou o estudo realizado pela consultoria Deloitte, em conjunto com a norte-americana Retail Systems Alert Group. Todos os dados informados se referem ao ano fiscal de 2005 (junho de 2004 a maio de 2005).
A pesquisa envolveu 90 grupos empresariais de todo o mundo e está composta pelos seguintes segmentos: 60% varejistas, 26% fabricantes, 11% distribuidores e 3% transportadores. A maioria das companhias entrevistadas investe abaixo de US$ 500 mil na implantação da etiqueta RFID*. Porém, entre as empresas com faturamento anual a partir de US$ 5 bilhões, 25% afirmam estar investindo entre US$ 500 mil e US$ 10 milhões em projetos de adoção da tecnologia.
O montante de investimentos diminui nas empresas de menor porte. Mas a expectativa, no geral, é alta. Entre as entrevistadas, 70% acreditam que a RFID levará a algum incremento nas vendas já nos primeiros anos de sua adoção. Este é o mesmo percentual de organizações que esperam implantar a tecnologia nos próximos 18 meses. Vale lembrar que a maior parte das companhias pesquisadas não possui um plano estruturado para adoção da etiqueta inteligente, mesmo aquelas que já investem na tecnologia. As empresas também acreditam que a RFID diminuíra sensivelmente o índice de erros humanos no processo de gerenciamento da cadeia logística.
Mas existe um obstáculo a ser vencido para que a Radio Frequency Identification aporte de vez nas empresas. E não é técnico. A Deloitte ressalta que, na análise dos dados da pesquisa, o elemento mais importante a retardar esse processo é cultural. Entre as redes varejistas, 30% indicaram a percepção de "medo de mudança" em suas organizações, enquanto que outros 15% demonstraram "animosidade" em relação ao departamento de Tecnologia da Informação. Já no setor de fabricantes, de 20% a 40% das respostas captadas identificaram a falta de uma cultura de inovação em suas estruturas internas. A aversão a riscos é outro fator cultural que incide negativamente no grau de aplicação de tecnologias como a RFID. Cerca 44% dos fabricantes se encaixam nesse quadro.
O relatório do estudo sugere que a solução pode estar na educação dos profissionais sobre os benefícios da tecnologia. A seguir, uma entrevista exclusiva com Celso Kassab (foto), gerente sênior de Consultoria Empresarial da Deloitte no Brasil, sobre a aplicação da RFID no País.
Tecnologística Online – No Brasil, em quais setores a RFID está despontando como solução?
Celso Kassab – O setor varejista e a indústria de bens de consumo em geral, especialmente no caso das cadeias de produtos alimentícios e de higiene, são os mercados que concentram as melhores perspectivas para a adoção da RFID.
Tecnologística Online – O País também sofre com a barreira cultural para a implantação da tecnologia, conforme apontado pela pesquisa?
Kassab – Aqui a barreira econômica representa maior obstáculo ao desenvolvimento dessa tecnologia do que a barreira cultural.
Tecnologística Online – Em que aspectos?
Kassab – A barreira econômica mais importante, atualmente, envolve os custos relativamente altos dos projetos. Além disso, há também outros fatores inibidores, como a falta de compreensão sobre os benefícios da sua aplicação e a precária integração entre parceiros da cadeia de suprimentos.
Tecnologística Online – Em que medida o Sr. acredita que essas barreiras irão ceder?
Kassab – Trata-se de uma questão de tempo. À medida que os projetos-pilotos atualmente em curso apresentarem sucesso, novos empreendimentos de RFID aparecerão, ampliando o fluxo de informação e de iniciativas nesse segmento.
Tecnologística Online – Para o setor de logística, em geral, quais benefícios podem ser apontados com a adoção da etiqueta inteligente?
Kassab – As principais vantagens para o setor de logística oferecidas pela adoção da etiqueta inteligente são: maior capacidade para a prevenção de perdas, otimização dos níveis de estoque de produtos e dos recursos humanos e melhor disponibilidade e distribuição dos itens ao longo das operações.
Tecnologística Online – Há alguma área específica da logística na qual exista uma demanda maior ou crescente pelo uso da RFID?
Kassab – Dentro do setor logístico, a demanda maior, neste primeiro momento, está nos centros de distribuição. No futuro, essa demanda será transferida para as próprias lojas.
Tecnologística Online - Como o Sr. avalia o uso da Radio Frequency Identification no Brasil de hoje?
Kassab – O grau de desenvolvimento dessa tecnologia no Brasil ainda é muito embrionário, com poucas empresas atuando efetivamente na sua implementação, sempre por meio de projetos-pilotos. No entanto, está aumentando muito o interesse de profissionais e empresas por informações envolvendo RFID. O número de palestras, eventos de treinamento e reportagens na mídia a respeito desse assunto tem crescido nos últimos meses, o que deve incidir sobre o aumento da velocidade de execução dos próximos projetos.
Tecnologística Online – E quais são as projeções sobre o uso da etiqueta no mercado brasileiro para o curto e médio prazos?
Kassab – Para o curto prazo, espera-se que o uso da etiqueta inteligente seja somente interno, ainda restrito a paletes e caixas de produtos. Posteriormente, deve ocorrer a integração de parceiros da cadeia de suprimentos, o que conduzirá à adoção da tecnologia nas embalagens individuais de produtos.
*RFID – Radio Frequency Identification, ou identificação por radiofreqüência – Em linhas gerais, é uma tecnologia que possibilita a comunicação eletrônica à distância entre um produto específico, dotado de um chip que armazena uma quantidade enorme de informações (chamada de etiqueta inteligente ou e-tag) que emite ondas de radiofreqüência, e um leitor que coleta a informação. Esta é disponibilizada a todos os elos da cadeia logística para a tomada de decisões dos profissionais que gerenciam o processo de distribuição e reposição de itens. Assim, varejistas, fabricantes e distribuidores têm uma série de possibilidades, inclusive saber os hábitos do consumidor e mapeá-los em tempo real, além de rastrear lotes de produtos, entre outras vantagens. O recurso não é novo, existe desde a II Guerra Mundial; porém, esta é a primeira que é previsto o seu uso em larga escala.