A navegação por cabotagem tem ganhado espaço entre os grandes embarcadores no Brasil, com destaque para o setor industrial. Uma pesquisa do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), realizada com 86 das maiores indústrias do país, apontou que 38% delas planejam aumentar o uso desse modal até 2025. Atualmente, apenas 13% das cargas transportadas no Brasil utilizam a cabotagem, enquanto o transporte rodoviário domina com mais de 60% de participação. As informações foram divulgadas pelo Valor Econômico.
De acordo com Maria Fernanda Hijjar, sócia-executiva do Ilos, a maior disponibilidade de navios, o aumento na frequência das viagens e a integração com outros modais logísticos estão criando condições favoráveis para ampliar o uso da cabotagem. "O menor consumo de combustíveis também abre perspectivas para maior participação desse modal no transporte de cargas nos próximos anos", afirma.
Um exemplo dessa tendência é o novo modelo logístico adotado pela ArcelorMittal. A empresa implementou um sistema de transporte por barcaças que conecta suas plantas em Santa Catarina, Espírito Santo e Ceará. O processo envolve o envio de insumos e produtos siderúrgicos, como placas e bobinas laminadas, entre as unidades, aproveitando a localização estratégica e o acesso aos portos. "É um modelo inédito que explora a sinergia entre as plantas localizadas no litoral brasileiro", explica Eduardo Raya, diretor de planejamento e logística da ArcelorMittal.
No ano passado, a movimentação total de cargas em operações de cabotagem nos portos brasileiros atingiu 290,1 milhões de toneladas, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Luís Fernando Resano, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac), destaca o volume de mais de 1,2 milhão de contêineres transportados em 2023. "Esse modal é uma solução estratégica para o Brasil, que possui um território continental e extensa costa marítima", avalia.
No Sul do país, 3,5 mil contêineres são movimentados mensalmente pela cabotagem, com 60% desse volume correspondente ao transporte de arroz para o Norte e Nordeste, informa Carlos Bacchieri Duarte, da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul).
Além da economia nos custos, a cabotagem também é apontada como uma opção ambientalmente mais eficiente. Segundo Luiza Bublitz, presidente da Aliança Navegação e Logística, as emissões de CO2 no transporte marítimo são pelo menos quatro vezes menores em comparação ao modal rodoviário para a mesma distância. "A integração logística viabiliza o transporte planejado de grandes quantidades de insumos e produtos de forma segura e sustentável", diz.
Entretanto, desafios ainda precisam ser superados. A Lei 14.301/22, criada para incentivar e baratear a cabotagem no Brasil, ainda não foi regulamentada, o que preocupa os operadores do setor. Dino Antunes, secretário Nacional de Hidrovias e Navegação, assegura que o decreto está próximo de ser aprovado. "As discussões com a iniciativa privada e dentro do governo foram finalizadas. Esperamos estabelecer regras claras para oferecer segurança jurídica ao setor", afirma.