Pelo volume de dinheiro a ser investido – 7 bilhões até 2008 de acordo com estimativas da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), o setor ficará aquecido por obras de implementação de novos trechos e remodelação de alguns já existentes, além da aquisição de novos vagões e locomotivas. Os anúncios foram feitos durante o evento "Negócio nos Trilhos", que foi realizado no ITM Expo, em São Paulo, entre os dias 26 e 28 de outubro, unindo seminário e feira de negócios. A feira contou com a participação de fabricantes de material de carga e de passageiros (metrôs e trens metropolitanos) e com representantes de todas as ferrovias brasileiras. Ao todo, foram 135 empresas de 13 países presentes nos 115 estandes da feira.
De acordo com a ANTF, que congrega as ferrovias de carga brasileiras nascidas do processo de desestatização do setor, entre 1996 e 1999, a frota brasileira hoje é de mais de 2 mil locomotivas e 70 mil vagões. Somente em 2004, foram incorporados 104 novas locomotivas e 4.951 vagões. Essa frota transporta, anualmente, 186 bilhões TKUs (toneladas por quilômetro útil), tornando o Brasil o sétimo no mundo em volume de cargas transportadas pela ferrovia. Deste total, cerca de 85% são cargas para exportação.
Nos últimos oito anos, o setor investiu R$ 4 bilhões nas ferrovias concedidas, estando previstos mais R$ 7 bilhões para os próximos cinco anos. Desde o início das privatizações, houve redução do índice de acidentes de 55%.
Para se ter uma idéia do crescimento do setor, a participação do modal ferroviário na matriz de transportes brasileira era de 19% em 1999, tendo saltado para 24% em 2003. A associação prevê um índice de 28% até 2008, que pode chegar a 30% com uma maior participação do governo. Os índices de referência mundiais são de 42%. Este crescimento levou à reativação da indústria voltada para o setor, que atualmente gera, segundo a ANTF, 20 mil empregos diretos e 15 mil indiretos.
Investimentos
A Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN) investirá R$ 65 milhões na remodelação – termo usado para uma obra intermediária entre a manutenção e a construção – da ferrovia que liga São Luís a Fortaleza. A obra será iniciada em 1º de novembro e estará concluída em dois anos. Serão remodeladas a infra-estrutura e a superestrutura de uma linha com 1.190 quilômetros de extensão, trocados 700 mil dormentes e substituídos 400 quilômetros de trilhos.
A construção do trecho entre o Maranhão e o Ceará terá financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e será executada por quatro empresas: Pelicano (ES), Terra Firme (CE), Tirante e Construfel (MG).
Outro objetivo da CFN é recuperar a linha entre Recife e Propriá (SE), interrompida desde 2000 devido a fortes chuvas. A expectativa é restaurar a ligação do Nordeste com o Sudeste do Brasil já a partir de março do próximo ano. O terceiro passo da CFN é a construção da Transnordestina, em fase de negociação com o governo. Durante o seminário Negócios nos Trilhos, a Companhia Ferroviária do Nordeste anunciou a busca de recursos da ordem de R$ 1,5 bilhão para investir na Transnordestina. A ferrovia deve ter seu traçado modificado para atender ao escoamento da produção de soja do Piauí até os portos de Suape (PE) e Pecém (CE).
Dinheiro nos trilhos
A Brasil Ferrovias, concessionária que assinou acordo de reestruturação com o BNDES, apresentou um balanço dos investimentos durante este ano: R$ 177 milhões. No montante estão incluídas a aquisição e recuperação de vagões e locomotivas. Já para o próximo ano, a empresa prevê mais R$ 350 milhões. A América Latina Logística (ALL) desembolsou R$ 100 milhões em 2004 e informa a intenção de investir R$ 300 milhões por ano na aquisição de 30 locomotivas, mil vagões e 10 mil toneladas de trilhos por ano, totalizando R$ 1 bilhão em cinco anos.
A MRS Logística investiu, apenas este ano, R$ 350 milhões. Para o período entre 2005 e 2008, projeta maior investimento em aumento de carga por eixo, duplicação de parte das linhas, melhoria das condições de manutenção das vias, aumento da frota de vagões e locomotivas e substituição do sistema de sinalização.
Por fim, a Companhia Vale do Rio Doce informou ter investido R$ 182 milhões em 2004 na compra de 72 locomotivas e 4.500 vagões e anunciou a aquisição de mais 3.500 vagões e 130 locomotivas nos próximos 12 meses, tanto para o transporte de minério de ferro – principal negócio da empresa – quanto para o de carga geral, que vem crescendo expressivamente ano a ano.
Governo
O representante do Governo no seminário, Luiz Carlos Ribeiro, coordenador geral da Secretaria de Política Nacional de Transportes do Ministério dos Transportes, anunciou que o governo pretende investir, em 2005, R$ 389 milhões para a reestruturação operacional da malha ferroviária brasileira.
Ele explicou que, dentro da diretriz do Ministério para o setor, estão previstos quatro pontos principais: a reestruturação operacional da malha e o fortalecimento das empresas concessionárias; a criação e mecanismos eficazes para a fiscalização e controle das concessões; a revitalização do transporte regional e turístico de passageiros; e a expansão e aumento de participação das ferrovias na matriz de transportes nacional.
O coordenador disse acreditar na aprovação em breve das PPPs (parcerias público-privadas), e revelou que já existe interesse de investidores estrangeiros em participar das iniciativas, aguardando apenas o marco regulatório para início das negociações.
www.all-logistica.com
www.antf.org.br
www.brasilferrovias.com.br
www.cfn.com.br
www.cvrd.com.br
www.mrs.com.br
www.negociosnostrilhos.com.br
www.transportes.gov.br
Leia mais sobre a feira e seminário "Negócio nos Trilhos" e veja entrevista exclusiva com Rodrigo Vilaça, diretor-executivo da ANTF, na edição de dezembro da Revista Tecnologística