O modelo utilizado como protótipo foi um Daily 55C chassi-cabina
A Iveco e a Itaipu Binacional colocaram em operação no último dia 28 de agosto, em Foz do Iguaçu (PR), o Daily Elétrico, veículo movido à energia 100% limpa e renovável. O projeto foi desenvolvido em parceria pelas duas empresas com o objetivo de explorar as possibilidades da utilização da energia elétrica no transporte de carga e buscar a redução das emissões de carbono.
O modelo base do protótipo é um Daily 55C chassi-cabina, com 3.750mm de entre- eixos, tração traseira e equipado com três baterias tipo Zebra Z5, acopladas a um motor elétrico MES-DEA de corrente alternada, tipo assíncrono, trifásico, controlado pelo inversor de potência e refrigerado à água. O veículo possui 40kW (54 cv) de potência nominal e torque de 129 Nm a 2.950 rpm e pico de potência a 80 kW (108 cv) e pico de torque de 300 Nm. Sua capacidade de carga útil pode chegar a até 2,5 toneladas. O protótipo tem autonomia de 100 quilômetros com carga completa e desenvolve velocidade máxima de 70 km/h. Vazio, a velocidade máxima chega a 85 km/h.
Na versão elétrica, o veículo recebe a denominação 55C/E e tem capacidade para seis passageiros mais o motorista. Não há modificações visíveis no veículo, pois as baterias e o motor podem ser totalmente instalados na parte interna do chassi, no espaço existente entre as longarinas, o que evita o comprometimento da área para carga. Podem ser instaladas duas, três ou quatro baterias, dependendo do entre-eixos e da autonomia desejada.
Um segundo protótipo elétrico já está planejado com Itaipu em uma outra configuração da família Daily, previsto para o início de 2010.
O projeto
A ideia de colocar em operação um veículo elétrico surgiu quando a Itaipu Binacional convidou a Iveco para participar de uma segunda fase do “Projeto do Veículo Elétrico”, parceria entre a empresa geradora de energia e a Fiat Automóveis iniciada em 2006 e que resultou no primeiro veículo de passageiros elétrico do Brasil. O projeto Itaipu Binacional-Iveco foi aprovado em dezembro de 2008.
Após a conclusão dos testes do modelo, as companhias planejam um lote especial do Daily Elétrico para comercialização aos parceiros de desenvolvimento e clientes pré-selecionados. Eles serão produzidos em um galpão especialmente preparado para esta tarefa dentro da Usina de Itaipu. A montagem é conduzida em parceria pela Itaipu Binacional e a empresa Isvor, do Grupo Fiat. As primeiras dez unidades produzidas do Daily Elétrico serão entregues para a Itaipu Binacional e seus parceiros.
Tecnologia
O Daily Elétrico utiliza a tecnologia KERS, que recupera a energia cinética gerada nas freadas. Num veículo normal, a desaceleração provocada pela ação dos freios gera calor, que é perdido na atmosfera. No veículo elétrico, este calor é transformado em energia elétrica e vai para as baterias, ampliando, assim, a carga disponível. A caixa de direção elétrico-hidráulica também foi idealizada para consumir a menor quantidade de energia possível.
Para conduzi-lo existe dois pedais, acelerador e freio, similar de um carro automático. Uma alavanca de câmbio indica as posições à frente, ponto morto e ré. Para andar, basta girar uma chave no painel, colocar a alavanca na posição à frente (forward) e acelerar.
Já o display digital no painel é diferente de um veículo comum. Suas informações são mais parecidas com aquelas encontradas nos computadores da Usina de Itaipu. Indicam, por exemplo, a carga, a corrente e a voltagem das baterias, bem como sua temperatura de operação. Indicam, ainda, a temperatura do motor elétrico e a marcha engatada. Há, também, um espaço para curtas mensagens de advertências do sistema, administrada pela central eletrônica.
Energia
As baterias que movimentam o veículo não precisam ser retiradas para serem recarregadas. O tempo de recarga é oito horas para cada ciclo (quando estão completamente descarregadas) e a operação é feita por meio de três tomadas de 220V/16A. As baterias não possuem efeito memória, isto é, não viciam. Isso significa que a carga pode ser feita com qualquer quantidade residual de energia. As três baterias carregam e consomem energia simultaneamente. Podem, porém, funcionar de forma independente, o que significa uma segurança para o sistema.
A vida útil é de cerca de 1.000 ciclos (cargas). Cada uma delas é hermeticamente fechada em um invólucro metálico, que isola totalmente a temperatura interna de operação. Ao contrário das outras baterias elétricas, esta não libera hidrogênio (gás inflamável) quando em recarga, permitindo que a operação seja feita em ambientes fechados.
Outro benefício da bateria utilizada está no fato de elas serem à base de sódio, níquel e cádmio (substâncias facilmente encontradas, diferentemente do raro e caro lítio, elemento utilizado nas baterias de celular). Após seu descarte, as baterias são totalmente recicláveis, com todos os componentes podendo ser posteriormente reaproveitados em diversos processos industriais.