Termina hoje o Fórum Nacional e Seminário Internacional de Logística do CEL/Coppead. Ontem, terça feira, foi um dia movimentado, com painelistas apresentando as tendências da logística internacional. O dia começou com o professor Jacques Colin, da Université de la Mediterranée, de Marselha (França), apresentando as Grandes Tendências da Logística Européia para 2004. Demonstrando as grandes mudanças por que vem passando a logística do Velho Continente após a unificação européia, o professor colocou que estes desafios foram agora renovados com a entrada, em maio, de mais 16 países no bloco. "São diferentes idiomas, diferentes, culturas e diferentes infra-estruturas, sem contar a disparidade do nível sócio-econômico, que precisarão ser incorporadas à Europa do Leste, cerca de cinco vezes mais rica", disse o professor.
Entre as mudanças na logística, está a criação de grandes centros de distribuição que servem a raios maiores, em substituição aos antigos centros regionais, menores e com atuação mais local. Isto leva ao uso mais intensivo da infra-estrutura de transportes e à maior automação dos CDs, uma vez que é praticamente impossível administrar grandes áreas sem o apoio da TI e da alta mecanização.
Entre os desafios do continente, está a criação de uma logística pan-européia em substituição às antigas práticas regionais. "Como fazer isso respeitando as diferenças de cada país é nosso grande tema", disse o professor Colin, que deu uma entrevista exclusiva para a Tecnologística, a ser publicada nas próximas edições da revista.
Outra palestra que despertou grande interesse foi a de Pat Byrne, global partner supply chain da Accenture, que apresentou uma pesquisa mundial feita pela consultoria, demonstrando que as empresas líderes em nível mundial são aquelas que têm seu supply chain melhor estruturado. Entre as características comuns dessas empresas, Byrne listou a inserção do SCM na estratégia das corporações, o envolvimento da alta cúpula, a prática do extended supply chain – envolvendo toda a cadeia, até o cliente dos clientes, entre outras. Byrne também concedeu uma entrevista exclusiva para a Tecnologística, que será publicada junto com dados completos da pesquisa nas próximas edições da revista.
No final do dia de ontem, houve um painel discutindo os obstáculos e perspectivas da logística para o comércio exterior do Brasil. Reunindo painelistas nacionais e internacionais e com intensa participação do público, o painel confrontou usuários e prestadores de serviços, numa discussão interessante sobre os gargalos ao nosso comércio exterior.
Hoje o dia começa com a palestra do professor Gene Tyndall, diretor adjunto do Center for Advanced Supply Chain Management da Universidade de Miami (EUA), que falará sobre as questões e tendências no gerenciamento do supply chain. Encerrando o dia, haverá o painel enfocando os desafios para se construir um SCM de classe mundial na América Latina, encabeçado por Renato Cantarelli, vice-presidente sênior de Supply Chain para a América Latina da Unilever. O dia trará também várias outras palestras e cases de empresas representando vários segmentos da economia nacional, além das sessões temáticas.
Além do conhecimento sobre as melhores práticas e tendências da logística mundial, o Fórum é uma excelente oportunidade para os profissionais formarem e atualizarem sua rede de relacionamentos, talvez um dos aspectos mais enriquecedores deste evento, que em seu décimo ano se confirma como o mais importante do segmento no país.
Gargalo Logístico
Certamente um dos pontos altos do Fórum foi a apresentação de uma pesquisa inédita do CEL indicando que a infra-estrutura é, de fato, o grande gargalo das exportações brasileiras. Apresentada pelo professor Paulo Fleury, diretor do Centro de Estudos em Logística (CEL) do Coppead, a pesquisa apontou que, para 48% dos entrevistados, a infra-estrutura logística é o principal gargalo às exportações, seguida pelas dificuldades de se vender no exterior (21%), das barreiras à entrada de produtos brasileiros (18%) e das limitações da capacidade de produção, apontada por apenas 13% dos pesquisados como sendo o principal obstáculo.
Outro dado preocupante é que para apenas 6% dos votantes a infra-estrutura atende às necessidades adequadamente, enquanto que esmagadores 94% responderam que não atende ou atende precariamente. Quanto às perspectivas de melhoria, 65% estão pessimistas.
Para o professor Fleury, os governos vêm falando muito no problema, mas pouco tem sido feito. Após as privatizações, não houve as melhorias esperadas, principalmente devido ao alto custo do capital no Brasil e aos elevados investimentos que a infra-estrutura requer, com retorno demorado. Uma das opções interessantes para solucionar este problema, mas que ainda precisa decolar, são as Parcerias Público-Privadas (PPP).
Mas investimentos não são o único obstáculo, falta também – de acordo com o professor – boa vontade política. Dos cinco itens considerados mais importantes ao desenvolvimento de uma boa logística de comércio exterior apontados pelos entrevistados, estão as greves, a infra-estrutura portuária, o preço dos fretes internacionais, a burocracia governamental e o tempo de liberação de mercadorias. Quanto ao impacto dos gargalos sobre os custos finais das exportações, 80% afirmaram ser alto ou muito alto.
Para Fleury, uma das principais distorções de nossa política para a área é a visão dos economistas que, segundo ele, só sabem contabilizar o custo da infra-estrutura. "Eles não sabem calcular que o custo de não fazer é muito maior que o de fazer", colocou o professor. Ele afirmou ainda que é preciso haver uma "rearrumação institucional" no País. "Existem várias empresas nacionais preparadas para investir na infra-estrutura, muitas já com projetos prontos, mas não investem por esperar uma regulamentação clara e cristalina, que lhes dê segurança para agir.
Na edição de setembro, a Tecnologística trará os dados completos da pesquisa, com números inéditos dos vários modais. Leia também nas próximas edições da revista, entrevista completa com Pat Byrne, global partner supply chain da Accenture e com o professor Jacques Colin, da Université de la Mediterranée.