Uma trupe nervosa, agitada, que exige que tudo funcione à perfeição e que conta o tempo em segundos. Segundos que separam o campeão dos demais pilotos. Assim é o chamado “circo” da Fórmula 1, que roda o mundo em 19 circuitos e que, nesta semana, desembarcou em São Paulo para o GP Brasil, que acontece no domingo, dia 24. E, como todos os anos, uma multidão de aficionados de todas as partes do país e do mundo acompanha as etapas da corrida, desde os treinos livres que acontecem hoje, passando pelos classificatórios amanhã, até o ápice no domingo.
O que o público não sabe é que, por trás de todo este show, existe uma logística igualmente nervosa e complexa, na qual o tempo muitas vezes também é contado em segundos, em que nada pode falhar. E, há mais de 20 anos, esta logística mundial está sob a responsabilidade da DHL, um dos principais provedores globais de logística, pertencente ao grupo Deutsche Post, que possui uma divisão especialmente dedicada às corridas, a Motorsport.
É ela que, suportada pelas demais divisões da DHL, é responsável pelo deslocamento do milionário “circo” ao redor do mundo, percorrendo anualmente mais de 137 mil quilômetros. Assim, desde que acaba um Grande Prêmio e as equipes desmontam e embalam os carros, motores, peças, computadores e demais equipamentos em caixas e racks especiais, é a DHL que tem a responsabilidade de entregar tudo isto no local da próxima etapa do circuito. E os prazos nem sempre são amigáveis: o material entregue para o GP de Interlagos, por exemplo, é em sua grande maioria proveniente de Austin, nos Estados Unidos, onde ocorreu a última corrida, no domingo passado. Ou seja, entre embalar, disponibilizar, embarcar, transportar, desembaraçar, desembarcar, transportar e entregar no autódromo as cerca de mil toneladas de material, foram apenas 2,5 dias!
Conforme explicou o diretor-geral da área de Motorsport da DHL, Pierluigi Ferrari, já no último domingo à noite, em Austin, a operadora logística consolidou as cargas e as embarcou em seis aeronaves B 747 da própria empresa, em um voo direto para o aeroporto de Viracopos, em Campinas, de onde o material seguiu para São Paulo. “Temos responsáveis por esta operação em diferentes países coordenando os embarques porque, além do material proveniente dos GPs, existem outros originários dos fabricantes e fornecedores, que são entregues diretamente nos locais a cada corrida, como os pneus e demais itens que não são parte dos carros, mas fazem parte do espetáculo”, explica.
A operadora já possui um esquema azeitado em cada país aonde o material deve chegar, mas a cada novo local inserido no circuito, tudo deve ser tratado do zero: é preciso entender as peculiaridades locais e passar aos organizadores daquele país as necessidades inerentes à operação da F1. No Brasil, que não é particularmente conhecido pela agilidade dos trâmites aduaneiros, a DHL utiliza o sistema de importação temporária, passando à aduana previamente os documentos e a previsão de quantidade de material. “É como um pré-clearance. Assim, quando chegamos, o material já está previamente liberado, ficando apenas alguns itens para serem checados, mas mesmo estes passam de forma bem mais rápida do que pelos trâmites normais. Ao longo de todos estes anos, nós trabalhamos muito intensamente para que tudo funcione perfeitamente, e não temos tido problemas.”
O diretor coloca que, além do modal aéreo, existem itens mais básicos que chegam a cada país por via marítima, e também nesta operação a DHL tem pessoas acompanhando cada passo, desde a retirada até a entrega no porto de destino. “A cada GP, este material chega para nosso pessoal, que já está esperando no desembarque. Nós fazemos todo o recebimento do material e o entregamos onde for estipulado, o que varia em cada país. Depois, todo este trabalho é refeito no caminho inverso.” Segundo ele, materiais mais básicos como cabos, painéis e geradores, além dos pneus, são entregues diretamente nos locais de cada corrida. “Carregamos inúmeros itens, porque tudo tem de ser idêntico em todas as corridas. Em alguns lugares, somos responsáveis inclusive pela entrega de alimentos e bebidas nos paddocks. No Brasil, contudo, não fazemos esta operação”, salienta.
No Brasil, como ocorre nos demais pontos do circuito, a operação logística terrestre fica a cargo de um operador logístico nacional, que é contratado pelo organizador local. A DHL não participa desta escolha; ela é feita pela própria organização, com o aval da FOM, a entidade que gerencia a F1 mundialmente. No Brasil, esta parte da logística está sob a responsabilidade da Célere Intralogística há 22 anos.
O operador local é o responsável pelo desembaraço aduaneiro, pelo transporte e, no caso do Brasil, pela movimentação do material dentro dos boxes. Embora não esteja responsável por esta etapa da operação, a DHL acompanha tudo de perto, desde o aeroporto até o autódromo, assim como no retorno. “O trabalho feito internamente aqui no Brasil é muito bom. O operador local também está na operação há muitos anos e desenvolveu toda a estrutura e o conhecimento necessários. Nós estamos sempre em contato, pois precisamos saber as necessidades um do outro para que tudo flua bem.”
No total, são cerca de 1,2 mil toneladas de produtos movimentadas a cada corrida pelos modais aéreo e marítimo, incluindo cem contêineres e entre 150 e 300 pneus por etapa. De acordo com Ferrari, a corrida não é apenas contra o tempo, é de obstáculos também. “Temos às vezes de lidar com imprevistos, como greves, vulcões e tsunamis. São coisas que fogem ao nosso controle, mas temos de contornar. Se acontecer, é preciso resolver.”
Porque, afinal, o circo não pode parar.