Atual gestão “arruma a casa” e obtém uma receita superavitária de R$ 70 milhões em 2007
A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), empresa que administra o porto de Santos, já está comemorando os resultados de 2007, antes mesmo de finalizar as contas. Segundo José Di Bella, diretor-presidente da empresa, a estimativa é de um superávit contábil de R$ 70 milhões, que deixará no passado o prejuízo de R$ 120 milhões verificados em 2006. Entre as principais razões da reviravolta estão a reestruturação e a modernização administrativa da Codesp. “Esse resultado deve-se à adoção de medidas saneadoras que reduziram os custos, aumentaram a receita e fortaleceram a empresa”, explica.
Além do resultado da receita, a Codesp tem outros bons motivos para se animar: a empresa fechou o ano com um saldo positivo de caixa, com todos os compromissos pagos em seus vencimentos, sem dívidas em atraso com pessoal, fornecedores, prestadores de serviços, impostos, taxas, contribuições ou qualquer outra natureza de contas a pagar, após tomar uma série de ações.
Entre as medidas implementadas, destaca-se a renegociação feita junto aos principais devedores, contribuindo para com o equilíbrio das finanças. A meta da direção da empresa agora é manter um profissional especializado cuidando exclusivamente da recuperação desses créditos com mais ênfase ainda em 2008. Para isso será implantado um novo modelo padronizado de Faturas e Notas Fiscais, com as correspondentes duplicatas, apresentando ao cliente um documento mais detalhado. O executivo revela que “o novo modelo de gestão, que tem como motor gerador de resultados a delegação de competência, está sendo estruturado para que a administração do porto tenha novas visão e missão”.
Além disso, para Di Bella, as diretrizes traçadas pelo Governo Federal, através da Secretaria Especial de Portos (SEP), e as medidas estruturais em andamento desde os primeiros 100 dias desta administração, aliadas à exclusão da Codesp do Programa Nacional de Desestatização (PND) (proposta na resolução publicada pelo Conselho Nacional de Desestatização, no Diário Oficial do dia 27 de dezembro último), propiciarão o alicerce para mudanças ainda maiores. “A principal meta é tornar o porto um promotor de negócios bem como interiorizar suas atividades”, explica.
Com essas ações, a diretoria da Codesp está definindo uma nova estrutura para a empresa, abrangendo desde aspectos financeiros, recursos humanos, planejamento, expansão, agente regulador dentro do porto, ordenador dos arrendamentos e operações portuárias entre outras, com a intenção de adotar um sistema de governança corporativa. Para isso, será feito um encontro com os arrendatários de áreas, visando estabelecer, de forma conjunta, um planejamento estratégico para o porto de Santos. Além disso, na primeira semana de janeiro, foi criado um canal de comunicação permanente, através do “Fale com o presidente”, na intranet. Isso possibilitará um diálogo constante entre as partes.
Outro fator gerador do superávit de 2007 foi o crescimento em torno de 8% na movimentação de cargas do porto. O desempenho apresentado nos meses de novembro e dezembro prevê a totalização do movimento de cargas próxima a 82 milhões de toneladas, contra 76,2 milhões de t em 2006. Superando em 4,06% a previsão feita em dezembro daquele ano, de 78,8 milhões de t.
O incremento estimado para as receitas operacionais reflete o resultado na movimentação do porto, somando R$ 532 milhões, 4,3% superior ao realizado em 2006. Somente com os arrendamentos foram arrecadados R$ 204 milhões e com as tarifas provenientes das operações de cargas outros R$ 328 milhões. Estes resultados consolidaram o equilíbrio financeiro da Codesp, estabelecido através da renegociação de seu passivo, tanto no que se refere às dívidas públicas (junto ao Refis), quanto aos acordos firmados para pagamento de ações trabalhistas.
Movimentação intensa
Na estimativa de movimentação de cargas em torno de 82 milhões de t em 2007, as operações de granéis sólidos destacam-se com a parcela de 33,7 milhões de t, representando um aumento de 13,6% em relação a 2006. Já os líquidos a granel, devem atingir aproximadamente 15,4 milhões de t, com 5,8% de incremento. A carga geral somará 272,7 mil t, registrando incremento de 16,9%.
A política de estímulo aos biocombustíveis já apresenta resultados nas exportações de milho, um dos grandes destaques na movimentação de cargas em 2007. Estima-se uma movimentação de 3,28 milhões de t, um excepcional incremento de 9.285% em relação ao ano anterior (35.075 t), podendo tornar-se o sexto produto mais movimentado no porto de Santos. Os embarques de álcool devem atingir um volume também significativo, ultrapassando 2 milhões de t, um aumento de quase 4,8% em relação a 2006.
O fluxo estimado para as cargas em contêineres em 2007 é de 2,5 milhões de TEUs, projetando um aumento de 2,46% em relação a 2006 que totalizou 2,44 milhões de TEU. Hoje Santos ocupa a 39ª posição no ranking dos principais portos do mundo em movimentação de contêineres, à frente de concorrentes como Barcelona (Espanha), Le Havre (França) e Kobe (Japão). Desde 2001, Santos subiu 22 posições na escala mundial.
Estimativa para 2008
Para 2008, a Codesp já projeta um movimento aproximado de 86 milhões de t, 4,8% acima das estimativas previstas. O cálculo tem como base as projeções feitas por exportadores, importadores, terminais e órgãos que apontam as perspectivas positivas do agronegócio. Contudo, deverão despontar no ranking de melhor desempenho produtos como adubo, carvão, óleo diesel e sucos cítricos.
A carga geral deverá crescer em torno de 4,3% acima da previsão para 2007, podendo chegar a 33,78 milhões de t. Nesta modalidade deve se destacar a carga acondicionada em contêineres, com um fluxo estimado de 2,67 milhões de TEUs, representando um aumento de 7% em relação a 2007 (2,5 milhões de TEUs). Já os granéis líquidos devem totalizar 15,43 milhões de t, apontando para um crescimento 0,5% em cima do total estimado para 2007.
Para os granéis sólidos estima-se um movimento de 36,7 milhões de t, 8,9% acima do total projetado para este ano. As expectativas de crescimento desta modalidade, com base nas previsões de aumento para o açúcar e a soja (18,2% e 10,2%, respectivamente) devem ser reduzidas pela queda prevista para as importações de trigo, determinada pelo aumento da produção nacional. As projeções para o milho permanecem aquecidas, no mesmo patamar deste ano.
Uso dos recursos
Durante 2007, a Autoridade Portuária realizou investimentos com recursos do Governo Federal, totalizando R$ 22 milhões – 82% maior que do ano anterior, que chegou a R$ 12 milhões. Deste total, R$ 14,2 milhões vieram do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), outros R$ 1,6 milhão do Tesouro Nacional e R$ 5,8 milhões da própria Codesp.
Segundo a atual gestão da empresa, os esforços foram concentrados na viabilização das medidas apontadas como prioritárias pelo Ministério Público e órgãos de controle ambiental, para preservação dos aspectos históricos e ambientais da região, que resultaram na aceleração da retomada das obras da Avenida Perimetral da Margem Direita, vital para a ordenação do fluxo de tráfego rodo-ferroviário no porto de Santos. Atualmente, 25% do traçado estão em obras. Outra meta nesse período foi antecipar em cerca de seis meses o início da construção da Avenida Perimetral da Margem Esquerda. Para isso a diretoria acelerou a elaboração do termo de referência para contratação do projeto executivo da obra. A expectativa é publicar o aviso de licitação até o final deste mês de janeiro.
A dragagem é outra prioridade da atual gestão. Nos últimos 100 dias foram dragados cerca de 400 mil m³ de sedimentos nos trechos do Canal da Barra e na Bacia da Alemoa, conforme o planejado. Em 2007 esse volume ultrapassou 1,2 milhão de m³, dos quais 813,8 mil m³ foram retirados do canal de navegação e 383,6 mil m³ dos berços de atracação. Já com relação ao aprofundamento do Estuário, o termo de referência da dragagem está em fase de conclusão. A Fundação Ricardo Franco concluiu em maio de 2007 a caracterização geológica-geotécnica do canal de acesso, bacias de evolução e berços de atracação, bem como a elaboração do novo traçado geométrico do canal.
Para elaborar o projeto executivo de derrocagem das pedras de Teffé e Itapema, a ser entregue na primeira quinzena de janeiro de 2008, a Codesp contratou empresa especializada e o projeto foi iniciado em novembro último, com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório (RIMA). O EIA-RIMA também está em fase de conclusão e deverá ser encaminhado ao IBAMA na primeira quinzena de fevereiro de 2008.
Por outro lado, o Governo Federal destinará recursos da ordem de R$ 1 bilhão para a dragagem dos portos brasileiros e o aprofundamento do porto de Santos é sua prioridade. O investimento permitirá ampliar a profundidade de 12 para 15 metros e a largura do canal de navegação de 150 para 220 metros, possibilitando a navegação com cruzamento de embarcações e dando ao porto condições de receber navios de até 9 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés). Esse empreendimento envolverá recursos da ordem de R$ 207 milhões e confirmará a vocação de Santos como porto concentrador de cargas.
No ano de 2008 a Codesp concentrará recursos na finalização das obras da Avenida Perimetral da Margem Direita, bem como no início da Avenida Perimetral da Margem Esquerda e no aprofundamento do canal de navegação do porto. O diretor-presidente da Codesp, José Di Bella, afirma que, para Santos manter sua competitividade deve desenvolver uma estratégia que diferencie os seus serviços dos prestados pelos demais portos. Uma das metas é evitar, em primeiro lugar, os congestionamentos no tráfego viário, garantindo, também, a acessibilidade ferroviária ao porto. “Acredito que devemos trabalhar unidos, tanto a Autoridade Portuária, instituições da Baixada Santista, bem como a comunidade logística portuária, para viabilizar as ações que permitam enfrentar as pendências que afetem a competitividade do porto de Santos”, comenta.
Di Bella destaca ainda que o interesse demonstrado por investidores nacionais e internacionais de se instalarem em Santos é uma mostra de confiança. Esse interesse vem determinando a aceleração dos investimentos públicos e a necessidade de uma planificação da expansão do porto. Nessa linha, o Governo Federal assinou uma Carta-convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) visando a cooperação técnica para elaboração do Plano de Desenvolvimento e Expansão do Porto de Santos, considerando a demanda atual e projetada.
Reforço privado
O setor privado investiu um total de R$ 297 milhões no porto de Santos em 2007, em novas instalações, melhorias e equipamentos. Os investimentos mais expressivos foram feitos pelos terminais da Santos Brasil, Libra Terminais, Adonai, Tecondi, Rodrimar, TGG/Termag, Cosan, Teaçu e Terminal para Passageiros (Concais).
Em 2008, outras empresas como pelos terminais da Granel Química, Petrobrás, Tecondi, Terminal Intermodal de Santos (TIS), Brasil Terminal Portuário, Itamarati, Multicargo, NST, Tecon 3 e Embraport, investirão outros R$ 250 milhões.
Além disso, vários acordos de cooperação foram firmados em 2007 visando dotar o porto de infra-estrutura adequada para sua futura expansão, proporcionando-lhe, inclusive, autonomia em setores vitais, como energia, água, saneamento etc. Destacam-se neste aspecto: obras de dragagem por parte de empresas como a Cosipa e Ultrafértil e Embraport; a entrada em operação do novo sistema de distribuição de água potável e tratamento de efluentes domésticos do porto de Santos; a ampliação da infra-estrutura de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica no porto para atendimento a futuras demandas pela CPFL, com destaque para a eliminação de linhas aéreas na área urbana, a criação de circuitos submarinos para futura eliminação das torres de 90 metros, melhoria da rede de distribuição (cabos e transformadores), entre outros; viabilização de novo acesso viário ao porto de Santos,com desenvolvimento dos terminais instalados na Margem Direita, planejando seu crescimento a fim de evitar gargalos na sua logística em médio e longo prazos; aumento da fiscalização das operações dos navios, entre outras iniciativas.
Em 2007 também foram engatilhados vários estudos relacionados com cabotagem, transbordo, prospecção dos mercados de cargas conteinerizadas, obras no entorno e retroporto que possam viabilizar futuras construções de berços de atracação e incremento de infra-estrutura.