A Veloce Logística deu sua primeira entrevista desde a compra de 100% de suas ações pela japonesa Mitsui junto ao Grupo Pátria, antigo controlador da empresa. Anunciada no final de janeiro, a transação não teve seu valor revelado.
O presidente da Veloce, Paulo Guedes, informou que nada mudou com relação à gestão da empresa, uma vez que a aquisição é recente e as novas diretrizes ainda estão sendo desenvolvidas, sendo que a empresa revê investimentos e aguardava a finalização de seu ano fiscal, que terminou em março.
“Mas a visão já mudou totalmente, uma vez que o Grupo Pátria é uma empresa de finanças e tinha uma visão de curto prazo, de valorizar a empresa para vendê-la. Já a Mitsui é voltada – entre outros setores – à logística e tem planos de médio e longo prazos para a Veloce. Além disso, a empresa vê o Brasil como uma região prioritária, e a Améria do Sul como um todo cresce também, o que aumenta o interesse regional”, afirmou Guedes.
Segundo ele, embora a Mitsui possua uma divisão de Logística e Transportes, a divisão que adquiriu a Veloce é a de Veículos e Material de Construção. O automotivo é um dos grandes focos de interesse da empresa, que possui operações logísticas no setor na América do Norte, Europa e Ásia, e no Brasil não será diferente. A indústria automobilística cresce ano a ano no País e a Veloce possui grande expertise no setor, prestando serviços para toda a cadeia logística, como milk run, cross-docking, movimentação interna, gestão de armazenagem, controle de embalagem, logística reversa, transportes doméstico e documentação internacional. Hoje, o automotivo represente 85% do faturamento da companhia.
“Estes fatores somados certamente foram decisivos para a escolha da Veloce pela Mitsui”, diz o presidente. “Outro fator que pesou na decisão foi o fato de a Veloce ser uma empresa rentável, bem estruturada e que presta um bom nível de serviço”, acredita Guedes.
Apesar disso, o executivo diz que o automotivo não é o único segmento-alvo da empresa. “Já atuamos em outros e queremos continuar crescendo neles. O que não significa que nossa participação no automotivo irá diminuir, ao contrário”. Hoje, além de atender a grandes montadoras, como Toyota, General Motors, Honda e Volkswagen, a Veloce atende a outros grandes clientes, como Nestlé, Arcor, Unilever, Bimbo, Danone e Nivea, entre outros.
Para Guedes, os grandes diferenciais da empresa são sua disposição de melhoria contínua – o que é perseguido constantemente, com reuniões de avaliação e revisão periódicas com os clientes; qualidade e compromisso do corpo de funcionários; e desenvolvimento de soluções tecnológicas avançadas.
Outro grande diferencial da Veloce, de acordo com Guedes, é a preocupação com o meio ambiente. Ela implantou um Sistema de Gestão e Sustentabilidade (SGS) que engloba ações como a obtenção da certificação ISO 14.001, voltada ao meio ambiente. Além disso, a empresa é uma das 77 companhias brasileiras – e uma das poucas de logística – a publicar seu inventário de emissões de gases de efeito estufa, dentro do Programa Brasileiro GHG Protocol. “Esta é uma preocupação crescente dos embarcadores e certamente será um fator decisivo na escolha do prestador de serviços logísticos”, afirma Guedes.
Todos estes diferenciais vêm trazendo novos contratos para a carteira da empresa, como o firmado recentemente com a Volkswagen, envolvendo transporte rodoviário de autopeças entre Brasil e Argentina; e com a Team Tex, fabricante de cadeiras de carro para crianças, que prevê serviços de recebimento de materiais importados, armazenagem, separação e expedição, além da “tropicalização” dos produtos (realização de serviços de etiquetagem, inserção de manuais e garantia). Ainda no final de 2011, a Veloce também fechou contrato com a Goodyear, para a alimentação de fábricas.
Estrutura
O grupo Mitsui está presente em 69 países e conta com mais de 40 mil colaboradores, trabalhando em 14 unidades de negócios. No Brasil, está presente no setor de logística e transporte com operações em terminais portuários, entrepostos aduaneiros e locação de vagões ferroviários. O Grupo apresentou um lucro líquido de US$ 3,7 bilhões em 2011 no mundo.
Já a Veloce foi fundada em 2009 e apresentou crescimento de 14% em seu primeiro ano de atividades. Em 2011, a empresa faturou R$ 184 milhões, crescendo 15%, mesmo índice previsto para 2012. No ano passado, foram R$ 15 milhões investidos em ações como a transformação de carretas de 14 metros para 15 m, o que resultou num aumento de cerca de 8% na capacidade de carga dos implementos.
Optando por não possuir veículos próprios, mantendo parcerias com 119 parceiros de transporte no Brasil e Argentina, dispõe de uma frota de 660 veículos, além das 475 carretas sider próprias. Para se ter uma ideia da velocidade de crescimento da empresa, eram dez bases operacionais em 2009, que hoje são 20, no Brasil e na Argentina.