Em palestra organizada pela ABML, Paulo Castello Branco, vice-presidente Comercial e de Planejamento da TAM, traçou panorama do setor
Durante os 45 dias que incluirão a Copa do Mundo de 2014, a ser sediada no Brasil, trafegarão nos aeroportos nacionais algo entre três e quatro milhões de passageiros – 1,1 milhão dos quais internacionais –, entre embarques e desembarques. Os dados foram apresentados por Paulo Castello Branco, vice-presidente Comercial e de Planejamento da TAM, em palestra organizada pela ABML – Associação Brasileira de Movimentação e Logística, realizada no último dia 20. Segundo o executivo, o setor vai enfrentar dificuldade para receber um volume internacional até 75% maior e doméstico até 10% maior. Se for um sucesso, a estimativa é que o evento aumente o fluxo médio internacional em 500 mil passageiros todos os anos.
Castello Branco destaca a Medida Provisória nº489, do dia 12 de maio, que isentaria a Infraero da necessidade de realizar licitações para realizar obras. Segundo comunicado do Ministério da Defesa, a nova regra não elimina a necessidade de concorrência; apenas flexibiliza suas regras e procedimentos, como já ocorre com concessões e parcerias público-privadas. O modelo de concessões, inclusive, é a saída apontada pelo executivo da TAM para reduzir o gargalo do setor. “A gestão 100% pública tem se mostrado ineficiente para reinvestir na própria infraestrutura, mas o monopólio privado também pode ser muito ambicioso”, pondera, citando o exemplo argentino, que privatizou a operação aeroportuária e viu as tarifas mais que dobrarem em um ano.
O panorama do setor aereoportuário no país traçado por Castello Branco preocupa pela estreiteza do gargalo. “Só em São Paulo, que tem grande potencial para ser palco da abertura da Copa de 2014, temos quatro alternativas de aeroportos, todas trabalhando no limite ou acima dele. Guarulhos, por exemplo, que tem dois terminais com capacidade para sete milhões de passageiros por ano cada, em 2009 recebeu 22 milhões”, afirma o executivo. Ele explica, ainda, que a situação de Congonhas é bem semelhante à de Cumbica, e Campinas e São José dos Campos envolvem deslocamento complementar e, portanto, não ajudam a diminuir o impacto logístico.
O pouco tempo hábil para se adequar a infraestrutura aeroportuária ao porte do evento é outro grande desafio, já que faltam apenas quatro anos para a Copa do Mundo no Brasil. “O Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, é o recordista nacional em rapidez de construção: suas obras levaram cerca de oito anos para terminar”, compara Castello Branco. De acordo com o executivo, o governo já propôs soluções para amenizar o problema. “Uma das ações será reformar o antigo terminal de cargas da Transbrasil, em Guarulhos, uma vez que é impossível construir outra pista, devido às cerca de 60 mil pessoas morando em invasões no entorno do aeroporto. Já é alguma coisa, mas não dá para comemorar, porque nos falta também espaço destinado à carga”, lamenta.
Apesar de preocupante, a situação resulta, em parte, da pujança econômica brasileira. “Há pouco tempo atrás, o país tinha 18 milhões de CPFs voando. No ano passado foram quase 23 milhões. A classe C chegou, definitivamente, ao modal aéreo, a concorrência aumentou e as tarifas vêm baixando”, enumera Castello Branco sobre as razões dos gargalos. “Só que a estrutura não acompanhou esse movimento. Como resultado disso, vários aeroportos têm de obedecer limites, como Guarulhos, que não pode ultrapassar 45 operações por hora, entre embarques e desembarques”, informa. Seguindo essa tendência, diz Castello Branco, “outros seis terminais deverão ter suas atividades limitadas ainda este ano, o que levará a um aumento de tarifas”.