Encontro discutiu as operações logísticas entre o Brasil e os outros membros do Mercosul
No dia 19 de março, o Salão Nobre da Fundação Getulio Vargas recebeu o Fórum de Logística Columbia/GVcelog 2008, uma parceria entre a prestadora de serviços logísticos e o Centro de Excelência em Logística e Cadeias de Abastecimento da FGV-EAESP. O fórum teve como tema as operações logísticas realizadas entre o Brasil e os outros países do Mercosul e contou com a opinião de importantes personalidades do setor, como o presidente da Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI), Luiz Alberto Mincarone, e o coordenador do GVcelog, professor Manoel Reis.
Assuntos como trâmites legais, evolução das operações logísticas nas fronteiras com o Mercosul e perspectivas do setor de cabotagem no Brasil foram discutidos ao longo do dia. A ABTI, por meio de seu presidente, destacou a importância de tornar mais eficientes os processos de transporte no Mercosul na primeira apresentação do dia, “Agilização das Operações Rodoviárias no Mercosul”. Após apresentar um panorama do setor, o executivo sugeriu procedimentos como informatização, gerenciamento de riscos, harmonização das leis de trânsito e integração dos órgãos reguladores de cada país, cobrando também uma maior atenção do poder público. “O governo precisa ter uma visão estratégica, mas também precisa de uma visão operacional. Além das preocupações com as grandes questões do país, é preciso também pensar nos detalhes dos processos”, afirmou Mincarone.
A apresentação da Whirpool, da ABTI e do Sindicato dos Despachantes do Rio Grande o Sul tornaram o fórum mais interativo, pois apresentaram soluções para situações cotidianas em operações logísticas. “Ao levar a realidade de grandes empresas e entidades para nossos clientes, demonstramos que soluções criativas são as melhores saídas para garantir uma operação logística eficiente e rentável”, afirma Rodrigo Somlo, diretor-executivo da Columbia.
Cabotagem no Brasil
Para encerrar a programação do Fórum, o professor Manoel Reis apresentou as perspectivas da cabotagem no Brasil, traçando inicialmente o atual quadro das opções de transporte com a falta crônica dos modais ferroviário e aquaviário, que sobrecarregam o rodoviário. Hoje, segundo ele, cerca de 12% da matriz de transporte no país é feita pelo modal aquaviário – divididos em 11% em cabotagem e apenas 1% no fluvial.
“Apesar do grande crescimento da cabotagem nos últimos anos, existe uma expressiva demanda reprimida que, se resolvida, traria grandes benefícios na redução de custos e o alívio do sistema rodoviário”, acredita Reis. Utilizando somente dados compilados pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) do ano de 2006 e para evitar informações díspares fornecidas por entidades diversas, o professor recorreu a essas informações para traçar o perfil da movimentação de cargas por via marítima no país: a participação brasileira ficou dividida em 72,5% para a navegação de longo curso, 23,5% para a cabotagem e 4% para outros modelos, como o suprimento de plataformas, em 2006.
A movimentação total nos portos brasileiros chegou a 693 milhões de toneladas, dos quais 60% foram granéis sólidos, 25% granéis líquidos e 15% de cargas gerais. Estes números não são maiores, segundo Reis, em função da idade elevada da frota, com navios já próximos do final de sua vida útil e sofrendo as conseqüências de manutenção freqüentes – uma situação que se repete no modal rodoviário, lembrou o professor. Os altos custos dos novos navios – um bom exemplar do gênero para o transporte de contêineres chega a custar US$ 50 milhões –, a obrigação da cabotagem ser realizada por embarcações sob bandeira brasileira e a limitação ao afretamento estrangeiro também foram apontados como entraves para o incremento no transporte de cargas em portos e terminais.
Para aumentar a movimentação marítima de cargas, as sugestões do pesquisador são a melhoria na infra-estrutura dos portos, paralelamente à construção de novos, a introdução de navios para aumentar as freqüências, a adequação da legislação (a incidência de impostos, por exemplo, é 28% maior para navios brasileiros em comparação às embarcações estrangeiras de longo curso) e a abertura para a importação de navios, a qual, segundo Reis, “mostra a nossa dificuldade de adaptação à realidade”.