Na ocasião embarcadores e operadores logísticos discutiram
como eliminar os gargalos e promover o desenvolvimento no país
Nos dias 27 e 28 de novembro empresários, embarcadores, operadores logísticos e especialistas reuniram-se, na cidade de São Paulo, para participarem da terceira edição do FELT – Fórum Empresarial de Logística e Transportes, organizado pela Aslog – Associação Brasileira de Logística, cujo tema foi “Logística: Última Fronteira do Protagonismo Econômico Brasileiro”.
O objetivo da organização do evento, segundo Adalberto Panzan Jr., presidente da Aslog e mediador do fórum, foi o de travar um debate franco, não convencional, no qual as partes envolvidas nos processos da cadeia de produção e distribuição – fabricantes e prestadores de serviços – pudessem compartilhar seus problemas e buscar soluções concretas para aperfeiçoar a operação de transporte, eliminar os gargalos e competir com os países em ascensão.
As discussões giraram em torno de seis temas principais:
“Logística e Transporte”, “Tecnologia e Logística”, “Empregabilidade na Logística”, “Contratação de Serviços Logísticos”, “Prestação de Serviços Logísticos” e “Educação em Logística”. E nos painéis desfilaram nomes de altos executivos de grandes embarcadores e de operadores logísticos.
No primeiro painel, lado a lado, Carlos Chies, diretor de Supply Chain da Yara, e Paulo Striker, diretor de Logística da Sadia, discutiram as realidades de suas empresas e as dificuldades encontradas para o embarque de seus produtos nos portos brasileiros. Segundo o executivo da Yara, empresa norueguesa com 36% de capital estatal, a gestão é rigorosa e há exigência pela busca da rentabilidade. Só no Brasil a empresa possui 15 fábricas que deverão faturar R$ 1 bilhão neste ano. Contudo, 2% deste montante equivalem ao custo de demourge. “Desembolsamos R$ 22 milhões na fila dos terminais portuários brasileiros neste ano. O dono do navio não quer ficar parado no porto 17 dias para descarregar. Este custo inviabiliza negócios e impacta toda a cadeia”, critica Chies. Outra barreira é a falta de integração dos modais.
O representante da Sadia no evento chamou a atenção para o fato de que todos os maiores compradores e concorrentes – como China, Singapura e outros – estão no hemisfério Norte, portanto para o Brasil tornar-se atrativo é preciso cumprir os prazos. “Um transportador de contêineres que vem para a Santos e Paranaguá programa sua rota e não quer saber se temos falhas nos portos e problemas de escoamento”, reclama. Segundo ele é preciso encontrar saídas rápidas, pois o país está crescendo em números exponenciais, mas poderia ter resultados ainda melhores se não houvesse tanta ineficiência. “Fizemos uma parceria com a ALL para transportar frango pela ferrovia, em contêineres sobre plataforma. Conseguimos melhores resultados e custos do que usando o modal rodoviário, mas ainda é pouco”. A Sadia transporta 25 toneladas de produtos em cada plataforma da composição; contudo, na Rússia cada plataforma leva 45 t. Comparando as experiências dos países, a operação no Brasil apresenta uma perda de 60% na capacidade de transporte, de acordo com Striker.
Outro ponto levantado são os custos dos pedágios que impactam sobremaneira o transporte e a falta de mão-de-obra especializada. “Na Argentina os custos de pedágio e portuário são menores, portanto a logística é mais barata lá”, diz Chies. Para ele, os modais deveriam operar em sinergia. Já em termos de profissionais especializados a quebra de serviço é muito grande. O setor precisa mais do que dados, por isso a mão-de-obra especializada é um entrave. “O embarcador quer agilidade e contas abertas, mais transparência na relação com os transportadores. Não tem coisa pior do que ver um prestador quebrar”, comenta o executivo da Yara.
Já Striker, da Sadia, reconhece os valores da Coppead e FGV na formação, mas é preciso saber trabalhar com tecnologias avançadas e fazer uma programação logística redonda. “Um contêiner leva dois dias para transitar em Santos; em Singapura esse tempo cai para quatro horas. Isso é custo”, diz. Segundo ele, no momento a Sadia está envolvida em um estudo para viabilizar a cabotagem, que está nas mãos de outras empresas.
Mas e a saída para tudo isso? Ambos concordam que não dá para esperar benesses ou ações do governo federal. O segmento de logística deve trabalhar com velocidade, pois não é possível aceitar um custo de US$48 mil/dia de navio parado em Santos. Porém, quando se trata de buscar culpados das filas e gargalos no escoamento da produção, os embarcadores dizem que os operadores logísticos devem prospectar melhor o mercado em busca de oportunidades e ajustar a equação operacional para que os caminhões não atuem como armazéns de carga itinerantes. “Cerca de 70% do custo no Brasil está no caminhão”, arremata Striker.
No painel “Desafios Logísticos: Visão do Serviço”, representantes de grandes operadores logísticos, como Roberto Salomé, diretor de Logística da Tegma, e Luciano Luft, vice-presidente do Grupo Luft, apresentaram sua opiniões. A Tegma reconhece que a escolha do modal rodoviário como principal meio de escoamento da produção, no passado, tem sido danosa para o país. Hoje muitos aventureiros se abrigam neste setor que, mal organizado, acaba inibindo os outros modais. “Ninguém quer investir na cabotagem, que seria mais adequada para longas distâncias”, defende. Segundo ele, em Rondônia estão sendo construídas duas usinas que deverão levar o desenvolvimento e mais de cem mil pessoas para aquela região: “como é que toda a infra-estrutura vai ser levada para lá, se não há acessos?”, pondera. O diferencial está na agilidade e flexibilidade na tomada de decisão: “não há receita de bolo”, diz Salomé.
Já Luft acredita que o Brasil está passando por uma revolução. Os operadores cresceram como nunca nos últimos tempos, e a logística está sendo mais valorizada e pode apresentar mais soluções. Para isso é preciso ir além. “Software, caminhão e infra-estrutura dá para locar, o grande desafio é a capacidade de pensar”, enfatiza. Para ele os maiores problemas estão na desintegração dos modais e na capacidade de gestão. É preciso que o operador e os embarcadores sentem-se para equalizar custos. “A relação é dura, mas em longo prazo pode-se ter resultados”, comenta, enfatizando que é melhor que o Brasil cresça a módicos 4%, pois se o índice fosse maior os problemas seriam dramáticos.
Infra-estrutura e Logística
O evento prosseguiu à tarde com o tema “Infra-Estrutura e Logística”, e o mediador Adalberto Panzan iniciou o debate informando aos dois convidados Marcello Spinelli, presidente da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), e Moacyr Servilha Duarte, presidente da ABCR - Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias, sobre os resultados da enquete realizada no site da Aslog sobre qual seria o maior desafio da logística brasileira nos próximos anos. Cerca de dois terços das respostas, segundo ele, apontaram a infra-estrutura como a questão mais importante a ser resolvida.
A partir desses dados, Panzan perguntou a Spinelli e a Duarte quais sugestões eles teriam para resolver o problema. Duarte iniciou a discussão lembrando que, a partir de 1980, o país reduziu os investimentos em infra-estrutura e já completamos 25 anos sem a aplicação adequada de recursos. “O Brasil não é um país rodoviário ou ferroviário – na verdade, o país não tem infra-estrutura em nenhum modal”, afirma ele, baseando-se ainda em pesquisa realizada recentemente pela NTC&Logística sobre o atual cenário do transporte brasileiro (ver matéria em https://www.tecnologistica.com.br/site/5,1,16,19251.asp).
Neste contexto, Duarte reforçou a idéia da falta de investimentos e o fato de os programas governamentais estarem voltados à reforma dos modais, e não à sua expansão. Ele afirmou ainda que as agências reguladoras não desempenham as suas operações corretamente e a solução seria delegar à iniciativa privada a execução das mudanças. “Somente 5% da malha rodoviária está sob concessão de empresas privadas e este índice deve aumentar pouco, cerca de 7%, com as novas concessões”, acrescenta ele.
Spinelli prosseguiu a discussão enumerando três pilares para ajudar no avanço da infra-estrutura no país: a primeira delas, segundo ele, é o planejamento, um ponto a ser levado em consideração não somente para a logística, mas a ser adotado como a base de qualquer negócio: “Vivemos mais de 20 anos no país sem olhar para o futuro, mas já temos iniciativas individuais e estaduais para retomar o planejamento e sairmos da inércia”. O segundo ponto a considerar, continua Spinelli, é a execução: para ele, os nossos administradores públicos são instigados a “não fazer” e é necessário destravar estas amarras para que eles tenham permissão para antecipar-se às demandas. A opinião de Spinelli foi compartilhada por Duarte, para o qual o administrador público brasileiro tem medo de tomar decisões.
Finalmente, o terceiro ponto para favorecer o aumento da competição por mercados globais estaria no investimento em boas obras. “Encontrar bons profissionais para executar boas operações é um problema grave, precisamos investir para resolver a questão da falta de mão-de-obra qualificada”, completa Spinelli, ao empreendedor cabe a missão e a ousadia de assumir um papel atuante para mudar a situação brasileira atual. Entre os exemplos citados por ele e desenvolvidos pela CVRD para mudar o quadro, estão a expansão da Ferrovia Litorânea Sul, a reativação de um corredor para a exportação de grãos no estado de Minas Gerais e o desenvolvimento de projetos específicos para clientes – mais informações sobre os investimentos estão disponíveis em https://www.tecnologistica.com.br/site/5,1,16,19399.asp.
Conclusão
O final do Fórum Empresarial de Logística e Transporte – Felt 2007, foi marcado pela divulgação das ações propostas pelos seis grupos de trabalho compostos durante o evento que, segundo Panzan, passam pelos próximos dois anos a fazer parte da pauta de assuntos abordados pela associação. Dentre os principais pontos levantados no encontro foram enumerados os seguintes aspectos:
Logística e Transporte
A Aslog deve atuar como protagonista do Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT), coordenar o planejamento setorial e identificar as oportunidades e como utilizá-las e promover o compartilhamento da infra-estrutura atual.
Tecnologia e Logística
Reforço à inclusão digital, formação de profissionais capacitados e aptos a utilizar os sistemas. Aperfeiçoamento da prática com definição de padrões de integração entre os sistemas e participação efetiva da Aslog nos grupos de regulamentação.
Empregabilidade na Logística
Busca de parcerias com órgãos governamentais para que os dados do Sistema Nacional de Empregos (Sine) estejam disponíveis para o setor. Influenciar políticas públicas na formação de mão-de-obra operacional, como motoristas, conferentes e operadores de empilhadeiras.
Contratação de Serviços Logísticos
Maior acesso à informação de recursos (catalogar prestadores e mapear fluxos de carga), realizar investimentos na qualificação (criação de selo de qualidade e padronização das ações) e melhorar os procedimentos, com a publicação de manuais e a realização de pesquisas de acompanhamento do mercado.
Prestação de Serviços Logísticos
A criação de um selo de qualidade, elaboração de um código de ética e o fomento de um programa de incentivo à diferenciação dos serviços prestados foram destacados.
Educação em Logística
Mapear as ofertas e procura por cursos, firmar parcerias com universidades e institutos, e viabilizar universidades corporativas.