Brasil está na última posição em infra-estrutura de transporte na relação das 20 maiores economias mundiais segundo levantamento da entidade
A Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) produziu um estudo que põe em xeque a tese construída em torno do país rodoviário e dos investimentos concentrados nesse modal: a obra compara o que cada nação tem hoje em quilômetros de rodovias pavimentadas e aponta o Brasil, entre as 20 maiores economias mundiais, como o país que menos privilegiou o transporte rodoviário em investimentos públicos em infra-estrutura. O conteúdo do trabalho é a matéria-prima de “O mito rodoviarista brasileiro” (o arquivo para download da publicação encontra-se no final da matéria), lançado pelo presidente da NTC&Logística, Geraldo Vianna, nesta 16ª edição da Feira Nacional de Transporte (Fenatran).
De acordo com o estudo de 51 páginas, a oferta quantitativa da malha rodoviária no país, em relação a outras 19 nações, apresenta “um setor raquítico”, mas ainda assim conseguindo predominar no mercado, segundo Vianna. Os cálculos e análises da entidade apontaram que, caso sejam observadas variáveis como extensão territorial, população e frota de veículos, a malha rodoviária pavimentada nacional é a última classificada no ranking e está muito longe de competidores diretos do Brasil, como Rússia, Índia e China.
Segundo o presidente da entidade, o estudo mostra que o Brasil está mal servido na infra-estrutura de transporte, com apenas 12% das rodovias pavimentadas (196 mil km) de 1,6 milhão de extensão rodoviária total – por exemplo, a Rússia tem 84,7% de nível de pavimentação e a China 81%. A solução para melhoria estaria em um investimento estimado de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) – um quadro totalmente impossível, quando se considera que o máximo investido pelos governos no segmento chegou a 2% do PIB há alguns anos e hoje não ultrapassa 1%.
“O levantamento cuida basicamente da oferta de infra-estrutura de transporte em termos quantitativos”, explica Vianna. “Há apenas referências superficiais às questões da qualidade da infra-estrutura, bem como à demanda por transporte, que deságuam na conhecida representação da matriz de transporte brasileira, traduzida em toneladas por km, diante da qual se costuma manifestar grande espanto com a participação majoritária do modal rodoviário, de cerca de 60%”.
Novo modelo de análise
Segundo Vianna, o comparativo internacional envolve as redes de transporte das 20 maiores economias em números absolutos e relativos. “O inédito neste trabalho é a forma como os dados foram ponderados, produzindo indicadores originais a partir da utilização de uma fórmula desenvolvida pelo estatístico e demógrafo italiano Giorgio Mortara”, explica o presidente, acrescentando que a fórmula do pesquisador permitiu considerar simultaneamente, em relação às rodovias, as variáveis território, população e frota de veículos.
Embora o trabalho tivesse o escopo declarado de desmontar o chamado “mito do rodoviarismo”, ele não deixou de fazer a mesma comparação internacional da situação das infra-estruturas ferroviária e hidroviária brasileiras com as dos países considerados como benchmark. Considerando-se os critérios de extensão territorial e população (menos frota), o Brasil ocupou a 19ª posição em ferrovias e, para surpresa da associação, o sexto lugar em hidrovias – porém, ao levar em conta o conjunto de malha de rodovias, ferrovias e hidrovias, o Brasil foi o último colocado.
A expectativa de Vianna é da publicação ajudar a desmistificar a discussão sobre transportes no país e a dimensionar a distância que separa o Brasil dos competidores. O levantamento foi executado pelos engenheiros da equipe técnica da NTC&Logística, sob supervisão do engenheiro Neuto Gonçalves dos Reis, e o resultado da análise foi apurado por meio do cruzamento de informações de fontes nacionais – como a Associação Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o antigo Geipot, o Plano Nacional de Transportes e Logística (PNLT) e a pesquisa rodoviária da Confederação Nacional do Transporte (CNT) – e estrangeiras, como a Organização das Nações Unidas (ONU), a International Road Federation, o World Bank e a Central Intelligence Agency (CIA).