Com participação de 24% no transporte de carga pesada no Brasil, o setor ferroviário quer chegar a 30% em três anos, aumentando a capacidade de oferta de transporte em 57%. Para tanto, a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) calcula que, entre 2004 e 2008, são necessários investimentos de R$ 11,3 bilhões, sendo R$ 7 bilhões da iniciativa privada e R$ 4,3 bilhões do setor público.
Com essa perspectiva, a ANTF encaminhou ao Governo Federal dois estudos apontando gargalos físicos e operacionais detectados ao longo dos 28,5 mil km de malha ferroviária existentes no País e operados por concessionárias. Os empresários do setor querem clareza do Governo Federal sobre o planejamento estratégico da matriz de transportes, para que possam direcionar seus investimentos. Segundo eles, essa definição, por parte do setor público, é fundamental para reduzir seus custos logísticos.
As informações foram dadas pelo diretor executivo da ANTF, Rodrigo Vilaça, durante a 8ª Conferência Internacional de Ferrovias de Transporte de Carga Pesada realizada no Rio de Janeiro entre os dias 14 e 16 de junho. A conferência é o evento oficial da International Heavy Haul Association (IHHA) e o evento foi organizado pela Fagga Eventos, do Rio de Janeiro. O encontro incluiu seminários com representantes de oito países (Brasil, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Índia, China, Rússia e África do Sul) e a feira de negócios reuniu 120 expositores. Os organizadores calcularam em seis mil o número de visitantes.
A ANTF destaca, como problemas centrais que exigem intervenção pública, os relativos às comunidades que vivem às margens das ferrovias e o número excessivo de passagens de nível (11 mil). Segundo Vilaça, isso limita a velocidade dos trens em 37 km/h, sendo que, se houver investimentos, essa velocidade poderá chegar a 45 km/h.
Representante de oito grupos empresariais responsáveis por todo o transporte ferroviário de cargas no País, a ANTF reivindica também a redução das alíquotas de importação de materiais para o setor, de maneira que os produtos transportados tornem-se mais competitivos na chegada aos portos; e quer a implementação do Plano de Revitalização da Ferrovia.
Sob o ponto de vista financeiro, a ANTF sugere a destinação de recursos da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) para investimentos no setor, que teria contribuído, em 2004, com R$ 468 milhões, pagando este imposto sobre o consumo de diesel. Outra possibilidade indicada pela ANTF para realização dos investimentos necessários é a formação de Parcerias Público-Privadas (PPPs).
Há, hoje, no Brasil, 2.612 locomotivas e 72.668 vagões em atividade. Empresários do setor calculam que, até o final deste ano, haverá mais 225 locomotivas e 9.100 vagões circulando e reivindicam a regulamentação do tráfego mútuo e do transporte de cargas perigosas.
Projeto Transnordestina
Os empresários do setor ferroviário esperavam, ainda para o mês de junho, a abertura, por parte do Governo Federal, dos trâmites legais para construção da Ferrovia Transnordestina. O projeto, segundo dados do Ministério dos Transportes, abrange a recuperação de 1.932 quilômetros de ferrovias pertencentes à Malha do Nordeste e a implantação de 532 quilômetros de novos trechos ferroviários.
A Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) calcula em R$ 8 bilhões o investimento necessário à realização do empreendimento, que teve início em 1990, mas foi abandonado em 1992. O traçado da Transnordestina faz a conexão entre o Sul do Maranhão e os portos de Suape, em Pernambuco, e de Pecém, no Ceará, passando pelo interior do Piauí.
Vale Logística de olho no futuro
Responsável por 10,3% do faturamento bruto global da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), a Diretoria de Logística da empresa está ajustando o curso para adequar-se à nova realidade do mercado internacional. Operadora da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e das estradas de ferro Carajás (PA) e Vitória a Minas, a Vale Logística já está se planejando para responder à demanda que virá em função de projetos de expansão estabelecidos por seus clientes para 2007 e 2010.
Com foco em 2007 estão os planos de expansão da produção já definidos por Açominas, Companhia Brasileira de Ferro (CBF) e Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST). Para 2010, estão os planos da Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra). Além disso, com 80% de suas atividades voltadas para o comércio exterior, a Vale Logística atua em função de um horizonte cuja perspectiva é a expansão da produção de soja, algodão e produtos que exigem transporte em frigorificados.
O diretor Comercial da área de Logística da CVRD e presidente da Ferrovia Centro Atlântica, Mauro Dias, explica que o prazo de entrega de uma locomotiva hoje, no mercado internacional, é de 18 meses, e de um vagão varia de seis a oito meses. Daí a necessidade de planejar os investimentos com prazos maiores, o que, por sua vez, exige dos clientes que também antecipem suas programações.
O aumento da demanda por produtos ferroviários no mercado internacional ocorre em função da pujança da economia chinesa. Os fornecedores operam com capacidade plena, por isso necessitam de prazos maiores para atender à demanda crescente.
O investimento programado pela CVRD para a área logística este ano é da ordem de US$ 750 milhões. Está programada a aquisição de 123 locomotivas e 5.800 vagões. Além disso, já está definida a expansão de 90 km na ferrovia de Carajás.
Nos últimos quatro anos, o faturamento bruto da Vale Logística cresceu, em média, 25% ao ano, segundo Mauro Dias, representando, em 2004, uma receita de US$ 877 milhões. E a perspectiva é de que os negócios no setor continuem a crescer, pois, de acordo com o executivo, ainda há demanda não atendida por transporte ferroviário de cargas no Brasil.
A Vale Logística tem uma carteira com 1.600 clientes e 69% de seus serviços correspondem a transporte ferroviário de carga; 22% referem-se a movimentações portuárias; e 9% a navegação. (Juçara Braga, do Rio de Janeiro)
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