A atuação dos operadores logísticos frigorificados é permeada por diferentes nuances. Desde questões climáticas, passando pelos cuidados operacionais devido à utilização de gases, como a amônia – empregada no processo de refrigeração –, até a cautela com os equipamentos de proteção utilizados pelos trabalhadores, uma série de aspectos demanda atenção especial. E a atividade ganha cada vez mais importância. Isso porque o aumento da população tem reflexo direto na demanda por alimentos, resultando em uma crescente necessidade da sociedade de uma forma geral pelas atividades desempenhadas pelas companhias que compõem a cadeia logística do frio. Não só isso: o segmento é responsável pelo transporte e pela armazenagem de inúmeras outras cargas tão importantes quanto os alimentos, como medicamentos, sementes, sangue e hemoderivados, vacinas e até mesmo órgãos.
O setor é fundamental na preservação e no prolongamento da vida útil de vários produtos, contribuindo, assim, com a redução de índices alarmantes de desperdício devido a operações mal executadas. Segundo números da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados anualmente. No Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) calcula que as perdas totalizam 26,3 milhões de toneladas por ano.
Apesar de figurar como um dos pilares da economia brasileira – segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Armazenagem Frigorificada (Abiaf), o setor possui hoje uma receita de R$ 2,2 bilhões por ano, gera 15 mil empregos diretos e conta com 9 milhões de m³, sendo 83% do setor privado e 17% do setor público – os players do mercado ainda convivem com uma série de desafios, como a alta carga tributária e os encargos trabalhistas, além da questão energética, esta, sempre delicada e com grande impacto na planilha de custos.
Altas tarifas, racionamento, blackouts. Muitos se lembram, por exemplo, dos apagões ocorridos nos anos de 2001 e 2002, que afetaram o fornecimento e a distribuição da energia elétrica. São diversos os fatores que levaram o país às escuras à época, mas alguns deles são facilmente identificáveis, como a escassez das chuvas, a falta de planejamento governamental e a ausência de investimentos em geração e transmissão de energia.
A chamada Crise do Apagão, entretanto, foi apenas o reflexo de uma política – ou da falta dela – praticada há anos no Brasil. Até meados da década de 1990, o setor de energia elétrica brasileiro era um monopólio estatal. O governo era o único investidor e as tarifas de energia eram utilizadas como item de controle da inflação. Com o endividamento do setor elétrico e o esgotamento dos recursos do Estado para a expansão, o funcionamento foi se deteriorando.
Diante desse cenário, algumas iniciativas começaram a ser adotadas. A partir de 1995 iniciou-se um processo de reestruturação do segmento e uma das principais consequências foi a desverticalização de toda a cadeia produtiva: geração, transmissão, distribuição e comercialização tornaram-se segmentos de negócio diferentes. Os setores de transmissão e distribuição continuaram sendo tratados como serviços públicos regulados (considerados monopólios naturais), enquanto a competição foi incentivada nos segmentos de geração e comercialização. Esse fato abriu caminho para que a energia elétrica passasse a ser tratada como uma mercadoria passível de negociação, seguindo uma tendência mundial.
As experiências estrangeiras, principalmente no que diz respeito às iniciativas junto aos setores produtivos, são as mais diversificadas. Fábio Fonseca Filho, CEO do Grupo Friozem e que também exerce o cargo de presidente da World Food Logistics Organization (WFLO) – entidade dedicada a promover as melhores práticas na logística da cadeia do frio em todo o mundo – , conta que no exterior o modelo de geração e aquisição de energia para atividades industriais é muito avançado. Nos Estados Unidos, conta, algumas empresas chegam a instalar painéis solares para gerar sua própria energia. Ele afirma que isso acontece porque, em muitos estados, existem incentivos para a implantação do sistema. “Em determinados casos, a companhia não compra o painel, ela faz um comodato. Uma empresa especializada em energia solar arrenda o teto da câmara e instala os painéis a fim de comercializar energia para este operador e vender para outros interessados”, explica.
No Brasil, a energia solar já é utilizada com relativo sucesso em aplicações residenciais, que demandam baixa geração e consumo. Para implementações corporativas, porém, ela ainda se mostra inviável. Na Friozem, Fonseca realizou um estudo que apontou que, além do alto custo de desenvolvimento e aplicação, o retorno seria muito demorado, com um payback de 18 anos.
Opções de compra
Mas existem outros modelos de aquisição de energia que começam a ganhar força. O processo de abertura do setor elétrico brasileiro não ocorreu de forma completa, o que gerou um cenário em que, ainda hoje, coexistem no país dois mercados distintos de energia: o cativo e o livre. Assim, as companhias, entre elas os operadores frigorificados, podem escolher qual deles se adequa de forma mais eficiente às suas necessidades.
Vale explicar, aqui, a característica de cada um desses mercados. No cativo, a compra da energia elétrica é realizada junto à concessionária ou à permissionária que tem a concessão para fazer o serviço de distribuição. Não existe a possibilidade de negociar preço, ficando os compradores, assim, sujeitos às tarifas de fornecimento estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A aquisição é feita junto a distribuidoras que adquiriram essa energia por meio de leilões, portanto precisam repassar seus custos para o consumidor.
No mercado livre, são dois os agentes consumidores: o especial e o livre. Ambos podem traçar estratégias e negociar livremente as condições comerciais de contratação da sua energia, e há a possibilidade de escolher preço, prazo, indexação e ter flexibilidade quanto ao montante de consumo. Além disso, é possível escolher o fornecedor de energia, que pode ser um gerador ou um agente comercializador. Existe apenas uma diferença: o consumidor especial deve adquirir energia de fontes incentivadas, como eólica, solar, biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas (PCH). Já o consumidor livre compra de fontes convencionais ou incentivadas.
Para os operadores logísticos frigorificados, essa possibilidade de negociar a melhor forma de adquirir a energia elétrica é fundamental para a manutenção de uma operação rentável. De acordo com estimativas das empresas do setor, a conta de energia representa entre 20% e 30% do custo total da operação de um armazém.
De olho nos melhores preços e práticas com o objetivo de manter as operaçoes sadias, os provedores começam a vislumbrar as vantagens e a aderir à compra de energia no mercado livre, modalidade que tende a apresentar índices cada vez mais constantes de crescimento. Ainda jovem no Brasil, com cerca de 15 anos, o mercado livre de energia já é uma tendência mundial.
Potencial mercadológico
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que tem por finalidade viabilizar a comercialização de energia elétrica no mercado brasileiro, conta hoje, em seu quadro associativo, com 2.262 membros, dos quais 1.591 são especiais e 671 livres, consumindo 25,7% (cerca de 14.791 Mw) de toda a energia disponibilizada no Brasil todos os meses. As projeções são de que essa representatividade chegue a 46% em breve. De acordo com o levantamento mais recente da entidade, de dezembro de 2015 a maio de 2016, o número de consumidores especiais cresceu 32% e o de livres 7%.
A Comerc Energia, que comercializa energia elétrica e presta assessoria às empresas que desejam entrar no mercado livre, também computa números que ratificam a tendência de o mercado buscar novas formas de aquisição. O número de clientes com o consumo de energia gerido pela Comerc dobrou entre 2015 e 2016, ultrapassando 500 companhias, dos mais diferentes setores.
Na opinião do presidente da Abiaf, Luiz Aires, o mercado livre é vantajoso atualmente, pois, devido à recessão econômica, sobra energia para ser comercializada. “Não sabemos se daqui dois ou três anos haverá essa sobra. Para valer a pena essa compra, o cenário econômico deve estar mais linear, para ter previsibilidade de consumo e as empresas poderem planejar e negociar a compra da energia”, comenta.
Os operadores também fazem avaliam que, atualmente, trata-se de um bom negócio. Fonseca destaca que o mercado livre chega para equilibrar a equação entre preço de aquisição e custo da energia. Segundo o CEO da Friozem, apesar de o movimento já existir há alguns anos, a conta para o segmento logístico de frigorificados ainda não fechava. Contudo, o aumento das tarifas verificado principalmente em 2015 que, segundo o executivo, chegou a 100% no estado de São Paulo e ficou entre 70% e 80% em algumas regiões do Nordeste, fez com que a busca por alternativas fosse acelerada. De acordo com ele, anteriormente apenas os grandes consumidores, como usinas, companhias cimenteiras e siderúrgicas recorriam ao livre mercado de energia. Hoje, porém, os consumidores médios, como os operadores frigorificados, começaram a migrar.
Membro do Conselho de Desenvolvimento da Cefri, Roberto Fantoni compartilha da visão de Fonseca. “O mercado livre de energia é extremamente regulado e até pouco tempo destinado a grandes consumidores, acima de 3 mil kVA (kilovoltampere) de demanda”. Segundo ele, o governo federal vem baixando essa exigência, pois a intenção é que muitos setores migrem para o mercado livre. A Cefri acompanha o cenário há cerca de dez anos e, por ser considerada cliente especial, não pode adquirir energia de grandes geradores, e sim de fontes incentivadas. “Pelo fato dessa geração ser mais cara, temos um desconto no custo de transmissão, que varia de acordo com o porte da empresa, que no nosso caso é de 50%”, diz.
Fantoni revela que a energia incentivada, sempre que comparada com o custo do mercado cativo, não se mostrava economicamente viável, mas isso mudou. “Como a atividade econômica caiu, há sobra de energia, e o mercado livre funciona como uma bolsa de valores de commodities. Quando se precisa de energia, é só ir ao mercado e comprar, com o preço sendo o equilíbrio entre a demanda e a oferta. Ele já chegou a ser de R$ 800 por MWh (megawatt-hora), e hoje está em R$ 80 o MWh”, destaca.
Exigências e obrigações
Antes de iniciar a compra de energia no mercado livre, porém, uma série de aspectos deve ser observada. É preciso ser associado da CCEE, por exemplo. Para tanto, a empresa deve realizar sua habilitação comercial, que envolve a documentação, e técnica, com a adequação do sistema de medição e cadastro de carga. Depois de virar associado, é necessário cumprir com algumas obrigações, regras e procedimentos junto ao mercado, além de garantir a compra de 100% de sua carga.
É preciso ainda identificar os requisitos que o irão defini-lo como consumidor especial ou livre. O especial deve possuir uma demanda contratada maior ou igual a 500 kW, tensão mínima de 2,3 kV e adquirir energia de fontes incentivadas. Já para o consumidor livre, cada planta consumidora deve apresentar demanda contratada a partir de 3.000 kW e tensão mínima de 69 kV, para data de conexão elétrica anterior a julho de 1995, ou em qualquer tensão para ligações depois de julho de 1995. Vale reforçar que o consumidor livre pode contratar tanto a energia convencional quanto a incentivada.
O gerente executivo de Monitoramento, Gestão de Penalidades e Informações da CCEE, Carlos Dornellas, aconselha que o interessado busque no mercado empresas especializadas que prestem suporte à tomada de decisão e auxiliem na adequação da companhia às demandas do mercado livre. Além disso, salienta, é preciso prestar atenção aos procedimentos que regem o funcionamento da CCEE, como pagar na data correta a contribuição associativa e honrar possíveis diferenças de energia adquirida no mercado de curto prazo.
Outro ponto que os operadores logísticos devem observar ao migrar para o mercado livre está relacionado à gestão operacional. De maneira geral, nas empresas menores a administração da questão energética está vinculada às áreas de Logística ou de Suprimentos, que nem sempre têm conhecimento específico. “Quando não se conhece os procedimentos, é muito provável que existam erros de gestão operacional e mau funcionamento do sistema da CCEE, que contém todas as informações relativas aos negócios feitos no mercado”, frisa Dornellas.
Ele relata que o mau gerenciamento das operações no mercado livre ou a desobediência das regras estabelecidas pela CCEE gera uma série de penalidades. De acordo com o gerente, depois de uma segunda ocorrência, a câmara pode até mesmo abrir um processo de desligamento do provedor logístico da entidade, ficando, desta forma, impossibilitado de operar no mercado livre, sendo obrigado a voltar para o mercado cativo.
Passo a passo
Para o presidente da Comerc Energia, Cristopher Vlavianos, os operadores frigorificados não sofrem muitos percalços e têm uma certa vantagem sobre a indústria de uma forma geral. Isso porque os players do setor possuem uma sazonalidade bem definida e, com isso, têm uma melhor previsibilidade de consumo. “Não há uma oscilação tão grande quando comparamos com outras atividades, como a indústria automobilística e a siderúrgica”, cita.
Mas Vlavianos enfatiza que é importante os operadores prestarem atenção a alguns pontos, como definir um bom gestor. “Esse agente fará a estratégia de migração, vai avaliar o mercado, estabelecer o melhor momento e o prazo para contratação, calcular os índices de reajustes e identificar quem são os ofertantes”, pontua. Além disso, ele completa que o gestor realizará um trabalho constante de avaliação das estratégias.
Para isso, porém, é preciso seguir alguns passos. O primeiro é saber se a empresa é elegível e tem potencialidade para migrar para o mercado livre. “Os primeiros dados que buscamos nos clientes para fazer a análise da viabilidade para que ele comece a operar no mercado livre são sobre seu perfil de consumo e o contrato de fornecimento vigente com a distribuidora”, resume Vlavianos. Se a empresa for elegível e possuir potencial, é hora de avaliar os benefícios da migração.
Segundo o presidente da Comerc, entrando no mercado livre o consumidor tem três grandes ganhos. O primeiro é a redução média de 30% no custo com energia, obtida pela negociação com geradoras e comercializadoras. Outro ganho é a previsibilidade do orçamento, pois, nesse mercado, o consumidor assina um contrato que determina qual será o preço pago pela energia, o prazo e o índice de reajuste. E o terceiro benefício é a oportunidade de escolher qual tipo de energia comprar, incluindo as fontes renováveis incentivadas pelo governo.
Com a decisão tomada, o próximo passo é avisar a distribuidora a respeito da intenção de migrar para o mercado livre. Esse processo é conhecido no mercado como denúncia. A distribuidora de energia receberá a carta solicitando o encerramento do seu contrato atual para que possa ser feita a migração para o mercado livre. Ela terá seis meses para concluir os processos burocráticos e finalizar o vínculo contratual.
Uma vez definido o mês de migração para o mercado livre, é imediatamente iniciado o processo de adesão ao CCEE. Nesse momento, já será possível negociar o custo de compra da energia diretamente com um gerador ou com uma comercializadora, geralmente com o auxílio de uma empresa especializada, responsável por analisar as condições mercadológicas e assessorar a tomada de decisão. Haverá a assinatura do contrato de compra e venda de energia elétrica e a apresentação da respectiva garantia financeira. Nessa etapa, o provedor também irá assinar contratos específicos para a conexão e o uso dos serviços de transmissão e distribuição, que fazem o transporte da energia entre o gerador e o consumidor. Ao contrário da compra de energia, os preços desses outros serviços não podem ser negociados livremente e permanecem com tarifas reguladas pela Aneel.
Com a parte burocrática em ordem, é necessário providenciar as adequações físicas no local do consumo da energia. A primeira medida é contratar uma empresa credenciada pela distribuidora de energia local para fazer a adequação do Sistema de Medição de Faturamento (SMF), que vai registrar o consumo da empresa. Outra medida será a instalação de um aparelho de telemetria para o acompanhamento da medição por seu gestor de energia. Isso é necessário, pois a CCEE precisa receber diretamente os dados de consumo para contabilizá-los sem que haja a necessidade da medição pela distribuidora. “O investimento nas adequações é de R$ 15 mil”, calcula o presidente da Comerc.
Segundo Vlavianos, é importante notar que o montante de energia inicialmente contratado no mercado livre segue uma estimativa de consumo mensal da empresa. Na apuração mensal, eventuais sobras ou faltas pontuais de energia poderão ser negociadas no mercado à vista.
O executivo diz que no mercado livre os consumidores podem negociar o preço da energia diretamente com os geradores e comercializadores em contratos com prazos e índices de reajuste definidos. “Isso permite que os consumidores deixem de lidar com os altos custos do mercado regulado, que são inegociáveis e oscilam mensalmente de acordo com as bandeiras tarifárias e anualmente com os reajustes das distribuidoras. O mercado livre proporciona previsibilidade orçamentária e economia para os consumidores de energia. Hoje, é possível obter redução média de 30% no custo total da energia”, afirma.
A experiência nas operações frigorificadas
Algumas companhias logísticas da cadeia do frio identificaram as vantagens e já aplicam ou estão em processo de adoção da energia adquirida no mercado livre.
Na Friozem, a modalidade é utilizada há três anos na unidade instalada de Fortaleza, que conta com 53 mil m³, e no último mês de junho foi empregada nas unidades de Jandira (SP), com 139 mil m³, e São Bernardo do Campo (SP), que possui 68 mil m³. “Esse mercado oscila muito, então, se conseguirmos uma economia média no preço entre 10% e 15%, já vale a pena”, define Fonseca. O contrato estabelecido pela Friozem foi de três anos. Nas demais estruturas da empresa – Araraquara (SP), Belo Horizonte e Recife, assim como na filial de Salvador, prevista para ser inaugurada no mês de janeiro do próximo ano – ainda não há previsão de migrar para o mercado livre.
Isso faz com que a Friozem opere com dois contratos de energia, um junto às concessionárias e outro com as comercializadoras ou pequenas usinas de geração de energia. “Com isso, conseguimos ter melhores negociações. Isso também é interessante, pois permite que as empresas escolham seu modelo de aquisição de energia, se adequando de acordo com sua política interna”, resume o CEO.
A Cefri, que passa a utilizar energia do mercado livre no mês de agosto em sua unidade de 100 mil m³ localizada em Mairinque (SP), levou em consideração três variáveis. “Fixamos um montante de energia, um período e uma flexibilidade”, relata Fantoni. Ele explica que a companhia contratou 80% da previsão pelos próximos três anos, pois o acordo com a fornecedora estabelece também uma faixa de variação. “Nós estamos trabalhando com uma previsão de -20% de consumo, que é nosso limite de variação para baixo. Mas temos um contrato firmado e caso haja necessidade a companhia que nos vende fornece energia, podendo chegar a 100% de nossa demanda”, explica. Por conta dos preços contratados, a previsão é reduzir o custo de aquisição de energia na Cefri entre 30% e 35%.
O diretor-superintendente da Cefri, Luís Martinez, faz um lembrete quanto à previsibilidade. “É preciso levar em consideração as nuances inerentes à atividade dos operadores logísticos frigorificados, como a reversão constante das câmaras, processo que consome energia, no momento de analisar e fechar o contrato de aquisição no mercado livre”, ressalta.
Já a Bomfrio definiu um modelo diferenciado de negociação. Segundo o diretor-geral, José Roberto de Carvalho Moreira Leite, geralmente as empresas procuram agentes para intermediar essa compra. “Nós consultamos algumas empresas, mas adotamos a estratégia de negociar junto aos concessionários de energia, que também possuem um segmento Comercial para vender energia no mercado livre”, diz. De acordo com o executivo, a companhia recebeu consultoria e foi informada sobre o que deveria ser evitado e quais cautelas deveria tomar. “Para mim, não faz sentido ter um agente para intermediar, pois essa figura cobra um percentual sobre aquilo que conseguir de redução no preço da energia”, diz.
A estratégia de adoção já foi iniciada. “Começamos os tramites consultando algumas companhias. Ao todo, estamos negociando o fornecimento de energia no mercado livre com seis empresas para avaliar qual oferece as melhores condições”, revela. A meta é aplicar o modelo até o final do ano, por um período de três anos, em uma das unidades do provedor na cidade de Chapecó (SC), que conta com 80 mil m³. O prazo foi estabelecido uma vez que este é o período de encerramento do contrato de fornecimento de energia para esta filial junto ao mercado cativo. “Esperamos uma redução de 50% no valor de compra da energia”, calcula.
Nas demais unidades – outra em Chapecó, uma em Irani (SC) e duas no estado do Rio de Janeiro, sendo uma na capital fluminense, no bairro da Pavuna, e outra no município de São Gonçalo – a compra de energia será empregada de maneira gradual à medida em que os contratos no mercado cativo sejam encerrados.
Automação e sistemas a serviço da economia
Em paralelo à aquisição de energia no mercado livre, os operadores logísticos frigorificados também voltam sua atenção aos processos internos, para garantir que a equação preço da energia versus consumo energético seja equilibrado. Investimentos em automação e na troca de sistemas obsoletos deixam de ser ações pontuais e começam a fazer parte do dia a dia das companhias.
Fonseca garante que os provedores estão buscando cada vez mais eficiência a fim de reduzir o consumo de energia. Desta forma os investimentos em máquinas de frio mais modernas, na automação da sala de máquinas ou simplesmente na troca de lâmpadas e instalação de portas automáticas são cada vez mais frequentes.
Na Friozem, R$ 300 mil foram aplicados e mais R$ 200 mil estão previstos para a compra de lâmpadas led. Com relação à automação, já foram destinados R$ 250 mil, mas ainda há cerca de R$ 800 mil orçados e que serão divididos entre todas as unidades para que elas operem de forma automática. Não há prazo para a conclusão dos investimentos, que serão feitos de maneira gradual.
Já a Cefri concluiu a automação da casa de máquinas de sua planta em Mairinque. “Operamos, por exemplo, com inversor de frequência em nossos cinco compressores, e isso faz com que eles trabalhem sempre em sua máxima condição de rendimento. Também instalamos sistemas com o objetivo de monitorar toda a instalação, desde a temperatura da câmara até o tempo de abertura de portas. E o desgelo, agora, também é realizado por meio de um sistema totalmente automático”, descreve. Ao todo, a companhia investiu R$ 800 mil em automação.
A troca do sistema de iluminação por lâmpadas led também está em curso. “Já temos uma experiência em uma parte de nossa câmara fria, mas ainda estudamos algumas soluções junto aos fabricantes, pois essas lâmpadas ofuscam a visão, o que pode ser perigoso no momento da movimentação” diz. Ao todo, estas iniciativas contribuíram para uma redução de 20% no consumo de energia da planta.
Na Bomfrio, Leite explica que todas as unidades já são automatizadas e contam com processo de desgelo automático. O trabalho agora consiste na troca, de forma gradativa, do sistema de iluminação, orçado em R$ 100 mil por unidade.
Busca por oportunidades
Ao mesmo tempo em que investem para tornar as operações mais rentáveis, reduzindo custos e automatizando sistemas, os operadores frigorificados vislumbram nichos ainda hoje pouco explorados, como os produtos agrícolas. No Brasil, as movimentações com esses itens são pouco difundidas, não havendo, por este motivo, números para ilustrar.
Mas, globalmente, estima-se que as perdas na indústria de produtos frescos podem variar de 12% a 22%, dependendo da mercadoria, da região e do mercado de destino. No entanto, inovações e melhores práticas estão surgindo na distribuição da cadeia do frio em busca de redução de perdas e mais eficiência.
A Produce Marketing Association (PMA), por exemplo, tem buscado destacar as melhores práticas e inovações em armazenamento, transporte e manipulação de produtos frescos. A meta é estimular discussões e estratégias para superar desafios logísticos em toda a cadeia e obter soluções a fim de prevenir as perdas significativas dos agricultores pela deterioração dos produtos agrícolas.
As ações são impulsionadas principalmente pela crescente necessidade de um sistema eficiente de armazenamento de produtos perecíveis para evitar o desperdício de alimentos. Com isso, os provedores logísticos frigorificados começam a vislumbrar a potencialidade junto aos agricultores. A ideia é oferecer condições cada vez melhores de armazenagem dos produtos perecíveis provenientes do campo, como legumes e frutas, aumentando sua vida útil. No Brasil, os debates e as iniciativas estão apenas começando.
Os números positivos do setor também contribuem para a busca por soluções. A cadeia do frio no mundo todo deverá crescer 13,9 % até 2020, de acordo com um relatório da Zion Research and Consultants. Segundo o estudo, o mercado global de frigorificados foi avaliado em US$ 110,20 bilhões em 2014 e deverá chegar a US$ 271,9 bilhões em 2020.
Fábio Penteado