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Central de Operações para Cadeia de Produto

Uma Aplicação do Supply Chain Management
Por Marcus Vinicius Esperian Delia e Paula Evaristo Arantes em 5 de janeiro de 2015 às 9h01 (atualizado às 9h12)
Marcus Vinicius Esperian Delia
Paula Evaristo Arantes

Resumo 

Com o aumento da complexidade das cadeias de produto, torna-se cada vez mais necessário o controle de seus processos sob a visão holística de Supply Chain Management. O controle das cadeias de produto, através das Centrais de Operações para Cadeias de Produto (COP), possibilita um fluxo confiável de informações e facilita a tomada de decisões, proporcionando ganhos globais. A COP permite a atuação imediata sobre eventos e a elaboração de planejamentos de médio e longo prazos para a melhoria desses processos.

Introdução

 O conceito de Supply Chain Management trouxe uma visão de complexidade e de integração para as cadeias de produto1, que podem ser observadas de maneira completa considerando-se: cadeias de suprimento, plantas de produção e redes de distribuição. As cadeias completas geram maior complexidade no fluxo de informações e trazem a necessidade de melhores modelos de decisão.

Em paralelo, o desenvolvimento atual da tecnologia de informação permite o gerenciamento de todos os agentes da cadeia de produto. Sistemas supervisórios e centrais de monitoramento são utilizados para garantir um fluxo contínuo e confiável de informações da cadeia, além de agilidade na tomada de decisões.

Atualmente, a contínua elevação no nível de complexidade nas cadeias de produto gera incertezas quanto à eficiência das empresas na operação destas cadeias e à melhoria contínua de seus processos. Questiona-se, então, se apenas o uso de sistemas supervisórios e centrais de monitoramento é suficiente para este novo patamar de operação.

Histórico

Desde a revolução industrial e o advento da produção em série, busca-se sistematizar a descrição dos processos através de fluxogramas, indicadores e outras técnicas, de forma a alcançar os resultados desejados. Esta sistematização foi acompanhada da criação de controles que permitissem a observação dos resultados e, num segundo momento, a detecção de eventos que influenciassem esses resultados. Empresas de diversos setores, tais como químico, siderúrgico, metalúrgico e automotivo, entre outros, utilizaram e desenvolveram técnicas para planejamento e controle de seus processos.

Inicialmente, as salas de controle eram compostas por grandes painéis com instrumentos e lâmpadas para a apresentação das informações, introduzindo o conceito de integração de processos. O controle era dividido entre o monitoramento realizado nas salas e a atuação sobre o processo feita localmente junto aos equipamentos, através de botões e alavancas operados manualmente.

Acompanhando o desenvolvimento da tecnologia, os equipamentos foram se modernizando e as salas de controle, também. A supervisão dos processos deixou de ser realizada via painel e atuadores manuais. Os computadores incorporaram estas funções, dispondo os dados numa interface gráfica mais organizada, permitindo o monitoramento e comando remoto do processo, além de possibilitar o armazenamento e a análise dos dados adquiridos. Em meados dos anos 1980, com o crescimento da indústria, surgiram no mercado os primeiros sistemas SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition) para controle de processos de produção.

Central de Operações para Cadeia de Produto

À medida que a complexidade dos processos cresce, aumenta conjuntamente a quantidade de sensores, atuadores, dispositivos de comando, dispositivos de monitoramento e, consequentemente, a quantidade de parâmetros e eventos que o operador precisa interpretar. Neste momento, são introduzidos programas para apoio à decisão, que passam a ser integrados aos SCADA convencionais. Como resultado, eleva-se o grau de automação dos processos de produção na indústria.

Ocorre, na mesma época, o desenvolvimento das centrais de monitoramento, que incorporam os conceitos de SCADA dos sistemas de produção e os aplicam sobre sistemas logísticos. As centrais de monitoramento controlam os veículos, coordenando as atividades de suprimento e distribuição de materiais. Uma aplicação direta são os sistemas TMS (Transportation Management System). Trata-se de um conjunto de softwares que auxilia na execução das atividades relativas à programação de carga, emissão de documentos, rastreabilidade da frota e de produtos, auditoria de fretes, planejamento de rotas, monitoramento de custos e nível de serviço (Marques, Vitor).

Central de Operações para Cadeia de Produto

Desta maneira, no final dos anos 90, existiam sistemas que obtinham bons resultados no controle de processos de produção e processos logísticos. No entanto, estes sistemas operavam de maneira autônoma e geravam informações gerenciais que eram analisadas nos níveis tático e estratégico para a tomada de decisão. Buscou-se, então, a integração desses processos através de centrais de operação.

Central de Operações para Cadeia de Produto

Central de Operação para Cadeia de Produto (COP)

Conceito. Com a possibilidade de controlar todas as etapas que compõem a cadeia de produto, e apropriando-se do conceito de Supply Chain Management (SCM), naturalmente surgiram sistemas que buscavam a integração completa da cadeia de produto. Por outro lado, os cenários de operação cada vez mais complexos, com mais agentes inseridos nos elos da cadeia, trouxeram a justificativa adequada para viabilizar a criação de centrais de operação, sempre visando alcançar melhor performance com custos decrescentes.

O Supply Chain Management abrange todas as atividades relacionadas com o fluxo e com a transformação de mercadorias desde o estágio da matéria-prima (extração) até o usuário final, bem como os respectivos fluxos de informação. Materiais e informações fluem tanto para baixo quanto para cima na cadeia de produto (Ballou, Ronald, 2004).

Nesse sentido, pode-se definir central de operação para a cadeia de produto (COP) como um sistema que se apropria de informações do processo de produção e do processo logístico e que combina parâmetros e eventos que direcionam as decisões para o ótimo global da cadeia, independentemente dos ótimos locais. A central de operação para a cadeia possui características claras que a distinguem, tais como:

• Atua em três níveis: operacional, tático e estratégico;

• Controla os processos de produção e de logística da cadeia de produto;

• Estabelece um modelo de decisão onde os elos da cadeia de produto estão integrados.

Central de Operações para Cadeia de Produto

Ao controlar processos integrados, espera-se que a gestão seja realizada através de um ciclo de planejamento, execução e controle (PDCA). Este ciclo irá alimentar soluções que serão aplicadas aos diferentes elos da cadeia nos níveis operacional, tático e estratégico. As decisões operacionais estarão voltadas para correções de eventos que afetam o planejamento de curto prazo da cadeia, em um ou mais processos. No nível tático, espera-se a atuação sobre eventos repetitivos com causas estruturais no processo, o que levará a soluções de médio prazo envolvendo a performance dos elos da cadeia, atendimento de demanda e investimentos. Para atuar no nível estratégico, os gestores estarão avaliando a própria composição da cadeia de produto, através da inclusão e substituição de processos completos de produção ou logísticos.

A COP deve utilizar sistemas de apoio à decisão que proponham alternativas para a otimização do resultado global da cadeia, considerando a integração dos vários processos de produção e logísticos. Este modelo de decisão deve permitir cálculos agregados de custo e de prazo de entrega, além da expectativa da qualidade final do produto. Cenários gerados deverão ser analisados por um grupo de operação capaz de avaliar a criticidade de eventos e impactos sobre toda a cadeia.

Implementação

A implementação de COPs exige das empresas um elevado grau de planejamento e controle dos processos em sua cadeia de produto. Esta é uma condição inicial para se buscar a integração através de uma COP. Satisfeita esta condição, existem três fatores críticos na implementação:

• Arquitetura de informações e tecnologia;

• Seleção e qualificação das pessoas para operação;

• Estrutura organizacional.

Central de Operações para Cadeia de Produto

O planejamento da arquitetura das informações será realizado a partir da estrutura da própria cadeia de produto. Definidos os processos que compõem a cadeia e suas relações, é necessário determinar quais serão os parâmetros e eventos a serem utilizados na COP, sendo “parâmetros” aqueles valores necessários para os cálculos de resultados e cenários, e “eventos” aquelas ocorrências que geram impacto sobre toda a cadeia. Uma metodologia para definição destas informações está baseada em matrizes que avaliam gravidade, tendência e grau de tolerância.

A arquitetura de informações está sujeita, ainda, a desafios tecnológicos: a integração de sistemas que não possuem padrões comuns de dados e a qualidade dos dados extraídos. A integração dos sistemas é abordada através de soluções de interface com padrões de comunicação adequados para o envio de dados aos sistemas de gestão da informação na COP. No caso da qualidade da informação, há dois pontos principais: a apropriação de valores distintos para o mesmo parâmetro em diferentes sistemas e a transparência dos critérios para geração de valores e eventos. A solução destes pontos passa pelo próprio desenho da matriz de informação, ou seja, na seleção dos dados e fontes a serem utilizados na COP.

A seleção e o treinamento de pessoas que irão operar a COP devem ter como critérios: o conhecimento técnico da cadeia de produto, o conhecimento em gestão de processos (planejamento, execução e controle), e a habilidade em trabalhar em grupo. A qualificação deve ser no sentido de formar uma equipe que possa gerir a cadeia completa, conhecendo os processos integrados, em lugar de tentar somar o conhecimento de especialistas em cada um dos processos. Esta qualificação pode ser alavancada com a participação na equipe de futuros operadores no planejamento da arquitetura de informações.

A estrutura organizacional na COP deve ter como característica o uso de grupos horizontais para permitir a agilidade na comunicação e o compartilhamento de decisões e responsabilidades. Dentro da estrutura, devem estar previstos os seguintes grupos:

• Operação, que irá lidar com os parâmetros e eventos monitorados e será responsável pelas ações corretivas nos processos. Este grupo possui interface direta com os gestores dos processos que compõem a cadeia do produto;

• Planejamento operacional, que irá interpretar performance, qualidade e o atendimento à demanda por meio de dados gerenciais, de forma a realizar ações estruturais sobre a cadeia. Este grupo possui interface com áreas como compras, vendas, marketing e finanças, através de processos estruturados de S&OP (Sales and Operations Planning), além da própria operação. É importante ressaltar que, na composição deste grupo, devem estar previstas as pessoas que irão atualizar a estrutura da COP, em função de melhorias nos processos que compõem a cadeia de produto;

• Planejamento estratégico, que irá buscar alternativas entre os componentes da cadeia de produto para o atendimento da estratégia da empresa. A interface deste grupo é clara com os níveis de decisão da alta gerência.

Para que a implementação da COP seja facilitada, deve ser prevista uma etapa de educação das pessoas para mudança, que não deverá ser subestimada. A integração dos diversos processos da cadeia influenciará na criação de um novo traço na cultura da empresa. O desenvolvimento desta nova cultura deve ser iniciado antes da implementação e sua consolidação irá ocorrer durante o processo de estabilização da operação da COP.

Central de Operações para Cadeia de Produto

Benefícios

Com o conceito de controle integrado da cadeia de produto, a COP traz benefícios para os diversos agentes da cadeia. Com ações imediatas sobre eventos ocorridos durante o monitoramento dos processos é possível visualizar ganhos em nível de serviço e produtividade no curto prazo. Sob esta ótica, é possível também mitigar ou até evitar acidentes com o monitoramento on time.

Através da COP se tem uma maior visibilidade de toda a operação, o que permite, por meio de análises mais amplas, a identificação de gargalos e problemas processuais. Com os planejamentos tático e estratégico, essas análises tornam-se insumos para uma revisão de processos e atividades que traz melhorias significativas para a operação. Com essa identificação de possíveis pontos de melhorias com a atuação sobre processos ao invés de eventos, é possível minimizar tempos operacionais e, consequentemente, reduzir custos para a empresa.

Central de Operações para Cadeia de Produto

Conclusão

A complexidade das operações e a aplicação dos conceitos de SCM tornaram o modelo de Central de Operações para Cadeia de Produto (COP) bastante atrativo; porém, a dificuldade de implementação dessas centrais acaba gerando soluções parciais, com resultados também parciais. A decisão mais adequada para a construção deste modelo na empresa é a de realizar uma implementação em etapas, buscando o uso de sistemas SCADA e centrais de monitoramento como uma preparação para a integração gradativa dos processos na COP. A maturidade deste modelo passa pelo desenvolvimento de pessoas e de tecnologia dentro das empresas, tornando-se efetivamente um processo de mudança cultural.

Referências Bibliográficas

BALLOU, RONALD H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos/Logística Empresarial. 5ª ed. Porto Alegre: Bookman, p. 28, 2004.

FLEURY, AFONSO C.C.; FLEURY, MARIA TEREZA LEME. Estratégias competitivas e competências essenciais: perspectivas para a internacionalização da indústria no Brasil. Gestão & Produção, v.10, nº 2, pp. 129-144, Ago. 2003.

GOHN, MAURÍCIO. SCADA-Sistema supervisório. A importância da Tecnologia da Informação na Logística Integrada. Universidade Estácio de Sá, Setembro 2006.

JÚNIOR, ARMANDO N.C.M.; DE MOURA, DANIELLE COSTA; RODRIGUEZ, CARLOS TABOADA. Estrutura Organizacional e Controle das Operações Logísticas. Universidade Federal de Santa Catarina. Ano???

MARQUES, VITOR .Utilizando o TMS (Transportation Management System) para uma gestão eficaz de transportes. COPPEAD/Centro de Estudos em Logística, Abril 2002.

ZAMPRONHA, ROGÉRIO. A evolução dos sistemas supervisórios. Disponível em: http://www.softbrasil.com.br/site/novidade/artigos/117/, acesso em março 2011.

Marcus Vinicius Esperian D’Elia Gerente de Projetos do Instituto de Logística e Supply Chain – ILOS marcus.delia@ilos.com.br

Paula Evaristo Arantes paula.arantes@ilos.com.br Tel: (21) 3445-3000

 1 – Cadeias de produto: sequência de processos de movimentação e transformação da matéria-prima em produto até o consumidor final 
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