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Resíduos são mal aproveitados. Saiba por quê.

Por Paulo Roberto Leite em 14 de março de 2022 às 9h00 (atualizado às 10h55)
Paulo Roberto Leite

Produtos com ciclo de vida cada vez menores e com consumo crescendo 3 (três) vezes mais rápido que a população, geram equivalentes crescimento de resíduos descartados (definidos como produtos e materiais em condições de reaproveitamento).

No ano de 2000 o prof. Leite (2003,2009,2017) definiu o “Modelo Geral de Cadeias Reversas” incluindo 4 (quatro) condições essenciais e interdependentes para que os resíduos descartados pela sociedade sejam reaproveitados, de forma eficiente e em quantidades adequadas. Este reaproveitamento se dará através de sua reutilização (reuso) ou pela sua transformação em processos de remanufatura, reciclagem industrial, entre outros, transformando-os para novas utilizações.

Para se ter taxas de retorno adequadas destes resíduos e um fluxo físico compatível com as quantidades descartadas as condições preconizadas devem ocorrer simultaneamente.

Salientando a interdependência entre elas, a sua divisão didática pode ser assim entendida:

1ª condição: Mercado para o produto reaproveitado

Por mais evidente que possa parecer é uma condição essencial para dar escoamento ao fluxo do resíduo reaproveitado. Resíduos constituídos por metais ou outros materiais de alto valor agregado facilitam a geração de mercado e de cadeias reversas espontaneamente.

No entanto, para a maior parte dos resíduos sólidos o seu valor agregado não apresenta condições espontâneas de formação de mercado, tornando-os escassos e insuficientes para a absorção das quantidades de descartados.

Esta dificuldade se deve, em grande parte, à qualidade do material, à falta de frequência de fornecimento para reaproveitamento, além da existência de preconceitos ao seu uso por empresas e pelo cidadão, entre outros motivos.

Certamente estes obstáculos poderiam ser atenuados nos processos de reaproveitamento pela adoção de certificação de qualidade, participação de empresas fabricantes desses produtos nos processos de reaproveitamento, desenvolvimento de escala maior de atividade empresarial de reaproveitamento, entre outros. É necessário romper o círculo vicioso destes sistemas!

2ª condição: Rentabilidade em todas as fases do retorno

Desde a coleta do resíduo até sua venda como produto ou material reaproveitado é necessário que haja lucro para cada participante da cadeia reversa, coletor, armazenador e processador inicial, transportador, utilizador final, etc., sem o que, evidentemente, esta cadeia reversa não se formará de forma eficiente.

A lucratividade da cadeia reversa é dada pelo valor de compra que o utilizador final oferece ao resíduo, que permitirá ou não o lucro de cada um dos participantes da cadeia reversa. Observe-se que é o lucro na reutilização do resíduo reaproveitado que garantirá o lucro de toda a cadeia reversa. 

Quando a rentabilidade em cada fase não é espontânea como vimos em metais e outros, a cadeia reverá precisa ser subsidiada, total ou parcialmente, para sua efetividade.

3ª condição: Tecnologia acessível nas fases e no reaproveitamento

As condições tecnológicas nas diversas fases do retorno poderão sugerir maior ou menor atratividade econômica, mas é a existência de tecnologia acessível na fase de  reaproveitamento que  garantirá a economia necessária ao fluxo na cadeia reversa.

Assim, sem uma tecnologia adequada, acessível economicamente para a região e com adequada escala de atividade capaz de absorver as quantidades captadas pelas etapas precedentes, será difícil completar a cadeia reversa com taxas de reaproveitamento aceitáveis.

A transformação de remanufatura ou reciclagem requerem, em alguns casos tecnologias sofisticadas, que tornam menos acessível economicamente seus processos, contribuindo para a dificuldade do reaproveitamento.

Em muitos casos a tecnologia é de fácil acesso, porém a falta de condições de logísticas impedem o acesso a quantidades de descartados adequadas para atividades empresariais eficientes.

4ª condição: Logística Reversa organizada

Significa ter sistemas de coletas, transportes e armazenagens intermediários que garantam o fluxo dos resíduos de retorno. Estas operações exigem escala de atividade e sistemas logísticos adequadas que justifiquem os custos e permitam complementar a 3ª condição de lucratividade.

Os transportes em todas as fases do retorno dos descartados, embora não seja o único elemento desta organização, certamente é o de maior custo. A organização da Logística Reversa exige a coleta em locais normalmente dispersos, instalação de locais de consolidação, processamentos e armazenagem dos descartados, seleção ou triagem para a devida destinação.

Constata-se, portanto, que salvo as exceções citadas a maior parte dos resíduos não satisfazem a estas condições. Torna-se, portanto, obrigatória que legislações sejam editadas no sentido se adequar estes 4 aspectos importantes para que as cadeias reversas se completem.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), editada no ano de 2010 no Brasil, solicita a fabricantes e comerciantes organizar o sistema de Logística Reversa de seus resíduos descartados, possibilitando maior eficiência nas cadeias reversas e garantindo menor poluição ao meio ambiente.

Tendo em vista que se observa cada vez mais o aumento das quantidades de resíduos a serem reaproveitadas sem soluções que acompanhem esse crescimento é necessária uma mudança radical pelo menos em duas frentes:

1. Maior empenho das empresas das cadeias produtivas: fabricantes, distribuidores e varejistas. 

2. Legislações mais efetivas para as áreas de reaproveitamento de resíduos, tais como: incentivos fiscais nas transações, fomento ao investimento incentivando novas empresas, ou os próprias fabricantes se interessarem pelo reaproveitamento com sua tecnologia, melhorando a empregabilidade em geral. 

 Resíduos são mal aproveitados. Saiba por quê.
Paulo Roberto Leite, presidente do Conselho de Logística Reversa do Brasil (CLRB)
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