O crescimento acelerado e desorganizado das organizações, a grande necessidade de produtividade e eficácia por resultados, o dinamismo mercadológico e a alta competitividade foram fatores que contribuíram diretamente para as atuais demandas de mercado, gerando reflexos em diversas áreas organizacionais, sobretudo nos processos logísticos das organizações.
Em função desse contexto torna-se necessário um controle ainda maior dos processos logísticos a fim de garantir a eficácia das operações. E nessa proposta o Modelo Scor (Supply Chain Operations Reference – Referência das Operações da Cadeia de Suprimentos) e a metodologia fulfillment começam a ganhar destaque na gestão das operações logísticas. Mas cabe um questionamento: é possível integrar essas metodologias ao processo de logística reversa?
Ao realizar uma pesquisa de caráter exploratório na empresa Alfa, foi possível demonstrar que essa integração é possível, porém é constituída de inúmeros desafios. A empresa Alfa constitui em uma distribuidora de produtos químicos fundada em 1985 e que atualmente trabalha com o Modelo Scor e o fulfillment integrados ao sistema de logística reversa. Os seus principais produtos são ácidos, solventes, álcool, querosene, hipoclorito, hidróxido de sódio e produtos químicos em geral. O processo de logística reversa da empresa opera por meio da coleta de vasilhames para o reaproveitamento ou descarte adequado. Atualmente a empresa atende toda a região de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.
Na proposta desta pesquisa foi entrevistado o gerente de Logística da Alfa, que atua na empresa há 12 anos e está a cinco anos no cargo gerencial. Ele é graduado em Administração, especialista em Gestão Empresarial e há 19 anos trabalha no setor de logística, possuindo grande experiência, o que credibiliza a este processo empírico.
Durante a entrevista foram evidenciados alguns desafios e dificuldades, mostrando o risco de se trabalhar com produtos químicos, a dificuldade de atendimento no prazo das coletas de bombonas junto aos clientes, ocasionado a partir da limitação das frotas, o rigoroso controle diário dos indicadores, o desafio de atender com rapidez e atingir as metas e as perdas geradas no ambiente de trabalho. O relato a seguir evidencia essa proposta: “Trabalhamos com distribuição de produtos químicos e isso requer que os nossos processos estejam integrados à segurança de todos. O nosso desafio é que não podemos falhar. A legislação exige a coleta das bombonas de produtos químicos. Isso requer um desafio logístico imenso. Por algumas vezes não conseguimos realizar as coletas dentro dos prazos. O Scor é uma boa referência para nós, mas requer um controle muito incisivo das práticas. Só nesta perspectiva trabalhamos com dez indicadores que precisam ser acompanhados diariamente."
“Atualmente o nosso maior desafio é atender com rapidez e atingir as metas referentes aos custos operacionais, que muitas vezes são reflexos das perdas. Trabalhamos com a logística reversa de nossas embalagens. Uma embalagem de ácido, por exemplo, não pode ser descartada ao ar livre e em lixeiras convencionais. Temos um planejamento de coleta conforme solicitação dos nossos clientes. Um dos problemas que temos aqui é que por algumas vezes recolhemos as embalagens de solventes e ácidos em nossos clientes e as empresas não coletam essas embalagens também no prazo. Isso além de gerar acúmulo de materiais em nosso depósito, gera também perdas e impacto em novas remessas de coletas. O Scor nos ajuda bastante, mas muitas vezes ficamos reféns dos processos."
Como última proposta de análise o gerente de Logística foi questionado sobre a sua percepção do modelo Scor e da metodologia fulfillment aplicados ao sistema de logística reversa da empresa. Os fragmentos a seguir apresentam essas propostas: “O modelo Scor é uma grande referência para as operações de logística reversa, pois ele nos dá um direcionamento sobre as práticas operacionais que envolvem esse processo. Em seguida temos a metodologia do fulfillment, que nos ajudam e muito nas etapas de entrega e pós-entrega. Na minha percepção a relação entre os modelos é muito nítida. Enquanto o Scor nos dá um direcionamento, o fulfillment nos oferece o controle dos nossos processos associados à logística reversa. Se por um lado precisamos absolver e adaptar as práticas que o Scor nos apresenta, por outro lado precisamos ter indicadores que nos ajudam a mensurar a eficácia do nosso processo de logística reversa. As duas metodologias são complementares. Elas ajudam a empresa a mensurar e a avaliar os seus processos. Confesso que a tarefa não é fácil. É um desafio diário articular as duas ferramentas e extrair informações que nos ajudam na tomada de decisão. Mas confesso que são excelentes ferramentas que nos ajudam muito no dia a dia da empresa."
A partir dos últimos fragmentos supracitados observa-se a relação do modelo Scor e da metodologia fulfillment aplicados ao processo de logística reversa. Evidencia-se que ambos os processos contribuem diretamente para a otimização dos processos na empresa, porém precisa ser aplicado e acompanhado de forma criteriosa para que os resultados sejam satisfatórios. Não basta ter boas referências e indicadores se não houver um acompanhamento eficaz. Esse acompanhamento é fundamental para a veracidade das informações que servirão como base para a tomada de decisões.
A figura acima evidencia a importância da relação entre as três propostas em estudo. A empresa ao adotar o modelo Scor com suas quatro métricas de avaliação (processos, desempenho, melhores práticas e pessoas) e a metodologia fulfillment, com o objetivo de atender aos clientes de forma eficaz em seu processo de logística reversa, consegue gerenciar a sua cadeia de suprimentos com maior eficácia agregando valor para a organização.
A partir da pesquisa foi possível evidenciar a integração entre o Scor e o fulfillment aplicados à logística reversa, porém o desafio é grande e o acompanhamento da rotina a partir da mensuração dos indicadores é fundamental para a gestão e a otimização desses processos. O trabalho não é fácil, requer acima de tudo um verdadeiro compromisso do empresário, que deve estar disposto a envolver toda a equipe e direcionar todo o foco ao cliente final. É fundamental uma cultura de mensuração e a análise de cada ponto da cadeia de valor e distribuição das responsabilidades de forma a agregar valor ao processo.