Os setores de transporte e logística da América do Sul estão adotando cada vez mais iniciativas de transformação digital para dar maior visibilidade às operações de negócios. Assim, eles estão melhorando a eficiência em torno de elementos frequentemente complexos envolvidos com o comércio internacional. No entanto, é preciso fazer mais, e a necessidade de agir é urgente.
De acordo com o Perfil Marítimo e Logístico da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Eclac), que classifica o tráfico portuário, “o volume de carga dentro dos contêineres nos portos da América Latina e do Caribe cresceu 6,1% em 2017”. A Eclac também constatou que o volume total da carga das atividades na América Latina e Caribe em 2017 cresceu mais de 50 milhões de TEUs.
A inovação técnica e a digitalização têm impacto imediato nos transportadores, autoridades portuárias e operadores dos terminais, mas também, em um nível macro, na economia global. O surgimento de tecnologias online, baseadas na nuvem e na tecnologia móvel, permite que as empresas não só conduzam seus negócios sozinhas, como também otimizem a forma como seus negócios são executados pela simplificação da logística, obtendo inteligência organizacional e de mercado, aprimorando relatórios e outras tarefas que exigem muitos dados.
Existem vários catalisadores que impulsionam o surgimento de iniciativas de digitalização nos portos e terminais globais. Por um lado, a logística da cadeia de suprimentos está se tornando cada vez mais complexa, dando origem a uma necessidade de digitalizar fluxo de dados e informações. Como resultado, a análise e a troca de dados tornam-se diferenciais importantes e vantagens competitivas para os portos, providenciando em tempo real visibilidade e controle sobre a carga.
“Transportadores e fornecedores de logística estão usando cada vez mais dados para orientar decisões em tempo real e a longo prazo, e profissionais da cadeia de suprimentos têm que interpretar insights a partir dos menores sinais. Além disso, líderes das cadeias de suprimentos devem entender todos os aspectos dessa cadeia de ponta a ponta e se adaptar à medida que as tecnologias criam novas oportunidades”, de acordo com o 22º Estudo Anual de Logística de Terceiros (3PL), de 2018.
Além disso, as vendas globais de e-commerce estão crescendo exponencialmente entre as frentes B2C e B2B. A Statista, portal de estatística, pesquisa de mercado e inteligência de negócios, estima um aumento três vezes maior na receita online do e-commerce internacional B2C – de U$ 1.3 trilhão em 2014 para U$ 4.5 trilhões em 2021. O portal previu em 2017 que as oportunidades B2B são quase três vezes maiores que as vendas internacionais ao consumidor.
Finalmente, há limitações físicas para o que os terminais podem realizar hoje. De acordo com Turloch Mooney, do Journal of Commerce, uma publicação norte-americana que cobre a cadeia de suprimentos em contêineres, grandes navios de transporte são frequentemente mais largos do que longos, tornando um desafio simplesmente colocar mais guindastes nos terminais. Além disso, Mooney escreveu: “mesmo que os terminais acrescentem guindastes, isso aumentará a intensidade do guindaste e, provavelmente, apenas ‘moverá o volume’ para os portos, portões, hidrovias e estradas do interior cada vez mais congestionadas…”
Uma organização que adotou a digitalização com grande sucesso, fornecendo um modelo viável, é o Porto de Oakland, na Califórnia, Estados Unidos. O porto anunciou seu Portal de Oakland em maio de 2018, com uma plataforma de colaboração digital que agrega informações de remessa para todos os terminais marítimos em um único porto. O Portal é o primeiro desse tipo e fornece um ponto específico de entrada para as operações portuárias, permitindo que proprietários e transportadores de carga, assim como agentes, se beneficiem com uma única janela para obter informações em tempo real sobre suas cargas.
O Portal de Oakland consolida as informações dos quatros terminais marítimos ativos em Oakland, incluindo os horários dos navios, status da carga atualizado e visualizações de câmeras ao vivo dos terminais e vias portuárias. Isso permite que os operadores das cadeias de suprimentos gerenciem melhor o fluxo de comércio, sabendo com uma melhor precisão quando esperar sua carga. Empresas de caminhões, por exemplo, podem saber exatamente quando e onde enviar seus motoristas para buscar os contêineres, e os operadores de terminais marítimos podem se beneficiar de movimentos mais eficientes das cargas dentro e fora dos portos.
“Investir em tecnologia e infraestrutura, como nosso Portal de Oakland, exerce um papel fundamental no fortalecimento do status de comércio global de Oakland”, disse a administradora Marítima sênior de Oakland, Pia Franzese.
Considerado o sétimo porto mais movimentado dos Estados Unidos em volume de carga, o Porto de Oakland está vendo as vantagens da plataforma, que pode fornecer insights e eficiência a toda a cadeia de suprimentos. Os volumes de contêineres no porto também cresceram quase 3% durante os primeiros quatro meses de 2018, e em abril, o porto celebrou seu mês de melhor desempenho para as importações em 90 anos de história.
Conforme demonstrado no Porto de Oakland, autoridades portuárias e operadores de terminais marítimos do mundo inteiro estão implementando soluções digitais para impulsionar a automação de processos e aumentar drasticamente o fluxo de carga em toda a rede de contêineres. Essas ofertas baseadas em dados permitem que os usuários obtenham atualizações seguras em tempo real sobre os contêineres, agendem os serviços dos caminhões e paguem as taxas de terminais, em depósitos e terminais globais.
Em uma indústria global que vale bilhões de dólares, é surpreendente considerar que muitos transportadores, autoridades portuárias e operadores de terminais ainda confiem em tecnologias datadas como planilhas de Excel, telefones fixos e faxes para conduzir a maior parte de seus negócios. Tendo em vista os agentes de grande parte da logística da América do Sul, essas tendências arcaicas, incluindo ainda mais funcionários da cadeia de suprimentos, tornam enorme a oportunidade de melhoria da digitalização.
Com o progresso feito globalmente entre as indústrias de logístIca e transporte e as lentas, mas constantes, incursões sendo feitas em toda a região (especialmente no Panamá e na Colômbia), a América do Sul está em um ponto crítico. Está claro que o potencial é enorme, mas somente se as organizações mudarem em breve, para não correrem o risco de ficar permanentemente para trás.