A logística reversa, em seu sentido mais amplo, engloba as atividades que operacionalizam o retorno dos resíduos de pós-vendas e pós-consumos ao ciclo de negócios das empresas, a fim de assegurar uma recuperação sustentável. O conceito comprova que o desenvolvimento econômico pode andar lado a lado com o desenvolvimento ambiental. As empresas podem, ao mesmo tempo em que geram lucro, adotar práticas sustentáveis que ajudem na preservação do meio ambiente, além de garantir a sustentabilidade social, com respeito à comunidade em que se insere, gerando renda e empregos.
A aplicabilidade da logística reversa no Brasil ainda é vista, em muitos casos, de forma restrita, basicamente como um instrumento para coleta e reciclagem de resíduos visando atender à legislação ambiental. Entretanto, esse processo vai muito além, podendo se tornar um diferencial competitivo e fonte de receita para as companhias.
Uma pesquisa da Invesp, consultoria norte-americana focada em e-commerce, revela que 92% dos consumidores entrevistados não deixariam de comprar de uma determinada empresa para a qual devolveram um produto, desde que o processo de devolução seja simples. Isso mostra que uma logística reversa funcional pode transformar uma experiência potencialmente negativa em oportunidade de fidelização do cliente.
Seguindo essa lógica, nos deparamos com um campo bem mais amplo para o emprego da logística reserva, que circunda três fatores: mercadológico, ambiental e econômico.
O primeiro deles – mercado – abrange os pontos relacionados à diferenciação frente à concorrência. Em alguns ambientes, como o e-commerce, a logística reversa pode ser determinante até mesmo na primeira compra. Segundo o levantamento da Invesp, 67% dos entrevistados pesquisam sobre o processo de devolução antes de efetuar uma compra. Outro dado relevante é da eBit, que mostra que 47% dos compradores diminuíram o consumo online depois de enfrentarem problemas para trocar ou devolver mercadorias. Atentar-se a esses comportamentos é, portanto, estratégico para a retenção e fidelização de clientes.
O segundo fator, a consciência ambiental, passou a ser impulsionada a partir de 2010, quando foi criada a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), um marco no tratamento desse tipo de resíduo no Brasil. A PNRS determina que o cuidado com os materiais sólidos – sejam eles domésticos, industriais, eletroeletrônicos, entre outros – é responsabilidade compartilhada entre poder público, iniciativa privada e cidadãos. A preocupação com o meio ambiente também aparece como fator decisor de compra para os consumidores. Uma pesquisa da Europanel, encomendada pela Unilever, mostra que 85% dos brasileiros têm preferência por produtos fabricados de maneira sustentável.
Já os aspectos econômicos estão ligados aos benefícios financeiros diretos promovidos pela logística reversa. Um bom exemplo é a destinação dada a um produto devolvido pelo consumidor com pouco ou muito tempo de uso. A empresa pode utilizar as peças como matéria-prima para a produção de outro item ou realocar a mercadoria em um mercado secundário. Com o crescimento do e-commerce, lojas virtuais têm se especializado em vender produtos seminovos provenientes da logística reversa.
Além de todos esses pontos, a logística reversa ainda traz às empresas benefícios como a geração de novos negócios na cadeia de produção, redução de custos no processo produtivo e acesso à crescente oferta de linhas de crédito para projetos sustentáveis.
Os desafios
Apesar dos claros benefícios que uma empresa pode ter ao introduzir a logística reversa em sua operação, há ainda desafios a serem superados para se chegar lá. Um dos mais comuns está relacionado ao banco de dados do embarcador. Muitas vezes, a inconsistência ou a falta de informações básicas, como endereço e horário preferencial para efetuar a coleta, prejudica o sucesso da operação e onera sua realização.
Outro entrave está relacionado à documentação fiscal. Para realizar a coleta e o transporte de produtos usados, a empresa de logística necessita da nota fiscal do item quando coletado no cliente final.
Apesar de aparentemente complexa, com uma estratégia adequada e parceiros especializados a logística reversa pode ampliar a rentabilidade dos negócios e agregar valor aos produtos da empresa e à cadeia de suprimentos, além de fidelizar clientes e de posicionar o fabricante para atuar em conformidade com exigências que, cada vez mais, se tornam padrão no mercado.
Referências
Retorno do produto de comércio eletrônico e tendências de dados, Invesp, 2016.
Webshoppers, eBit, 2013.
Propósito de marca: Modismo ou Futuro?, Europanel, 2016.