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Três Pilares da Descarbonização no Transporte

Por Rafael Fanchini em 20 de março de 2025 às 10h50
Rafael Fanchini

A descarbonização do transporte rodoviário de carga deixou de ser uma tendência e se tornou uma necessidade estratégica e urgente para o setor logístico. Avanços regulatórios recentes, como a Lei do Carbono no Brasil (Lei 15.042/2024) e as normas contábeis NBC TDS 1 e 2, demonstram um compromisso crescente com a contabilização e redução das emissões de gases de efeito estufa. Globalmente, a Europa avança com regulações como a Corporate Sustainability Due Diligence Directive (CSDDD) e o Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM), criando barreiras para empresas que não atendem a padrões sustentáveis. Para transportadores, especialmente aqueles que atendem exportadores e cadeias globais, adaptar-se é essencial.

O recado é claro: os embarcadores estão cada vez mais atentos às emissões na cadeia logística. Reduzi-las não é apenas uma questão regulatória, mas também um diferencial competitivo em um mercado que valoriza a sustentabilidade e a inovação.

 

Três Pilares da Descarbonização no Transporte

Existem três pilares complementares que permitem às empresas relacionadas ao transporte avançar na descarbonização:

 

1. Eficiência Operacional

A otimização das operações é o primeiro passo para reduzir emissões. Isso significa que qualquer iniciativa de redução relativa de consumo de combustível no transporte representa descarbonização? Sim! Medidas como planejamento inteligente de rotas, redução de viagens sem carga e treinamento de motoristas para condução eficiente podem diminuir o consumo de combustível em 10% a 15%. O uso de catalisadores, monitoramento de pneus e aditivos também contribuem para esse objetivo.

 

2. Inovação Operacional

Novas abordagens operacionais podem transformar o setor. O uso de veículos bitrem, a colaboração entre empresas para otimizar cargas e a reformulação do modelo tributário para favorecer a eficiência logística são exemplos práticos. A mudança do modelo de cobrança de impostos promovida pela reforma tributária será um fator chave para a inovação operacional, fazendo com que embarcadores priorizem a eficiência logística em vez da tributária. Especialistas estimam que a diminuição do setor de transporte rodoviário de carga resultante dessa mudança pode resultar em redução de 10% do consumo de diesel.

 

3. Substituição Tecnológica

É apenas por meio da substituição de veículos movidos a combustíveis fósseis por veículos movidos a combustíveis renováveis que vamos descarbonizar, de fato, o transporte. Frotas movidas a biogás e biodiesel, hidrogênio verde e combustíveis sintéticos, assim como a eletricidade estão em desenvolvimento, mas ainda enfrentam desafios de escala e de infraestrutura. Parcerias com embarcadores podem acelerar essa transição.

 

O Papel dos Créditos de Carbono

Até que a substituição tecnológica ganhe relevância efetiva na descarbonização, a compensação de emissões por meio de créditos de carbono se torna uma estratégia essencial para mitigar impactos no curto prazo. O crédito de carbono foi criado pela ONU no Protocolo de Kyoto em 1997 com dois objetivos principais sendo 1) elevar a resiliência climática do planeta de forma que tenhamos mais tempo para o desenvolvimento de soluções definitivas, e 2) transferência de recursos financeiros dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, onde estão presentes a grande maioria das florestas preservadas no mundo. Para que não haja dúvidas, a compensação de emissões não representa, em qualquer hipótese, uma solução para os desafios da descarbonização, mas consiste em um instrumento de transição fundamental para esse processo. Dadas as limitações estruturais do setor de transporte rodoviário de carga, a compensação de emissões representa uma alternativa importante para a redução do impacto do setor nas mudanças climáticas.

 

Três Pilares da Descarbonização no Transporte

 

Por trás desses pilares e sustentando o processo como um todo, existe um grupo de competências fundamentais relacionadas à contabilização das emissões. Nenhum progresso real pode ser alcançado sem um ambiente rigoroso de medição, relato e verificação das emissões de gases de efeito estufa. Para os transportadores, monitorar e divulgar suas emissões não são apenas exigências regulatórias, como a Lei do Carbono no Brasil, mas uma demanda indiscutível de grande parte dos embarcadores por dados confiáveis de emissões resultantes dos transportes associados às suas operações.

 

A Força dos Embarcadores e a Nova Dinâmica do Mercado

No setor de transporte rodoviário de carga, os embarcadores representam, cada vez mais, uma força importante para o tema da sustentabilidade ambiental dada a crescente pressão à qual estão submetidos para descarbonizarem suas cadeias de valor. No Reino Unido, por exemplo, o Sistema Nacional de Saúde (NHS) exige desde 2024 que fornecedores com contratos acima de £5 milhões apresentem planos de redução de emissões. É indiscutível que o Brasil vai seguir essa tendência, e grandes embarcadores começam a incluir iniciativas relacionadas a redução de emissões nos critérios de seleção de transportadores. O movimento global Sustainable Procuremente Pledge (Compromisso de Compras Sustentáveis), desde 2024 atuando no Brasil, tem como objetivo principal atuar no fortalecimento de uma postura ambientalmente sustentável para as áreas de compras das empresas.

A partir dessa realidade e considerando que embarcadores distintos requerem demandas de descarbonização distintas, torna-se evidente que a descarbonização das operações de transporte não acontecerá de maneira isolada, muito menos uniforme. Do ponto de vista do transportador, por mais complexo que esse cenário possa parecer, ele representa uma oportunidade muito importante de negociação e coordenação entre embarcador e transportador. E é aqui onde as agendas se encontram, se complementam e se viabilizam. Se por um lado os transportadores têm a responsabilidade e o controle do processo de descarbonização, por outro, os embarcadores têm a necessidade e, consequentemente, a responsabilidade pela sua viabilização financeira. E alguns embarcadores já entenderam esse contexto e já incorporam uma parcela de “prêmio” a contratações de serviços de transporte com o atributo da descarbonização.

 

Oportunidade e Diferenciação Competitiva

Em termos de mercado, dado que a economia como um todo está dando os primeiros passos na jornada da descarbonização, há uma janela de oportunidade para que transportadores abracem essa agenda com o objetivo de (também) alavancarem benefícios comerciais a partir de uma postura que combina compromissos e inovação. Em outras palavras, a descarbonização do transporte rodoviário de carga representa uma oportunidade enorme, como há muito tempo não se via, para transportadores ganharem diferencial competitivo, um atributo estratégico vital para as empresas do setor. E por que esse contexto é vital? A reforma tributária vai alterar o setor de transportes de carga, eliminando operações baseadas em otimização tributária e favorecendo a eficiência logística. Isso significa que todos os transportes voltados para a busca de otimização tributária vão desaparecer. O setor vai diminuir o equilíbrio atual de forças vai mudar em favor dos embarcadores. Diferencial competitivo vai ser um componente chave nas negociações, manutenções e renovações de contratos.

 

Conclusão

A descarbonização do transporte rodoviário de carga está se tornando uma obrigação regulatória e um fator de competitividade. Uma primeira boa notícia é que essas empresas têm, desde já, instrumentos disponíveis para a implementação de ações efetivas de descarbonização das suas frotas. Uma segunda boa notícia é a existência de tecnologia como a desenvolvida pela Verda que permite que tanto essas iniciativas quanto seus resultados possam ser planejados e acompanhados, inclusive com a participação ativa e cooperada dos embarcadores. Aqui estou falando de tecnologia que permite a construção, formalização e acompanhamento de planos de descarbonização entre transportadores e embarcadores, uma prática que está ganhando relevância na gestão responsável da sustentabilidade. 

O setor de transporte de carga representa, aproximadamente, 25% das emissões de gases de efeito estufa relacionada à geração de energia no Brasil e aproximadamente 5% das emissões do país. Com a queda contínua do desmatamento, essa proporção tende a crescer, aumentando a pressão sobre o setor.

A descarbonização da economia brasileira é inevitável. A regulamentação da Lei do Carbono é um sinal claro dessa direção. Para os transportadores, ignorar essa realidade não mudará o curso dos acontecimentos. Pelo contrário, adotar uma postura proativa e inovadora é o caminho para garantir competitividade e sustentabilidade no futuro.

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