O Brasil ocupa o 65º lugar no ranking mundial de logística do Banco Mundial (Bird). Apesar de o relatório não avaliar os avanços ou retrocessos físicos e sim a percepção do empresariado em relação à eficácia da infraestrutura de transporte, é possível identificar o quanto o país não gerencia bem sua malha intermodal. Afinal, mesmo com a diversidade e potencialidade dos modais de transportes, o Brasil restringe 58% de sua logística de cargas ao setor rodoviário.
Por ser um modal mais caro e moroso, muito em parte devido às más condições das estradas brasileiras – embora em 2014 tenha sido registrado uma melhora em relação a 2013, segundo o ranking da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) –, as rodovias não dão conta da grande movimentação de carga de um país com dimensões tão vasta quanto o nosso. À parte disso, a malha intermodal de transporte – portuário, aéreo, ferroviário, entre outros – ainda apresenta gargalos estruturais que tornam o Brasil atrasado em relação às principais potências comerciais do mundo. O resultado é a baixa competitividade da indústria e, consequentemente, um fraco desempenho econômico.
Além das rodovias em situações precárias, o setor de infraestrutura ainda se depara com a burocracia e a administração ineficiente dos portos, o baixo investimento no transporte hidroviário e um setor ferroviário pouco explorado. A falta de um planejamento e uma gestão eficiente aliado ao baixo volume de investimento do sistema logístico são alguns dos fatores que marcam a deficitária infraestrutura nacional em um ambiente macroeconômico, que pode também ser encontrado em toda a cadeia produtiva, desde as pequenas transportadoras até os grandes grupos logísticos que, em seus processos internos, não investem em tecnologia de automatização.
Desde a chegada de uma caixa na transportadora até a entrega da carga em uma empresa há uma série de procedimentos que ainda são manuais e dependem de pessoas para serem conferidos, contabilizados e ou identificados. Muitos destes processos poderiam ser automatizados, destravando os nós do sistema logístico, e configuram um atraso no desenvolvimento dos diferentes modais e na inovação nacional.
Terminais de transbordo e armazenagem, centros de distribuição e terminais de integração são espaços imprescindíveis para a conexão das cadeias produtivas. Mas, para que estes locais atendam as demandas de movimentação, armazenagem e transporte, é essencial a introdução de soluções logísticas automatizadas que resultam em processos dinâmicos, com redução de tempo e erros, ou seja, que tornem os processos operacionais mais inteligentes de ponta a ponta.
Diante deste contexto, a tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID) vem ao encontro desta carência da malha intermodal por se apresentar como uma solução ágil que supre o dinamismo que a logística necessita. Com aplicação crescente nos processos logísticos, desde o mais simples, como o rastreamento de cargas, até os mais complexos, como as grandes operações em terminais logísticos, esta tecnologia consegue otimizar e controlar com precisão as operações.
Com a implementação do RFID nos processos logísticos é possível captar informações sobre determinada carga, como lote, produtos armazenados e validade, traduzindo a informação em questão para sistemas de gestão próprios das empresas. Esta informação posteriormente dará vida aos processos logísticos, reduzindo custos e desperdícios nas operações. Os chips de RFID são acoplados nas cargas, produtos ou qualquer material que precisa ser identificado e, com as antenas de RFID instalados em pontos de controle, é realizada a leitura automática destes itens. A tecnologia pode controlar itens individuais ou contêineres, garantindo que tais materiais sejam contabilizados e identificados automaticamente sem a necessidade de uma pessoa para contar ou conferir item por item e discriminar as qualificações de determinado produto, pois o chip já contém toda a informação do material.
Ao ser identificado por meio dos portais ou leitores portáteis, os dados são enviados aos softwares de gestão da empresa. Isso significa que processos morosos que exigiam a conferência manual de produtos por diversas vezes podem ser otimizados com esta tecnologia, trazendo diversos benefícios de precisão e tempo na realização de tarefas.
O benefício da tecnologia RFID é ainda mais evidente quando tratamos de processos que envolvem grandes volumes de itens movimentados. Em alguns processos a aplicação da tecnologia pode resultar em uma redução de tempo de até 100 vezes e minimizar o custo com mão de obra operacional. Assim, profissionais podem ser designados a outras funções de maior valor agregado, reduzindo custos e alavancando o crescimento da empresa.
Adicionalmente, a tecnologia pode automatizar tarefas, desburocratizando os processos que travam as operações logísticas e resultam em atrasos que refletem em toda a cadeia produtiva dos diversos modais que constituem a infraestrutura de transporte do Brasil.
Neste cenário, investir em tecnologias que possam dar ao conturbado setor logístico mais autonomia e dinamismo se faz extremamente necessário. Esta tecnologia possibilitaria a minimização dos gargalos logísticos de transporte que resultam em alto custo para o país e inibem o interesse internacional, refletindo no baixo crescimento do Brasil. Outro benefício da tecnologia, se aplicada em grande escala, seria possibilitar uma visão integrada da cadeia logística, evidenciando os problemas e possibilitando a tomada de decisões em uma escala mais global no país.
Em seu discurso de posse do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff declarou que o governo federal lançará neste ano o Programa de Investimento em Logística (PIL) 2. O investimento em um sistema de transporte integrado que contemple todos os modais – ferroviário, hidroviário, aéreo e rodoviário – não pode ser estruturado sem modernizar os principais gargalos da infraestrutura de transportes, como o dos terminais portuários, que representam um dos maiores entraves na exportação de cargas. E modernizar significa agregar novas tecnologias que possam automatizar o transporte do grande volume da produção de materiais, reduzindo custos como os R$ 160 bilhões que o Brasil perde por ano devido a problemas logísticos, segundo a Fundação Dom Cabral (FDC).
A tecnologia por radiofrequência pode ser aplicada em diversos processos logísticos, como operações que envolvem conferência de cargas, controle de acesso, rastreabilidade de itens, documentos, medicamentos, cargas perecíveis e recebimento e expedição. Devido à alta tecnologia empregada nos chips, podemos armazenar em sua memória dados relevantes para as operações, como prazos, datas e informações dos produtos ou dos processos. Isso pode minimizar a burocracia documental, por exemplo, em casos em que a liberação poderia ser feita automaticamente em processos de exportação ou importação, pois o sistema poderia fornecer as informações necessárias às exigências burocráticas legais e das diversas agências reguladoras.
Testes realizados demonstram que operações de transporte de cargas para exportação que hoje demoram aproximadamente 46 horas, com o RFID seriam realizadas em cerca de 1h20 a partir da instalação dos chips em contêineres. Assim que o abastecimento da carga é feito no caminhão, toda a informação pertinente à mercadoria estará acoplada no contêiner, o que eliminaria a necessidade de papéis que discriminem o produto. Ao ser feita a leitura da carga por um portal ou leitor, a agência reguladora que fiscaliza e autoriza a exportação da carga recebe as informações e, caso a mercadoria esteja de acordo com as exigências do órgão, é liberada.
Como em tudo que é novo, as reações de desconfiança ainda permeiam a implantação do RFID no país. Há ainda uma falsa informação de que os chips demandariam um alto custo, o que pode ser facilmente desconstruído, já que uma etiqueta logística simples não chega a custar 30 centavos. Porém, com o tempo as empresas conhecerão melhor a tecnologia e saberão que o investimento é baixo, considerando os benefícios que ela traz para os processos. Mais do que isso, as empresas reconhecerão o quanto ela é necessária e revolucionará o setor logístico.
Mario Paiva Prado
Mestre em Ciências da Computação, engenheiro de Computação e CEO da Taggen Sistemas
(19) 3308-3966