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A importância das teorias para profissionais de logística

Por Mauro Sampaio em 1 de agosto de 2024 às 8h00
Mauro Sampaio

Nada é mais prático do que uma boa teoria. Uma teoria é um conjunto de conceitos, definições e proposições interrelacionadas que oferece uma visão sistemática de fenômenos, especificando as relações entre variáveis com o objetivo de explicar e prever esses fenômenos. Em outras palavras, uma teoria proporciona um framework para entender como e por que certos eventos ocorrem e como eles estão interconectados. As teorias utilizam conceitos e definições claras para garantir um entendimento comum entre profissionais do mercado. Elas propõem relações entre diferentes conceitos que podem ser testadas empiricamente, explicando fenômenos conhecidos e ajudando a prever ocorrências futuras.

 

Importância das Teorias para Profissionais de Logística

Para profissionais de logística, as teorias são fundamentais por várias razões. Primeiro, ajudam a entender os fenômenos complexos nas redes de suprimentos e operações logísticas, proporcionando uma base sólida para decisões informadas. Segundo, ao aplicar teorias, os profissionais podem identificar melhores práticas, otimizar processos e implementar estratégias que aumentam a eficiência e a eficácia das operações. Terceiro, as teorias oferecem frameworks que auxiliam na identificação e resolução de problemas, permitindo abordar desafios logísticos de maneira estruturada e sistemática. Além disso, estimulam a inovação ao sugerir novas abordagens e técnicas, permitindo que os profissionais desenvolvam soluções criativas e avançadas. Por fim, com base em teorias bem fundamentadas, os profissionais podem prever tendências e planejar adequadamente para atender às demandas futuras, evitando interrupções e maximizando a eficiência. Quando um profissional de logística não conhece a teoria adequada, pode acabar fazendo alterações inadequadas, comprometendo a eficiência e eficácia das operações.

 

Tipos de Teorias

Existem teorias de diferentes abrangências que se aplicam à logística e gestão da rede de suprimentos. Estas teorias podem ser classificadas como de grande alcance, médio alcance e pequeno alcance, cada uma oferecendo diferentes níveis de generalidade e aplicabilidade.

Teorias de Grande Alcance: As teorias de grande alcance abrangem vastas áreas e são aplicáveis a muitos contextos diferentes. Na logística, um exemplo é a Teoria de Network Design, que explica como configurar redes logísticas, incluindo a localização de centros de distribuição, rotas de transporte e fluxos de materiais para otimizar o desempenho da rede de suprimentos. Esta teoria é especialmente relevante para empresas multinacionais que gerenciam suas redes de distribuição em diferentes países e regiões, buscando otimizar tanto a eficiência operacional quanto a sustentabilidade. 

Diagrama

Descrição gerada automaticamente

Quando um profissional de logística conhece as variáveis que impactam o custo, nível de serviço, riscos e sustentabilidade, ele consegue tomar decisões mais assertivas sobre a localização de centros de distribuição (CD), cross-docking e transit points (TP). Todas essas instalações definem 80% do custo logístico, e uma compreensão profunda dessas variáveis permite decisões mais acertadas e estratégicas, contribuindo para operações mais sustentáveis. De forma semelhante, ao realizar um estudo de malha para um varejista sem considerar estoques, impostos e sustentabilidade, um consultor pode fornecer recomendações incorretas, resultando em custos desnecessários, eficiência operacional comprometida e impacto ambiental negativo.

Teorias de Médio Alcance (MRT): As teorias de médio alcance equilibram especificidade e generalidade, sendo aplicáveis a várias situações, mas ainda testáveis. Um exemplo na logística é a Teoria do Efeito Chicote, que explica como pequenas variações na demanda do consumidor podem causar grandes flutuações nos pedidos ao longo da cadeia de suprimentos. Esta teoria é relevante em várias indústrias que lidam com redes de suprimentos complexas. Por exemplo, sem compreender a Teoria do Efeito Chicote, um gerente pode aumentar os pedidos excessivamente em resposta a uma pequena variação na demanda, exacerbando o problema ao invés de mitigá-lo. Durante uma promoção de vendas, um aumento na demanda dos consumidores leva os varejistas a aumentarem seus pedidos aos distribuidores. Os distribuidores, por sua vez, aumentam ainda mais seus pedidos aos fabricantes, causando flutuações significativas na produção e nos estoques. 

Diagrama

Descrição gerada automaticamente 

A Teoria do Efeito Chicote destaca a importância de uma comunicação eficaz e de estratégias de coordenação ao longo da rede de suprimentos para minimizar esses impactos. Compreender essa teoria permite aos gerentes de logística implementar práticas que suavizam as variações, melhorando a eficiência e a estabilidade da rede de suprimentos.

 

Teorias de Pequeno Alcance: As teorias de pequeno alcance são muito específicas, focando em problemas ou contextos restritos. Um exemplo na logística é a Teoria do Lote Econômico de Pedido (EOQ), que determina a quantidade ideal de pedido que minimiza os custos totais de inventário, incluindo custos de pedido e custos de manutenção de estoque. Esta teoria é específica para a gestão de estoques em qualquer tipo de empresa, independentemente do porte. A Teoria do Lote Econômico de Pedido (EOQ) ajuda as empresas a calcularem a quantidade ideal de produtos a serem pedidos, minimizando os custos associados aos pedidos e à manutenção de estoque. 

Gráfico

Descrição gerada automaticamente com confiança média

 

Por exemplo, uma loja de eletrônicos pode usar a EOQ para determinar a quantidade ideal de componentes a serem pedidos, evitando tanto o excesso de estoque quanto a falta de produtos. Com a aplicação dessa teoria, a loja pode garantir uma gestão de inventário mais eficiente e econômica, atendendo melhor às demandas dos clientes sem incorrer em custos desnecessários.

 

Teoria de Médio Alcance (MRT): Origem e Importância

A Teoria de Médio Alcance (MRT) foi introduzida pelo sociólogo Robert K. Merton na década de 1940. Merton propôs a MRT como uma forma de preencher a lacuna entre as teorias grandiosas e muito abrangentes e as teorias de caso específico, que são extremamente detalhadas e limitadas a contextos muito específicos. As MRTs são suficientemente gerais para serem aplicáveis a várias situações, mas específicas o suficiente para serem testáveis empiricamente. Elas são fundamentadas em dados empíricos e observações diretas, permitindo testes e validações contínuas. As MRTs são úteis na resolução de problemas práticos e reais e podem ser ajustadas e refinadas à medida que novos dados e insights são obtidos, tornando-as dinâmicas. A importância das MRTs está na sua praticidade, pois são diretamente relevantes para resolver problemas práticos, fornecendo soluções que podem ser implementadas no mundo real. Por serem baseadas em dados empíricos, as MRTs podem ser testadas e refinadas com base em evidências concretas. Elas ajudam a preencher a lacuna entre teorias grandiosas e estudos de caso específicos, contribuindo para um entendimento mais completo e aplicável dos fenômenos.

 

Considerações Finais

A Teoria de Médio Alcance (MRT) oferece um equilíbrio essencial entre as teorias de grande e pequeno alcance, sendo suficientemente específicas para serem testáveis e suficientemente gerais para serem aplicáveis em múltiplos contextos. Na logística, as MRTs, como a Teoria do Efeito Chicote, fornecem frameworks valiosos para entender e melhorar a eficiência e a eficácia das operações logísticas. Ao comparar com as teorias de grande e pequeno alcance, a MRT se destaca por sua aplicabilidade prática e relevância empírica, contribuindo significativamente para o avanço do conhecimento e das práticas no campo da logística.

 

*Prof. PhD. Mauro Sampaio
Pós-doutorado em Supply Chain Management pelo Fischer College of Business da Ohio State University (OSU-USA) e pela Chalmers University of Technology (CHALMERS-Suécia). Doutor e Mestre em Administração de Empresas pela EAESP/FGV. Engenheiro de Produção-Materiais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 
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